Desde a última semana, os moradores de Porto Alegre e Região Metropolitana, assim como os da maioria dos municípios do Estado, estão sofrendo diariamente as consequências da maior tragédia da história do Rio Grande do Sul. Porém, essa tormenta ainda parece estar longe do fim. Conforme o JC vem reportando, além dos milhares de desalojamentos, as enchentes também geram uma séria preocupação com a saúde pública, com alerta para o perigo de doenças resultantes do contato com água contaminada, bem como para o aumento da proliferação do mosquito transmissor da dengue.
Com o sistema de saúde gaúcho já sobrecarregado pelas restrições impostas, como falta de funcionários e alagamento em postos e hospitais, os meses à frente se apresentam como um período desafiador, que demandará esforços significativos. Conforme a diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Nadine Clausell, os hospitais da Capital e arredores devem se preparar para “uma guerra”.
“Esse é um desastre de proporções únicas, sem precedentes na história. Quando as águas começarem a recuar, teremos uma alta demanda de pessoas afetadas por doenças, especialmente as infectocontagiosas, além de questões muito sérias de saúde mental. Os hospitais precisam estar prontos para atendê-las”, destaca.
Nadine ainda relaciona esse período com o da pandemia de Covid-19, onde diversos setores da sociedade precisaram se adaptar a algo novo, porém, ressalta que a principal dificuldade agora será logística. “O desafio será de proporções logísticas diferentes da pandemia, principalmente pela questão do transporte, que já está sendo prejudicado pelas estradas e pontes destruídas, algo que não havia naquele momento. A incerteza sobre a chegada dos medicamentos preocupa, mesmo que estejamos nos preparando. Mas, ao menos, não enfrentaremos enfermidades desconhecidas como foi o Covid-19”, completa.
Atualmente, 98 das 134 unidades de saúde de Porto Alegre seguem abertas. Algumas, porém, com com equipe reduzida devido aos atendimentos realizados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) junto aos abrigos temporários de acolhimento aos desabrigados. Além disso, com exceção do Mãe de Deus, que teve que ser evacuado devido ao alagamento no bairro Menino Deus, todos os hospitais do município estão operando com restrições.
No Clínicas, Nadine relata um funcionamento “desacelerado”, especialmente pelo pouco abastecimento de água. Para ela, isso será algo importante no futuro. “Temos um pessoal, podemos dizer que no banco de reservas, porque isso não será uma corrida, mas sim uma maratona. Temos que cuidar também dos profissionais de saúde, que precisam estar bem preparados mentalmente para o que vem pela frente”, finaliza.
De acordo com o secretário de Saúde da Capital, Fernando Ritter, porém, é preciso manter a calma nesse momento, para que todos os problemas sejam resolvidos com planejamento.
“As questões pontuais enfrentaremos com a ajuda de todos. Cada dia os desafios são diferentes, seja com o abastecimento de insumos e equipamentos, energia elétrica e água, mas nenhum hospital deixou de funcionar, com exceção do Mãe de Deus, que foi alagado. Suspendemos todos os procedimentos eletivos para focarmos nas demandas urgentes, sobretudo daqueles atingidos pelas enchentes”, explica.
Segundo a assessoria da SMS, o órgão irá anunciar medidas relacionadas à preparação do sistema de saúde da Capital nos próximos dias.