A cheia extrema que atingiu a cidade de Porto Alegre durante o mês de maio pode ter sido intensificada pelo represamento de água em um trecho "estrangulado" entre os rios Jacuí e Guaíba. A conclusão faz parte de um estudo realizado por cientistas da Universidade federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e da Portos RS, autoridade portuária do estado. Esse represamento, segundo a pesquisa, causou níveis de inundação mais altos na Zona Norte em comparação com a região sul da capital.
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Um dos fatores que contribuíram para as cheias foram os níveis de inundação mais altos na Zona Norte da cidade, onde ocorreram falhas nos diques. Felipe Geremia Nievinski, professor do Departamento de Geodésia do Instituto de Geociências (IGEO), orientou a pesquisa e indica que essa foi a principal descoberta: a cheia extrema inclinou a superfície da água e causou um desnível de quase 3 metros entre a região do aeroporto e a extremidade Sul da Capital. Essa diferença foi medida com uso de dados de campo e satélites.
Desse modo, a pior enchente já enfrentada em Porto Alegre teve danos intensos apesar das medidas de controle implementadas desde a última grande cheia, em 1941. "A altimetria via satélite revelou que no rio Jacuí a inundação foi agravada pelo represamento em uma parte estrangulada. Já o Guaíba, mais largo, apresentou menores níveis de água", explica o autor principal do trabalho, Leonard Silveira, professor na Universidade Federal do Pampa.
Inclinação de água foi um dos parâmetros que aumentou drasticamente. As medições apontam um aumento de 0,4 cm por quilômetro para cerca de 15 cm. A variação de nível mostra que o sistema de controle de cheias poderia ser melhorado na Zona Norte da capital, considerando que os diques de contenção foram projetados com uma cota de coroamento constante, igual a 6m.
Recomendações
A pesquisa realizada indica recomendações após as inundações, depois de apresentados indícios de vulnerabilidade na Zona Norte da Capital. Uma delas seria medir em campo as marcas do nível máximo deixadas pela cheia ao longo da margem dos rios. "Os resultados evidenciam que as máximas foram maiores quanto mais a montante [rio acima], ou seja, não foi uma máxima única", conclui Elírio Toldo Júnior, pesquisador do Departamento de Geodésia do Instituto de Geociências (IGEO).
A vice-diretora do órgão e coautora, professora Tatiana da Silva, por sua vez, ressalta a necessidade de aprimoramento da rede de monitoramento para que haja maior previsibilidade de eventos extremos, com estações de medição automática do nível da água em mais de um local.
Como explica os doutorandos e também coautores Kenji Yamawaki e Vitor de Almeida Júnior, é importante que as diversas réguas e sensores de nível adotem um mesmo referencial ou altitude da cota zero, para viabilizar a comparação das medições em diferentes locais e o cálculo do desnível. Isso é importante não apenas dentro de Porto Alegre, mas também nos rios afluentes da bacia hidrográfica e na Lagoa dos Patos.
No geral, a pesquisa destaca a necessidade de revisão das estruturas de controle de inundações na cidade, pois o "projeto dos diques, de 1968, subestimou o efeito de remanso, tornando a área urbana mais suscetível a inundações na Zona Norte", concluem os pesquisadores envolvidos. O estudo apresenta descobertas acerca do escoamento dos rios Guaíba e Jacuí que devem balizar a avaliação de alternativas para proteção das populações.