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Publicada em 12 de Junho de 2024 às 13:14

Onde a ajuda não chega em Porto Alegre: crianças da Vila Dona Teodora brincam no lixo

Moradores da comunidade reclamam que os entulhos impedem a chegada de donativos

Moradores da comunidade reclamam que os entulhos impedem a chegada de donativos

Maria Amélia Vargas/Especial/JC
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Maria Amélia Vargas
Maria Amélia Vargas Repórter
O campinho de futebol que deveria servir de ponto de recebimento de doações, em uma das comunidades em Porto Alegre mais atingidas pelas enchentes de maio, virou um grande depósito de detritos recolhidos após as águas das chuvas terem invadido o local. Apesar dos apelos dos habitantes da Vila Dona Teodora, no bairro Humaitá, o amontoado de entulhos só aumenta e a apreensão cresce a cada dia com a falta de assistência pela dificuldade de acesso ao povoado.
O campinho de futebol que deveria servir de ponto de recebimento de doações, em uma das comunidades em Porto Alegre mais atingidas pelas enchentes de maio, virou um grande depósito de detritos recolhidos após as águas das chuvas terem invadido o local. Apesar dos apelos dos habitantes da Vila Dona Teodora, no bairro Humaitá, o amontoado de entulhos só aumenta e a apreensão cresce a cada dia com a falta de assistência pela dificuldade de acesso ao povoado.
Para chamar a atenção dos governantes e da sociedade civil mobilizada em socorrer os mais afetados pela tragédia, um grupo de residentes estendeu uma faixa na entrada da vila com avisos sobre a existência da comunidade e pedindo donativos. Uma das moradoras que tomaram a iniciativa, a dona de casa Tamires Centeno, de 27 anos, conta que após as sinalizações chegou um caminhão “mas foi lá pra outra vila, porque não estão pegando o lixo dali”.
De acordo com ela, fica difícil ir buscar os mantimentos em lugares mais afastados, pois nem sempre tem com quem deixar as crianças e carregar as coisas a pé complica a situação. “Aqui todo mundo precisa, mas a ajuda não chega. Temos que correr e quando a gente chega nas outras vilas ou já acabou ou tem muito pouca coisa", lamenta.
Sem entender de forma clara a situação, as crianças substituem os brinquedos perdidos para as águas invasoras e criam um cenário de aventuras em meio ao lixo. Conforme conta Tamires, o entretenimento dos filhos envolve criar cenários em meio às pilhas de descartes.
Sua primogênita, Kemilly Centeno, de 9 anos, conta que transforma um pedaço de madeira, um pequeno sofá e um resto de armário descartados em um barzinho imaginário. “Nós ‘passa’ a tarde aqui, brincando. Aqui a gente faz um fogãozinho e ‘vamos’ lá no fundo procurar panelas”, conta a menina. Segundo a mãe, eles também costumam “brincar de aulinha”, enquanto as escolas (igualmente alagadas) ainda não retomam as atividades.
Moradores da comunidade reclamam que os entulhos impedem a chegada de donativos
Moradores da comunidade reclamam que os entulhos impedem a chegada de donativos Maria Amélia Vargas/Especial/JC
 
Alertados pelos avisos pendurados na entrada da vila, um grupo de moradores do Residencial Verdi, vizinho da vila, começou uma mobilização para angariar doações. Desde o início das enchentes, esses moradores uniram-se para acudir a comunidade local.
“Quando o pessoal deixou o condomínio, ficamos em 32 pessoas aqui para cuidar dos prédios. Depois disso, passamos a resgatar os atingidos em regiões mais baixas. E, como recebemos muitas doações vindas de barcos, começamos a fazer marmitas com os excedentes para compartilhar”, relata um dos integrantes da turma, o engenheiro de segurança do trabalho de 36 anos, Igor Farias Machado. Para quem quiser ajudar na confecção dos alimentos, pode fazer pelo pix oficial [email protected].
O que diz o DMLU:
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, por meio do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), esclarece que as equipes da Força-Tarefa estão empenhando esforços extraordinários na limpeza da cidade, que já retirou 54,7 mil toneladas de resíduos da ruas e, também, na contratação emergencial de mais garis para se somar aos que já trabalham nos serviços. As equipes atuam em 25 locais nesta quarta-feira (12), segundo o seguinte cronograma

O serviço prioriza as principas avenidas de maior circulação, para um melhor fluxo do trânsito. O bairro Humaitá está sendo atendido e a avenida Antônio Jacob Renner, 555, consta na programação para a retirada dos resíduos ainda nesta semana. O recolhimento dos materiais está em execução e seguirá com repasses de limpeza nos próximos dias. O DMLU segue mobilizado na recuperação da nossa cidade e o sistema 156 está à disposição para o registro de ocorrências.

Auxílios emergenciais ainda não chegaram
Grande parte dos moradores da Vila Dona Teodora já se inscreveram para receber os auxílios estadual e federal, mas ainda aguardam. Segundo a moradora Juçara Prestes, 47 anos, à maioria dos vizinhos esses recursos também não chegaram ainda.
Entre eles, está a dona de casa Almira Flores, de 68 anos, que ficou ilhada e precisou sair de casa. No abrigo montado no clube Caixeiros Viajantes, ela fez as inscrições nas modalidades Reconstrução e Volta por Cima, “mas ainda consta como pendente”.
Da mesma forma, o motorista João Rodrigues, 58 anos, aguarda pelos valores dos cadastros feitos pela sua filha. “A empresa em que trabalho nos deu auxílio, tudo certinho. E agora voltamos ao trabalho”, relata o morador.
Segundo dados da Agência Brasil, mais de 100 mil famílias gaúchas já receberam o Auxílio Reconstrução, pago em cota única no valor de R$ 5,1 mil. Além disso, a União criou um programa de manutenção do emprego, que prevê dois meses de salário mínimo a mais de 430,2 mil trabalhadores com carteira assinada de empresas do Rio Grande do Sul afetadas diretamente pelas enchentes de maio.
A Secretaria de Desenvolvimento Social do RS afirma que não há atraso nos pagamentos do Volta por Cima. Por meio de nota, destacou que “os pagamentos acontecem em lotes, já somamos 51,1 mil famílias beneficiadas e R$ 127.7 milhões do tesouro do Estado em quatro lotes".
O texto destaca também que o primeiro lote foi pago em 17 de maio e foram mantidos pagamentos semanais desde então. “Antes o fluxo entre o cadastro e o pagamento era de até 45 dias. Nesta última edição do decreto, estamos pagando com um fluxo entre 5 e 11 dias no máximo depois da identificação das pessoas por imagens de satélite ou o cadastramento realizado pelas prefeituras e o cruzamento destes dados com a versão mais atualizada do Cadastro Único.”
Sobre o Auxilio PIX SOS, a administração estadual salienta que os cidadãos que se enquadram em todos os critérios e são usuários do aplicativo Caixa Tem já encontram o valor creditado automaticamente. Quem se enquadra em todos os critérios e não tem conta na Caixa, tem um cartão emitido em seu nome.
Nesse caso, conferindo que o CPF está cadastrado, basta ir na agência do banco localizada no bairro Sarandi. Caso se enquadre e não recebeu, precisa procurar a prefeitura de Porto Alegre. Até o momento, 18 mil pessoas foram contempladas, somando R$ 36,7 milhões.
Ainda conforme o governo, todas as cerca de 25 mil famílias mapeadas na primeira fase do pix SOS Rio Grande do Sul serão pagas até esta sexta, dia 14. Quando foi organizada a primeira etapa de créditos no cartões, eram 78 municípios em calamidade pública. Posteriormente, a lista aumentou para 95. Agora, está sendo feito mapeamento em mais 17 municípios.

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