Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 23 de Maio de 2024 às 18:23

Serviço envolvido na medição do Guaíba já esperava erros

Segundo a SGB, dados inicias são brutos e é preciso estudo para correção quando o local estivesse seguro

Segundo a SGB, dados inicias são brutos e é preciso estudo para correção quando o local estivesse seguro

NELSON ALMEIDA/AFP/JC
Compartilhe:
Thiago Müller
Thiago Müller Repórter
Em meio ao cenário de fortes chuvas que o Rio Grande do Sul enfrenta desde o início do mês de maio, a empresa de meteorologia MetSul trouxe à tona a possibilidade de um desnível de medição na régua eletrônica instalada de forma emergencial no Gasômetro. A ferramenta serve para verificação em tempo real do nível do Guaíba.
Em meio ao cenário de fortes chuvas que o Rio Grande do Sul enfrenta desde o início do mês de maio, a empresa de meteorologia MetSul trouxe à tona a possibilidade de um desnível de medição na régua eletrônica instalada de forma emergencial no Gasômetro. A ferramenta serve para verificação em tempo real do nível do Guaíba.
O Serviço Geológico do Brasil (SGB), envolvido na medição, alegou que o quadro já era esperado desde a instalação, por conta da dinâmica do Guaíba e de obtenção dos dados. O que significa que, o nível do Guaíba, na realidade, pode estar abaixo do que vem medido e divulgado pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado do Rio Grande do Sul (Sema), que negou a possibilidade. 
A nova régua foi instalada após a última, que mede três metros, ter sido totalmente coberta pelas cheias no dia 3 de maio. Desde então, o novo equipamento de medição tem sido usado para amplos fins, incluindo alertas emitidos por órgãos oficiais.
A MetSul especificou que a suspeita teve início quando houve a abertura das comportas do Muro Mauá, na segunda-feira (20), quando a prefeitura de Porto Alegre abriu as comportas e o nível informado pela régua estava em 4,20 metros, Na época, a água era escoada mesmo com a cota acima do nível de inundação, sem retornar posteriormente. 
Nesta quinta-feira (23) o órgão meteorológico teve acesso ao pórtico central do Cais. Na ocasião, foi verificado que a água não chegava ao degrau do pórtico, que media de 20 a 30 centímetros acima do nível do piso do cais, de três metros.
De acordo com a MetSul, o cenário que encontraram mostrou ser "evidente que o nível não estaria nem perto de quatro metros". Para eles, medições com trena confirmariam valores pouco acima da cota de transbordamento.
A Sema, por sua vez foi categórica em dizer que “não há nenhum tipo de problema com relação às medições do Guaíba”.
O superintendente do Serviço Geológico do Brasil (SGB), instituição envolvida na medição, Franco Buffon, explica que desde a instalação, essa diferença de medições já era esperada, pela própria dinâmica hidrológica do Guaíba e pelo fato da medida ser de forma emergencial e os dados iniciais serem considerados brutos.
Segundo Buffon, entre os dois pontos de medição, teria um regime hidráulico diferente, com pontos mais ou menos suscetíveis às ações dos ventos, diferentes larguras e vazões, o que influencia no nível. O superintendente relatou que a equipe da SGB foi ao Cais Mauá realizar a leitura de profundidade no ponto e comunicaram a equipe de técnicos da Sema no Gasômetro, no mesmo instante, “já sabendo que ia ser diferente, mas fizemos uma adoção de um consenso”.
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Ufrgs, que comunicou-se por meio de nota, especificou que há declividade no terreno. A declividade da linha d'água nesta região pode ter sido da ordem de 15 cm/km. Há, portanto, diferença de nível entre os locais de monitoramento, já que o novo foi instalado 2,5km ao sul do antigo.
O superintendente explica que, como o Guaíba estava subindo muito rápido, o cenário demandou essa medida. Tais dados iniciais eram considerados dados brutos, e o SGB sabia que seria necessário estudos para corrigi-los. “Os dados estão sendo gerados e estão sendo armazenados em bancos de dados, e essas inconsistências necessitam de uma avaliação em campo posterior”, explica.
Conforme Buffon, enquanto dados estão sendo gerados e até que recebam uma análise, são tratados como dados brutos. Após isso é feita uma correção com estudos, processo em que os dados seriam consistidos.
Segundo o SGB, será feito um trabalho em campo de nivelamento da estação original até o Gasômetro, verificando em cada um dos pontos no caminho qual o nível máximo. Posteriormente, diz, esses dados vão ser disponibilizados pra sociedade. Porém, Buffon reitera que só será possível a correção quando o local estiver acessível e seguro para a equipe.
Para as medições foi considerado o nível horizontal do Guaíba. Segundo o IPH, de forma que a nova régua e o sensor indicassem o mesmo nível, de aproximadamente 4,58m. Ainda, julgaram a escolha "adequada considerando as informações disponíveis e a urgência de reestabelecer o monitoramento".
Ainda, segundo o Instituto, essa possível diferença não afetaria o resultado das previsões. Para o IPH, se a diferença se confirmar, a notícia seria ao final positiva, pois o valor de três metros do Cais Mauá corresponderia a um nível mais elevado, em comparação à medição atualmente utilizada.

Notícias relacionadas