Receber o diagnóstico e seguir o tratamento de combate ao câncer é uma situação delicada por si só. E, quando essa vulnerabilidade chega ao extremo de não poder voltar para casa após uma sessão de radioterapia ou de quimioterapia? Pensando na situação destes pacientes que estão ilhados ou que perderam tudo nas enchentes, a Paróquia São Jorge, em Porto Alegre, abriu as portas do salão paroquial para acolhimento destas pessoas. Das 30 vagas disponíveis, apenas quatro estavam ocupadas até a manhã de sexta-feira (17).
Um dos atendidos por este serviço voluntário, um aposentado de 70 anos (que não quis se identificar para que a mãe de 94 anos não recebesse a notícia da sua doença por meio da imprensa), precisou utilizar o abrigo durante a semana. Apesar de a sua moradia não ter sido atingida pelas águas, a cidade em que mora, Guaíba, ficou com acesso interditado.
“Eu vim para fazer a radioterapia e não consegui voltar. Então, a assistente social do hospital que estou me tratando indicou para mim e minha filha esta opção de abrigo. Na primeira semana das enchentes eu não pude vir, mas não quero deixar de fazer o tratamento”, relata o paciente.
O abrigo gerido pelo Instituto da Mama do RS (Imama) – junto com o Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC), o Instituto Camaleão, o Instituto E Se Fosse Você e a Liga Feminina de Combate ao Câncer –, começou a funcionar na terça-feira (14). Com o auxílio de voluntários multidisciplinares, os asilados recebem todo acompanhamento necessário a quem está na luta contra a doença.
“Nós todos estamos aqui junto com o poder público para fazer este acolhimento diferenciado. A parte médica está sob a responsabilidade do Dr. Rafael Vargas, oncologista da Santa Casa”, explica a gestora do Imama, Rita Cunha.
A psicóloga voluntária Clarissa Cervo sente-se duplamente qualificada para dar suporte aos residentes do local. Há menos de dois anos, ela própria travou uma batalha contra um câncer de mama. “Eu passei por quimio, eu passei por cirurgia, eu passei por rádio e eu sei como é que é estar do outro lado. Não é um momento muito fácil da vida, ainda mais num contexto de enchente, quando as pessoas estão desabrigadas, não podendo retornar para suas casas ou não podendo continuar o tratamento”, afirma.
Para amparar estas pessoas, a iniciativa faz busca ativa em outros abrigos e tem seu trabalho divulgado nos hospitais. Nestas andanças, o grupo pode ajudar um paciente de 47 anos que, sem conseguir voltar para a cidade onde mora, passava até 12 horas no próprio carro para não deixar de seguir o tratamento. Por outro lado, pacientes localizados em outros albergues preferiram não ser transferidos porque já contavam com suporte nos locais.
Para fazer doações ou pedir asilo neste abrigo (localizado Av. Bento Gonçalves, 2.948), os interessados podem fazer contato com qualquer uma das instituições envolvidas.