Morreu neste sábado (17), o executivo e dono do SBT, uma das maiores emissoras do Brasil, Silvio Santos, aos 93 anos. A informação foi confirmada pelo SBT nas redes sociais. Ele estava internado na UTI do hospital Albert Einstein, em São Paulo. Em nota divulgada, o hospital particular informou que o apresentador morreu às 4h50 deste sábado, em decorrência de uma broncopneumonia após infecção por influenza (H1N1).
"Hoje o céu está alegre com a chegada do nosso amado Silvio Santos. Ele viveu 93 anos para levar felicidade e amor a todos os brasileiros. A família é muito grata ao Brasil pelos mais de 65 anos de convivência com muita alegria", disse o SBT em nota publicada nas redes sociais.
"Para nós, Senor Abravanel é ainda mais especial e somos muito felizes pelo presente que Deus nos deu e por todos os momentos maravilhosos que tivemos juntos. Aquele sorriso largo e voz tão familiar será para sempre lembrada com muita gratidão. Descansa em paz, que você sempre será eterno em nossos corações."
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De nascença, Senor Abravanel, mais conhecido como Silvio Santos, teve sua história inexoravelmente ligada a pratica da TV brasileira durante muito tempo. Com 93 anos, suas aparições na televisão foram se tornando cada vez mais escassas. Sem se pronunciar oficialmente a respeito da aposentadoria, ele, que por mais de 60 anos foi apresentador na sua própria emissora, estava internado desde o dia 1° de agosto.
Durante sua estadia no hospital, tanto ele quanto outros membros da família Abravanel adotaram uma abordagem de blindagem total. Durante o tempo, não houve comunicados oficiais sobre a saúde do executivo.
Conforme suas aparições em público foram diminuindo, o Programa Silvio Santos passou a ser apresentado por sua filha, Patrícia Abravanel, desde 2022.
Entre Senor Abravanel e Silvio Santos, e de vendedor de Camelô à executivo de emissora, ele teve muitas facetas, homenagens, reconhecimentos e controvérsias. Relembre a história do comunicador.
De Senor Abravanel a Silvio Santos
Nascido no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, cresceu com seus pais Alberto e Rebeca, e com cinco irmãos: Beatriz, Perla, Sara, Léo e Henrique. De acordo com informações do SBT, Silvio começou vendendo capinhas para títulos de eleitor nas ruas do RJ, enquanto frequentava a escola. Assim seguiu até se formar em contabilidade.
Quem o levou pela primeira vez até uma rádio foi o Diretor de Fiscalização do RJ, Renato Meira Lima, ao perceber que Silvio falava bem. Porém, após passar em um concurso de locutor, não ficou satisfeito com o salário da profissão e retornou ao camelô.
O apresentador só voltou aos campos da comunicação quando, no exército, aos 18 anos, atuou na Rádio Mauá. Ao terminar o período do serviço militar, transferiu-se para a Rádio Tupi e, depois, trabalhou na Continental, em Niterói.
Após um tempo na Continental, pediu demissão para investir em um bar, que posteriormente foi fechado, após tentar movê-lo para São Paulo, onde conseguiu seu primeiro trabalho como apresentador de um programa.
Silvio serviu o Exército, aos 18 anos; nas folgas, mediava o trabalho com a locução
SBT/Arquivo/Divulgação/JC
Voltou a exercer efetivamente a profissão na Rádio Nacional em São Paulo, complementando a renda com a venda de uma revista de sua criação, que envolvia passatempos como palavras cruzadas e charadas. Também trabalhou como animador em circos, na "Caravana dos Artistas".
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi neste momento que chamou atenção de Manoel da Nóbrega, pai de Carlos Alberto de Nóbrega, que convidou Sílvio a participar do “Cadeira de barbeiro”, um dos quadros de seu programa na Rádio Nacional.
Ainda na Rádio Nacional, Manoel também foi o responsável por convidar Silvio para apresentar o seu primeiro programa.
Silvio então acabou assumindo a administração de uma das empresas de Nóbrega, o Baú da Felicidade, recebendo-a de presente após resolver a crise pela qual o negócio passava. Silvio seguiu como proprietário da marca até seu falecimento.
Aparições na TV Brasileira
O Programa Silvio Santos iniciou em 1961. Apresentado na TV Paulista - hoje TV Globo de São Paulo -, chamava-se “Vamos Brincar de Forca”.
Seu primeiro troféu imprensa veio logo depois, em 1964, dois anos após ter criado a empresa Publicidade Silvio Santos Ltda. Em 1968 assumiu, na hoje desativada, mas poderosa da época, TV Tupi, o programa que veio a se chamar “Silvio Santos Diferente”.
Em 1971, após mudanças de contrato com a TV Globo, tentou negociar compras de ações na Record, mas não conseguiu. Acabou assinando, junto a Roberto Marinho, 5 anos com a emissora.
O Troféu Imprensa, também neste ano, passou a ser exibido em seu programa, já apelidado com o nome conhecido hoje. Porém, naquela época, era uma sucessão de programas, e não uma única atração de variedades, modelo adotado atualmente.
Criação do SBT
A primeira vez que Silvio tentou uma concessão pública para criação de um canal de televisão foi em 1973, para a faixa do canal 9, TV Continental no Rio e Excelsior em São Paulo. A proposta não foi aceita.
Um ano depois, fundou a Studios Silvio Santos Cinema e Televisão Ltda, situada nos antigos estúdios da TV Excelsior, na Vila Guilherme. Não se tratava de uma emissora de TV, mas Silvio apresentava o próprio programa e fazia comerciais e venda de atrações.
O canal SBT só foi criado em 1975, no canal 11. Dois meses depois da assinatura, em solenidade no dia 22 de dezembro de 1975, começa o canal Studio Silvio Santos Cinema e Televisão Ltda., ou simplesmente TVS, que viria a se tornar o SBT.
Além da TVS, apresentava simultaneamente o Programa Silvio Santos na TV Tupi e na TV Record, em São Paulo
SBT/Arquivo/Divulgação/JC
Em sites institucionais descontinuados, porém, a emissora sugere que o nome SBT só foi surgir depois - em 19 de agosto de 1981. O canal entrou no ar imediatamente, e inaugurou sua programação com a transmissão da assinatura de contrato entre Silvio Santos e o governo federal. A emissora teve rápido crescimento sob a gestão Silvio: 1987 o SBT, segundo levantamento da FGV, o canal já contava com 44 estações de televisão, vindo, rapidamente, a tornar-se a segunda maior rede do país.
Na época, a legislação obrigava que os programas preenchessem 12 horas de programação diária. E para preencher isso, o canal utilizava filmes e desenhos, jornalismo e o Programa do dono da emissora. O
Programa Silvio Santos entrou para o Guinness Book, o livro dos recordes, como o programa mais duradouro da televisão brasileira, que na época completava 31 anos no ar.
Premiações
No portal descontinuado da emissora, Silvio colecionou e entregou prêmios que remontam desde o começo de sua carreira, no rádio, em 1959, até 2009, já como empreendedor. Em 64 ganhou o Troféu Imprensa, como melhor animador. Em 1970, inclusive, começou a ser organizado pelo próprio apresentador, com outros jurados, com uma estatueta idêntica ao Oscar. Antes, foi criado e era apresentado por Plácido Manaia Nunes.
Cerimônia de entrega do Troféu Imprensa, em 1974, apresentado por Silvio
Funarte/Reprodução/JC
Em 97, chegou a ganhar o título de "Imortal do Rádio Paulista" pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Porém, como melhor apresentador, venceu 4 vezes o prêmio Roquette Pinto, já extinto. No Troféu Imprensa, venceu 22 vezes como melhor animador, e uma como melhor apresentador. Além de vários outras premiações de diversas entidades e áreas, incluindo empreendedorismo.
Vida política
O pesquisador Fernando Morgado, que chegou a ser convidado ao programa de Silvio para falar sobre, descreve em sua obra "Silvio Santos, a trajetória do mito", que o apresentador não iria para Política, inicialmente. Manoel da Nóbrega, o qual Silvio adotou como pai, chegou a ser deputado estadual em 1947. Após isso, não quis se reeleger e acabou em uma emissora de pouca audiência, tendo que se recuperar aos poucos até voltar à rádio Nacional. Por isso, dissuadiu Silvio da vida política.
O cenário mudou depois de 1988. Na época, teve de ser afastado por questões de saúde e se isolou em Boston por algumas semanas para procedimentos médicos, quando voltou ao programa show de calouros para responder a perguntas diversas. Havia dito que deixaria as TVs nos anos 90 e, com a agenda livre, faria “algo útil para a comunidade”. Porém, deu a certeza de que não entraria para a política.
Duas semanas depois, Orlando Dorsa, administrador regional de campo limpo, convidou-o para, como prefeito, dar continuidade à gestão de Jânio da Silva Quadros, ex-presidente anterior à ditadura militar e eleito para prefeitura de São Paulo em 1985. Em 4 de março de 88, sua filiação foi oficializada pelo Partido da Frente Liberal (PFL) e em 13 de março, confirmou ao vivo.
Silvio demorou então mais de 3 meses para registrar por escrito que pretendia a candidatura e acabou sendo recusado pelo partido.
Chegou, inclusive, a cogitar a presidência da república do Brasil em 88. Havia sido apontado como favorito, o que levou-o a pensar em se lançar como candidato. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com pesquisas realizadas na época, a candidatura de Silvio Santos atingiu a preferência de cerca de 30% do eleitorado. Porém, com o indeferimento do pedido de registro dos candidatos do PMB, a disputa retornou ao patamar anterior, com a liderança de Fernando Collor na faixa de 30% na preferência, seguido por Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola, ambos com cerca de 15%.
Optou, no lugar, em fazer uma série de especiais em que convidava os candidatos mais cotados após sua saída: Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola.
Cenário perdurou até que o PFL abriu possibilidade de renúncia do candidato lançado, abaixo nas pesquisas, e cotou-o novamente. No fim, o candidato, Aureliano Chaves, acabou não renunciando.
Silvio Santos se filiou ao Partido Municipalista brasileiro (PMB). Mas, durante imbróglios que envolviam as cédulas de votação, impressas antes de sua candidatura com outro nome, menos tempo de TV do que estaria acostumado e promessas vagas e crescimento dos pedidos de impugnação, o dono do SBT deixaria a vida partidária.
O que ocorria é que Silvio, além de político, não podia ser também dono de emissora. Após isso, problemas no PMB fizeram-no ser extinto pelo TSE em 1989.
Exemplar do Jornal do Brasil, em 1989, noticiando a impugnação de Silvio
Homeroteca Digital Brasileira/Biblioteca Nacional/JC
Tentou ainda duas candidaturas: para governador, em São Paulo, pelo Partido Social Trabalhista (PST) e para Prefeito de São Paulo pelo PFL em 92. Na primeira ocasião, desistiu por falta de apoio e, na segunda, foi impedido após o TSE impugnar todas candidaturas em São Paulo.