Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 16 de Julho de 2024 às 16:13

"Planejei tirar minha vida", diz vítima lesada em R$ 30 mil por loja de Nego Di

Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, foi preso no último domingo

Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, foi preso no último domingo

Reprodução/Instagram/JC
Compartilhe:
Arthur Reckziegel
Arthur Reckziegel Repórter
O Jornal do Comércio fez contato com uma das vítimas do comediante e influenciador gaúcho Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, que foi preso no último domingo (14), acusado de estelionato e de ter lesado ao menos 370 pessoas em golpes. De acordo com a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, a loja virtual dele, nomeada “Tadizuera”, deixou de entregar produtos que eram comprados por seguidores, causando um prejuízo que pode chegar a R$ 5 milhões.
O Jornal do Comércio fez contato com uma das vítimas do comediante e influenciador gaúcho Dilson Alves da Silva Neto, conhecido como Nego Di, que foi preso no último domingo (14), acusado de estelionato e de ter lesado ao menos 370 pessoas em golpes. De acordo com a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, a loja virtual dele, nomeada “Tadizuera”, deixou de entregar produtos que eram comprados por seguidores, causando um prejuízo que pode chegar a R$ 5 milhões.
A vítima, que preferiu não ser identificada, afirma que perdeu quase R$ 30 mil no ano de 2022 e diz já ter recebido ameaças de Di. “Fiz a compra de 33 aparelhos de ar-condicionado à vista para revender a instaladores da minha região. Pedi um empréstimo bancário para conseguir esse valor. Vi um potencial de negócio, pois necessitava de dinheiro para pagar um tratamento médico”, descreve.
A vítima afirma não desconfiado da loja por acreditar na pessoa do humorista. À reportagem, ele mostrou diversos prints e áudios trocados com o influenciador e com seu sócio, Anderson Bonetti, que está foragido.
Entretanto, essa confiança não se mostrou na prática, já que até hoje a pessoa afirma não ter tido o valor ressarcido. “Toda vez era uma desculpa diferente. Ele sumiu por um tempo e depois apareceu dizendo que foi enganado também, mas que ressarciria as pessoas. Porém nada chegou até mim. ”
A fonte ainda descreve que desenvolveu uma depressão por conta da dívida. “Eu já estava em um nível de depressão grande. Desempregado e com a família dependendo de mim, planejei meu suicídio, pois pensava que assim poderia resolver esse problema”, desabafa.
Apesar disso, hoje diz ter se recuperado parcialmente do ocorrido. “O tempo passou, me recuperei física, mental e psicologicamente, mas o buraco financeiro ainda não foi superado. Fiquei muito grato pela prisão do Nego Di e tenho a esperança de que ele ficará preso e pagará pelos seus atos. ”

A denúncia foi feita por um advogado
Na época do golpe, a vítima procurou um advogado. O profissional em questão foi Matheus Marques, que em junho de 2022 apresentou uma notícia crime e uma investigação paralela para a Polícia Civil. “Fomos nós que identificamos o Anderson Bonetti através de um vídeo a que tivemos acesso. Juntamos com outros elementos de provas e entregamos à 1ª Delegacia de Polícia Civil de Canoas, para o Delegado Marco Guns”, informa.
Segundo ele, naquela época, o advogado e os clientes manifestaram o interesse pela prisão do humorista devido à quantidade de vítimas envolvidas. “O Dilson usou sua influência nas redes sociais para enganar pessoas simples. Ele fazia a linha de frente colocando a sua imagem para atrair os compradores. Nunca fez nenhum movimento para ressarcir os danos.”
O advogado conta que tudo ocorria de maneira muito informal. “Eles mandavam o link do PIX com o valor, simulavam a compra, simulavam o pedido e deixavam em stand-by. Quando a pessoa entrava em contato com o setor responsável recebiam alguma desculpa”, explica Marques.
A defesa do artista está sendo feita pelo escritório Fortini, Volcato e Dalapicula Advocacia, que postou uma nota em um perfil de Dilson na rede social. Contatados por e-mail, os advogados não retornaram até o fechamento desta reportagem.

Relato da vítima na íntegra
"Em março de 2022, vi um anúncio na rede social do Nego Di referente a aparelhos de ar-condicionado. Como ele aparentava ser uma pessoa de confiança, que não tinha envolvimento com algo duvidoso, inclusive foi funcionário de uma grande emissora no RS afiliada à Globo nacional, transpareceu ser confiável.
Vi um potencial de negócio, pois necessitava de dinheiro para pagar um tratamento médico e revenderia os aparelhos de ar-condicionado para alguns instaladores locais. Após contatar esses instaladores e garantir que comprariam de mim (não tinha ambição de lucrar altos valores com a compra e venda, mas apenas arrecadar fundos para o tratamento médico), fiz um empréstimo bancário para comprar à vista esses aparelhos de ar-condicionado (uma vez que o pagamento era somente à vista no boleto ou Pix). Fiz a compra de 33 aparelhos, desembolsando um dinheiro emprestado no valor de quase R$ 30 mil.
Após os prazos de entrega estarem esgotados, entrei em contato com a loja e um tal de Anderson me dava, a cada ocasião, uma nova desculpa: fornecedor atrasado, empresa de transportes quebrou contrato, etc. Porém, o Nego Di voltava à sua rede social e pedia que tivéssemos tranquilidade, que não era golpe, que a loja era dele e que podíamos confiar.
Com novos prazos estourados, começamos a nos reunir com outras vítimas e criamos grupos de WhatsApp para organizar protestos e pressionar o Nego Di sobre os produtos e/ou o estorno da compra. Ele sumiu por um tempo e depois apareceu dizendo que foi vítima de golpe também, mas que ressarciria as pessoas para não deixar ninguém "na mão" e não prejudicar as pessoas. Ele ressarciu algumas pessoas, valores pequenos, os mais barulhentos, que estavam liderando protestos, para tentar calar o povo e acalmar as coisas.
Eu já estava em um nível de depressão grande, com a dívida do empréstimo já vencida e sem saber o que fazer. Desempregado e com a família dependendo de mim, planejei meu suicídio, pois pensava que assim poderia resolver esse problema. No entanto, fui amparado pela minha família e amigos para não proceder dessa forma.
Minha história chegou ao Nego Di, que me contatou via WhatsApp, prometendo meu reembolso, e que o tal Anderson faria o pagamento. Falei com o Anderson e ele me enrolou por mais e mais tempo... e nunca mais recuperei meu dinheiro, muito menos os produtos. Obviamente, já tinha feito um BO na polícia e estava na expectativa de o caso ser investigado e chegar a um desfecho.
Me indignava muito ver o Nego Di viajando para o exterior, como Europa, Punta Cana e outros destinos no Brasil, esbanjando e gastando o dinheiro do golpe que ele deu. Comprando carros de luxo, alugando mansões para morar, vivendo a vida como se nada tivesse acontecido. Mas a justiça de Deus não falha.
O tempo passou, me recuperei física, mental e psicologicamente, mas o buraco financeiro ainda não foi superado. Fiquei muito grato pela prisão do Nego Di e tenho a esperança de que ele ficará preso e pagará pelos seus atos! E espero reaver meu dinheiro com os bens apreendidos e contas bloqueadas."

Notícias relacionadas