Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 26 de Julho de 2024 às 18:26

Fechamento de maternidades gaúchas preocupa entidade médica

Entidade também alerta para o fechamento de UTIs neonatais no Estado

Entidade também alerta para o fechamento de UTIs neonatais no Estado

Comunicação Simers/Divulgação/JC
Compartilhe:
Bárbara Lima
Bárbara Lima Repórter
O fechamento de maternidades gaúchas tem preocupado médicos e entidades. De acordo com um comunicado emitido pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), é alarmante o fechamento de centro obstétricos e UTIs neonatais no Estado. "É uma situação que está causando sérios transtornos à população e colocando em risco a saúde de mães e bebês", diz a nota.
O fechamento de maternidades gaúchas tem preocupado médicos e entidades. De acordo com um comunicado emitido pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), é alarmante o fechamento de centro obstétricos e UTIs neonatais no Estado. "É uma situação que está causando sérios transtornos à população e colocando em risco a saúde de mães e bebês", diz a nota.
Conforme Marcelo Sclowitz, diretor da Região Sul do Simers e coordenador do Núcleo de Obstetrícia da entidade médica, o número de maternidades fechadas nos últimos anos não é proporcional a baixa dos nascimentos, embora essa seja uma tendência mundial. A reportagem solicitou o número de maternidades fechadas no período e o número de estruturas atuais à Secretaria Estadual da Saúde, que afirmou que desde 2020, de fato,  há uma redução no número de estabelecimentos com maternidades, no SUS e no privado.

No que diz respeito aos serviços SUS, a nota da SES informa que "isso já era o esperado, uma vez que desde 2017, o Estado pactuou a regionalização do parto e do nascimento. A regionalização do parto, tem como objetivo qualificar a atenção à saúde da gestante e do recém-nascido e, com isso, reduzir a mortalidade materno-infantil, concentrando os partos em instituições com condições de garantir assistência com qualidade e segurança", afirmou o órgão.
De acordo com a Secretaria, ainda, aproximadamente 10% dos leitos foram fechados nos últimos 4 anos. Também se observa uma redução  de quase 10 mil nascimentos entre 2020 e 2023, o que representa em torno de 7,5 % a menos no número de nascidos vivos nesse período no RS. Em 2020, eram 975 leitos SUS e 218 estabelecimentos. Em 2024, até o momento, são 879 leitos SUS e 188 estabelecimentos. Já os nascimentos somavam 130.469 em 2020. Até junho deste ano, são 56.997.
Marcelo, que trabalha há 26 anos como obstetra entre Pelotas e Porto Alegre, afirma que das cinco maternidades SUS que existiam na cidade da metade Sul do Estado, restaram apenas duas. "Há uns quinze anos atrás, nos reunimos com a secretaria de saúde. A ideia era reduzir as maternidades em cidades pequenas para evitar que os casos complicassem em locais sem estrutura, encaminhando, assim, a demanda para cidades maiores. Isso exigia investimentos nessas cidades e maternidades maiores. O que percebemos, no entanto, é que esses investimentos demoram a acontecer", explicou.
O diretor da Região Sul do Simers reforça, ainda, que outro problema decorrente do fechamento das maternidades é o fechamento das UTIs neonatais. "É um problema crônico. Já são leitos escassos no Estado", comentou. Segundo ele, as UTIs exigem profissionais extremamente capacitados 24 horas por dia e a falta dessas estruturas gera sobrecarga nos hospitais que dispõem dos equipamentos. "A demanda deslocada pode gerar caos e esgotamento dos profissionais e medicamentos", diz. 
O comunicado do Simers traz ainda preocupação em relação ao possível fechamento da maternidade do Hospital Mãe de Deus. "O caso recente do Hospital Mãe de Deus, com quase quatro décadas de tradição e reconhecido como um dos melhores locais para partos no Rio Grande do Sul, é um exemplo preocupante dessa tendência. A possível descontinuação do Serviço Materno Infantil do Hospital Mãe de Deus ameaça não apenas um serviço altamente qualificado, mas também dezenas de postos de trabalho de médicos e demais profissionais da saúde", afirmou o comunicado. Em 2020, os leitos privados somavam 566. Hoje, são 506.
Em resposta a essa crise, o Simers diz estar mobilizado e em contato permanente com os gestores do hospital na tentativa de reverter esta situação. Em comunicado à imprensa, o Hospital Mãe de Deus afirmou que a situação da maternidade está sendo analisada, mas que não há previsão de reabertura. As enchentes de maio deixaram o subsolo, onde ficava a maternidade, submerso.
"Para que a instituição pudesse reabrir as portas o mais brevemente possível, principalmente o atendimento de Emergência, serviços essenciais para o funcionamento do hospital que ficavam no subsolo precisaram ser realocados para o 3º andar, onde fica o Centro Obstétrico. Em razão disso, não temos previsão de reabertura da maternidade, seguindo com a realização de novas análises e a atualização constante do nosso planejamento", escreveu, em nota, a instituição.
Marcelo acredita que o fechamento de maternidades da saúde suplementar, como é o caso da maternidade Mãe de Deus, pode sobrecarregar outras, tanto privadas quanto públicas. "Um sistema depende do outro. Nos casos mais graves, corremos o risco de um bebê que precisa não ter acesso a um leito de UTI, por exemplo". 
Depois de um período fechado em razão da enchente, o Mãe de Deus afirma, ainda, que tem trabalhado para voltar a seu funcionamento pleno e que hoje já retomou a grande maioria dos serviços.

LEIA TAMBÉM: Maternidade de hospital de Caxias do Sul ganha data de abertura

Notícias relacionadas