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Publicada em 16 de Maio de 2024 às 13:49

Abrigo da Pucrs acolhe grupos familiares para o conforto dos desabrigados

Abrigo situado no Parque Esportivo da PUCRS recebe 258 famílias afetadas pelas chuvas

Abrigo situado no Parque Esportivo da PUCRS recebe 258 famílias afetadas pelas chuvas

Maria Amélia Vargas/Especial/JC
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Maria Amélia Vargas
Maria Amélia Vargas Repórter
Com apenas 21 dias de vida, Julia Rebeca Nunes precisou ser retirada de casa às pressas pelos braços da mãe naquele dia 4 de maio de 2024. A dona de casa Mônica Nunes Soares, 33 anos, interrompeu o resguardo pós-parto para salvar a recém-nascida e os outros dois filhos da enchente que atingia a Vila Farrapos, em Porto Alegre, e quase todo o resto do Rio Grande do Sul. Resgatada pelo Exército na ponte que fica em frente à Arena do Grêmio, a família toda foi encaminhada para o mesmo abrigo onde também estavam outros parentes: o Parque Esportivo da Pucrs.
Com apenas 21 dias de vida, Julia Rebeca Nunes precisou ser retirada de casa às pressas pelos braços da mãe naquele dia 4 de maio de 2024. A dona de casa Mônica Nunes Soares, 33 anos, interrompeu o resguardo pós-parto para salvar a recém-nascida e os outros dois filhos da enchente que atingia a Vila Farrapos, em Porto Alegre, e quase todo o resto do Rio Grande do Sul. Resgatada pelo Exército na ponte que fica em frente à Arena do Grêmio, a família toda foi encaminhada para o mesmo abrigo onde também estavam outros parentes: o Parque Esportivo da Pucrs.
“Estávamos em casa quando passou o pessoal avisando mais cedo que ia ter enchente, que era para gente sair de casa e ir para um abrigo. Mas não acreditei que ia chegar na altura que chegou a água. Eu saí com a bebê, o meu filho de 4 anos e outra de 10 com a altura d'água no pescoço”, relata Mônica. Já no alojamento, ela encontrou a mãe, o padrasto e os dois irmãos menores, de 12 e 14 anos. Todos perderam tudo que tinham.
  
Maria Amélia Vargas/Especial/JC
Mônica com Julia no colo (E), a mãe dela, Simone dos Santos (C) e o padrasto Luis Fernando Rodrigues 
Essa é uma entre as 258 histórias que habitam há 12 dias o mesmo espaço montado nas quadras esportivas da universidade. As chuvas intensas que impactaram a vida de dezenas de milhares de famílias gaúchas, levaram a uma ação rápida da universidade. Em quatro horas, naquele mesmo sábado no qual Julia tão prematuramente sofria as consequências da tragédia climática, a professora Andréa Bandeira, decana da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da instituição de ensino, mobilizou colegas e mais de 2,6 mil voluntários para receber os resgatados.
Nosso limite seria de 250 pessoas, mas recebemos hoje 258 para conseguir manter as famílias juntas. Você pode ver pela disposição das camas, que estão distribuídas em núcleos familiares. A gente tentou deixar também os que são vizinhos mais próximos, porque eles também são do mesmo bairro e formam uma rede de apoio, pois muitos se ajudaram na hora de sair das casas”, explica a organizadora.
Nesse cenário, o marceneiro José Tadeu Stermberg Júnior, 58 anos, tornou-se uma espécie de líder comunitário no abrigo da PUCRS. “Eu tenho esse jeito, assim, de estar sempre ajudando as pessoas que têm necessidade, e aqui não consegui ficar parado. Fui amparando um e outro nas suas necessidades, e as pessoas acabaram me procurando para ajudar a botar alguém na cadeira de rodas, tirar dúvidas e pedir informações aqui dentro”, conta.
Assim como todos lá, ele também saiu às pressa do alagamento do bairro Humaitá e levou junto todos os seus parentes mais próximos. “Nossas casas ficaram totalmente submersas. A do meu pai, que é mais baixa, ficou com água um metro acima do telhado. Como moramos numa lomba acima, a água subiu pelo esgoto”, descreve . Além dos dois, seguem juntos na quadra da PUCRS, a mulher dele, um tio e mais quatro cachorros. “Ainda estavam aqui minha filha gestante, o esposo dela e mais dois netos meus. Mas eles conseguiram local para ficar na praia”, avisa Júnior.
Maria Amélia Vargas/Especial/JC
José Tadeu (C) tem atuado como um líder comunitário durante a estadia da família no abrigo
O dia a dia no abrigo da PUCRS

Esta foi a primeira vez que a universidade faz uma mobilização dessa magnitude para desabrigados. Segundo conta a professora Andréia, a movimentação começou imediatamente após a universidade se colocar como ponto de acolhimento aos desabrigados. No início, o trabalho era feito pelos próprios alunos e professores e, em seguida, recebeu apoio da Secretaria Municipal de Saúde, que mantém hoje uma equipe permanentemente lá desde então.
“Acho que o primeiro e o segundo dia foram os mais complexos, porque as pessoas chegaram com muitas necessidades, roupas molhadas, dias sem tomar medicamentos essenciais para algum tipo de tratamento, sem se alimentar há tempo. Depois dessas questões mais urgentes, a gente foi conseguindo organizar uma dinâmica, estabelecendo uma rotina de alimentação, de uso dos medicamentos, de distribuição das roupas, de banho. Aos poucos, estamos incentivando eles para a retomada da autonomia, cuidado com a cama, com o espaço ao entorno, a limpeza no entorno, a lavagem das roupas no espaço que a gente disponibiliza”, descreve.
Além dos serviços médicos, o local também conta com ajuda para que pessoas consigam voltar a exercer a sua cidadania. A Escola de Direito da Pucrs, realiza uma ação conjunta com a Defensoria Pública Estadual e com a Defensoria Pública Federal para ajudar aos que saíram de casa, na maioria, sem sequer conseguir salvar a carteira de identidade.
“O Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais, o Balcão do Consumidor e o Serviço de Assistência Jurídica Gratuita da PUCRS se uniram em uma atividade para levar uma primeira assessoria para essas pessoas em relação a documentos e outras demandas judiciais”, esclarece o professor.
No local, representantes da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) auxiliam pessoas a integrarem o Cadastro Único de Porto Alegre para o recebimento de auxílios. As equipes visitam os alojamentos para atualizar dados, fazer novos cadastros e oferecer consulta do benefício do Programa Bolsa Família.

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