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Publicada em 23 de Maio de 2024 às 18:18

'Não precisaríamos ter 10% da inundação que tivemos', diz ex- diretor do DEP

Engenheiros explicaram que as inundações poderiam ser evitadas com manutenções, algumas simples

Engenheiros explicaram que as inundações poderiam ser evitadas com manutenções, algumas simples

THAYNÁ WEISSBACH/JC
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Bárbara Lima
Bárbara Lima Repórter
O engenheiro Vicente Rauber afirmou, em coletiva na tarde desta quinta-feira (23), que Porto Alegre não precisaria ter "10% da inundação que teve". Ao lado de outros profissionais, na sede do Sindicato dos Engenheiros (Senge-RS), ele explicou que as proporções das enchentes que tomam conta de Porto Alegre são, em grande parte, justificadas por falta de manutenção do sistema. Segundo o manifesto assinado por 42 profissionais da área, procedimentos relativamente simples poderiam ter evitado o caos que vive a cidade atualmente.
O engenheiro Vicente Rauber afirmou, em coletiva na tarde desta quinta-feira (23), que Porto Alegre não precisaria ter "10% da inundação que teve". Ao lado de outros profissionais, na sede do Sindicato dos Engenheiros (Senge-RS), ele explicou que as proporções das enchentes que tomam conta de Porto Alegre são, em grande parte, justificadas por falta de manutenção do sistema. Segundo o manifesto assinado por 42 profissionais da área, procedimentos relativamente simples poderiam ter evitado o caos que vive a cidade atualmente.
"O sistema contra enchentes segue atual, robusto e seguro, mas precisa de manutenção. O sistema é muito bom, não tem que colocar fora", explicou Rauber, ex-diretor do extinto Departamento de Esgotos Pluviais (DEP). Durante a conversa com jornalistas, os engenheiros consideraram, ainda, que as reformas necessárias para conter as cheias na capital gaúcha poderiam ter sido realizadas de novembro, quando houve um princípio de inundação no centro, até início de maio, mês em que as águas tomaram conta das ruas de Porto Alegre. 
"Tem coisas que são simples de resolver", enfatizou o engenheiro Carlos Berno. Segundo eles, muitos procedimentos, como a troca de borrachas nas comportas, a manutenção das comportas e das casas de bomba, que precisam de reformas por conta do aumento da urbanização da cidade, poderiam ter sido feitas, inclusive, com contratos emergenciais. "Esses consertos não demoram mais de 30 dias para fazer. E não foi falta de dinheiro", disse Rauber.
"O sistema é atual, talvez um dos melhores do Brasil. Não colapsou. Faltou manutenção", afirmou, categoricamente, Rauber. Ele criticou ainda a falta de investimentos na contenção de enchentes e a extinção do DEP. "Mesmo que o DEP estivesse sucateado, tínhamos um órgão de primeiro escalão e que era responsável por tratar do sistema de proteção contra inundações, por operar as casas de bombas e a drenagem urbana, além de cuidar do saneamento", disse.
 "Os diques e os muros não vazam. Os vazamentos estão em boa parte das comportas sem manutenção. No ano passado, quando o Sistema foi acionado, durante as inundações com início no Vale do Taquari e que também inundaram a Região Metropolitana, as deficiências nas comportas ficaram visíveis. Fáceis de serem sanadas, mas não foram. As próprias Casas de Bombas, bem como as Estações de Bombeamento de Água Bruta (EBABs) estão inundadas", diz o manifesto assinado pelos engenheiros.
Como medida imediata, mesmo que para minimizar os novos alagamentos que surgiram na cidade nesta quinta-feira, os engenheiros reiteram o que já está escrito no documento desde a semana passada: fazer, entre outras ações, o conserto imediato das casas de bombas com mergulhadores e vedar as comportas. Além disso, eles sugerem vedar hermeticamente as tampas violadas dos Condutos Forçados Polônia e Álvaro Chaves.

Como funciona o sistema de proteção contra enchentes em Porto Alegre?

O Sistema de Proteção contra Inundações de Porto Alegre é composto por aproximadamente 60 km, desde a avenida Assis Brasil com a Free-Way (norte) até o Morro da Assunção (sul). Nesta sequência existem os diques externos: Free-Way, avenida Castelo Branco, avenida Beira-Rio e avenida Diário de Notícias. Entre a Rodoviária e a Usina do Gasômetro foi implantado o Muro da Mauá.
Ainda compõem o sistema os diques internos que são formados pelas margens na cota de 6,0m dos principais Arroios que deságuam no Guaíba, especialmente a avenida Ipiranga (Arroio Dilúvio). As aberturas na avenida Castelo Branco e Muro da Mauá são feitas através de 14 comportas. Ao longo do sistema existem 23 Casas de Bombas, que também possuem comportas. Este sistema, quando totalmente fechado, impede o extravasamento das águas sobre a cidade. Impede a inundação até a cota de 6,0m (6,0m acima do mar).

Confira algumas das possíveis medidas imediatas para reduzir os alagamentos

 – Através de mergulhadores, vedar as comportas do Muro Mauá e avenida Castelo Branco, com sacos permeáveis à entrada de água preenchidos com areia misturada com cimento, borrachas e parafusos. Prioridade para a comporta 14 que invadiu o bairro Navegantes;
– Também com mergulhadores, vedar as comportas e colocar ensecadeiras nas Casas de Bombas com Stop Logs, solda sub aquática e bolsas infláveis de vedação;
– Vedar hermeticamente as tampas violadas dos Condutos Forçados Polônia e Álvaro Chaves;
– Com as Casas de Bombas secas e protegidas por ensecadeiras, reenergizá-las, o que pode ser realizado com redes paralelas de cabos isolados pela Equatorial. Se assim não for possível, utilizar diretamente nas Casas de Bombas geradores movidos a combustível;
 – Caso não seja possível operar imediatamente as Casas de Bombas, utilizar bombas volantes de grande vazão para drenar o Centro Histórico e os bairros da região norte da Cidade. No caso do bairro Sarandi, onde as águas superaram a cota de 6,0m e a Casa de Bombas nº 10 está completamente inundada, é certo que serão necessárias bombas volantes;

Confira algumas das medidas sugeridas pelos engenheiros quando a água baixar

 – O DMAE necessita imediatamente consertar e, se necessário realizar eventuais substituições, das comportas do Sistema de Proteção contra Inundações;
 – O DMAE necessita imediatamente contratar a regularização do funcionamento das Casas de Bombas, incluindo a sua ampliação e aperfeiçoamento, tendo por referência o Plano elaborado pelo DEP ainda em 2014 e cujos recursos financeiros de R$ 124 milhões a fundo perdido foram perdidos em 2019. Tratam-se das Casas de Bombas 12; 13; 14; 15; 16; 1; 2; 3; 4; 5; 6 e 10;
 – Retomar o Plano de Desenvolvimento da Drenagem Urbana, elaborado desde 1998, entre IPH/UFRGS e DEP, constituindo o caderno do Plano para ampliação do Sistema de Proteção contra as Cheias, base para contratação, em 2014, do PAC-Prevenção, um conjunto de projetos de ampliação e modernização das Casas de Bombas;
- Estudar a ampliação e o aperfeiçoamento, a nível estadual, de alternativas para os sistemas de proteção contra inundações, em especial, em nosso caso, considerando a Região Metropolitana de Porto Alegre. Lembramos que a Metroplan já realizou um estudo com esta finalidade que deve ser avaliado.

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