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Publicada em 11 de Julho de 2024 às 12:50

Transporte entre Novo Hamburgo e Porto Alegre leva o dobro do tempo sem trem na Capital

A passagem de R$ 6,85 só pode ser paga em dinheiro ou no cartão TEU

A passagem de R$ 6,85 só pode ser paga em dinheiro ou no cartão TEU

TÂNIA MEINERZ/JC
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Stéfani Rodrigues
Stéfani Rodrigues Estagiária do GeraçãoE
Há mais de 60 dias sem operar em Porto Alegre em função das enchentes, o Trensurb é o principal transporte coletivo para quem precisa se locomover entre as cidades de Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Esteio, Canoas e Porto Alegre. Em condições normais, a viagem entre a estação Novo Hamburgo e a estação Mercado levam cerca de uma hora. Em dias úteis, antes da enchente, mais de 110 mil pessoas utilizavam a linha de trem por dia. Na última quarta-feira (10), uma equipe do Jornal do Comércio fez deslocamento entre Novo Hamburgo e o Centro Histórico de Porto Alegre para averiguar em que condições essas mais de 100 mil pessoas estão chegando à Capital.
Há mais de 60 dias sem operar em Porto Alegre em função das enchentes, o Trensurb é o principal transporte coletivo para quem precisa se locomover entre as cidades de Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Esteio, Canoas e Porto Alegre. Em condições normais, a viagem entre a estação Novo Hamburgo e a estação Mercado levam cerca de uma hora. Em dias úteis, antes da enchente, mais de 110 mil pessoas utilizavam a linha de trem por dia.

Na última quarta-feira (10), uma equipe do Jornal do Comércio fez deslocamento entre Novo Hamburgo e o Centro Histórico de Porto Alegre para averiguar em que condições essas mais de 100 mil pessoas estão chegando à Capital.


As estações da Trensurb estão operando entre 5h e 22h todos os dias, com trens partindo em intervalos de 18 minutos. A linha, no entanto, está circulando apenas entre as estações Novo Hamburgo e Canoas. A equipe do JC chegou à estação as 9h30min e embarcou no trem que saiu da cidade às 9h35min. O trajeto total é de 43 km até a estação no centro de Porto Alegre.

No embarque, há diversas placas sinalizando que, a partir do próximo sábado (13), a passagem de R$ 4,50 voltará a ser cobrada, dando fim à operação nomeada de trilhos humanitários. Embora esteja operando até a estação Canoas, a equipe do JC desembarcou na estação Mathis Velho, onde está sendo realizado o embarque nos ônibus da empresa de transporte metropolitano Transcal, responsável pela execução do transporte entre Canoas e Porto Alegre. O embarque em Canoas ocorreu exatamente 40 minutos após o embarque em Novo Hamburgo.

A necessidade de baldeação para chegar à Capital trouxe diversos transtornos. O primeiro deles foi encontrado na hora de embarcar no coletivo da Transcal: a passagem de R$ 6,85 só pode ser paga em dinheiro ou no cartão TEU, diferentemente dos trens, em que o pagamento pode ser realizado nos cartões TRI, TEU, SIM, em dinheiro e até mesmo por pix nas estações. A diferença de R$ 2,35 por trecho e aumento de tempo foi um empecilho que quase levou Leonardo Blankenhain, morador de Novo Hamburgo e estudante de Biomedicina na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a atrasar sua formatura, prevista para dezembro deste ano.
Estação Mercado Público ficou inundada na enchente | TÂNIA MEINERZ/JC
Estação Mercado Público ficou inundada na enchente TÂNIA MEINERZ/JC


Utilizando o transporte diariamente, Leonardo conta que levava cerca de 50 minutos entre as estações Novo Hamburgo e Rodoviária. O estudante de 25 anos estava realizando seu estágio obrigatório na Santa Casa de Misericórdia, no centro da Capital, quando o Rio Grande do Sul foi assolado pelas enchentes. Ficando impossibilitado de chegar à Capital durante 45 dias, o retorno ao estágio quase foi impedido pelo tempo de deslocamento. “Com o trem, chegava ao centro em 50 minutos e caminhava mais 10 até o hospital. Agora tendo que descer em Canoas e pegar ônibus, o dia que menos demorou levou mais de duas horas para chegar”, relata.

Para conseguir concluir o estágio e continuar comparecendo às reuniões de orientação para a conclusão do bacharelado, Leonardo recorreu à uma colega que mora em Porto Alegre e cedeu um quarto em sua casa para que o estudante pudesse dormir próximo da UFCSPA durante os dias úteis. “Só estou voltando para casa às sextas-feiras ou nos sábados pela manhã, pois as opções, para mim são as duas horas no transporte público ou o transporte por aplicativo, que também ficou com um preço inacessível para mim”, conta. Prestes a iniciar o segundo estágio obrigatório exigido para se formar, Leonardo pretende seguir na casa da colega de curso até sua formatura, já que a previsão da Trensurb é que a estação Mercado volte a operar somente em 24 de dezembro.

Durante o trecho do deslocamento de ônibus realizado pela equipe do JC, diversos usuários relataram situações como ônibus lotados e viagens exaustivas, passando das três horas entre o bairro Mathias Velho, em Canoas, e o Centro Histórico de Porto Alegre durante os horários de pico.

O aumento no tempo de deslocamento e a necessidade de baldeação também criaram uma barreira para Mellissa Pires, estudante de Direito que reside em Porto Alegre e é membro da comunidade da Igreja Católica da Comunidade de Louvor e Adoração Emanuel, em Novo Hamburgo. A estudante de 21 anos se deslocava até a cidade a cada 15 dias, embarcando na estação Mercado e desembarcando na estação Novo Hamburgo. Desde maio, Mellissa foi à cidade da região do Vale dos Sinos apenas duas vezes, sendo uma delas para levar doações para membros da comunidade atingidos pela enchente.
Trabalho de limpeza incluiu diversos trabalhadores | TÂNIA MEINERZ/JC
Trabalho de limpeza incluiu diversos trabalhadores TÂNIA MEINERZ/JC


Por conhecer pouco da Região Metropolitana e pela distância do embarque dos ônibus em Porto Alegre, Mellissa optou por realizar as duas viagens até Novo Hamburgo utilizando transporte por aplicativo e dividindo o valor com uma amiga, também membro da comunidade. “Meu gasto está sendo bem maior, então estou dividindo com uma amiga. Não criamos coragem para ir até Canoas e pegar o trem lá, pois não conhecemos a cidade”, conta. Utilizando transporte por aplicativo, as corridas custam em média R$ 60,00, mas Mellissa relata que chegou a pagar mais de R$ 100,00 em uma corrida somente para ir até a Capela da comunidade.

Com as doações entregues, a estudante decidiu que só irá para Novo Hamburgo em grupo, para poder dividir o valor da tarifa do transporte por aplicativo, ou quando o trem retornar à alguma estação de Porto Alegre. De acordo com as projeções da Trensurb, a estação Farrapos deve voltar a operar em 20 de setembro.

Quando a equipe do JC embarcou no ônibus em Canoas, foi informado que o ponto final para desembarque seria no viaduto abaixo do Túnel da Conceição, na esquina da avenida Farrapos com a avenida Voluntários da Pátria. Essa informação, no entanto, não se concretizou, uma vez que o desembarque foi realizado às 11h25min, já na avenida Voluntários da Pátria, próximo do terminal de embarque de outra empresa de transporte metropolitano.

Longe da estação Rodoviária e da estação Mercado, a reportagem do JC fez o deslocamento até o Mercado Público de Porto Alegre a pé, em cerca de 10 minutos. Para voltar à redação do Jornal do Comércio, localizada na avenida João Pessoa, nº 1.282, seria necessário utilizar a linha de ônibus municipal 353 - Ipiranga / PUC / UFRGS. O embarque no ônibus poderia ser realizado, antes da enchente, próximo da rodoviária, na avenida Júlio de Castilhos, o que agora é inviabilizado em função do corredor humanitário que elevou a pista de acesso ao Túnel da Conceição, levando diversas linhas municipais a realizarem o acesso à avenida Loureiro da Silva pela avenida Mauá.

Duas horas após o embarque em Novo Hamburgo, a equipe de reportagem chegou à entrada da estação Mercado às 11h35min. No caminho inverso, moradores da Região Metropolitana e do Vale dos Sinos relatam uma dificuldade ainda maior, alegando que para retornar de Porto Alegre a disponibilidade de ônibus é menor no sentido Capital-Interior.

O que diz a Trensurb

De acordo com o planejamento divulgado pela Trensurb na última segunda-feira (8), a ampliação da operação até Porto Alegre está prevista para 20 de setembro, com o retorno do transporte até a estação Farrapos, na Zona Norte da Capital. Para a estação Mercado, a projeção é que a operação seja retomada em 24 de dezembro, ainda este ano. Ainda em julho, a cobrança da tarifa de R$ 4,50 deve ser retomada no próximo sábado (13). A empresa ainda não informou como será feito o pagamento da integração para quem não possui o cartão TEU.

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