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Publicada em 09 de Maio de 2024 às 16:34

Tragédia na Região Metropolitana aquece economia no Litoral Norte

Apesar da baixa temporada, praias do Litoral gaúcho registraram bastante movimento

Apesar da baixa temporada, praias do Litoral gaúcho registraram bastante movimento

CLAUDIO MEDAGLIA/ESPECIAL/JC
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Claudio Medaglia
Claudio Medaglia
Hotéis e imobiliárias do Litoral Norte têm alta demanda para hospedagem e locação de imóveis. O movimento, que se iniciou no começo da semana, quando muita gente começou a sair da região metropolitana da Capital, pegou de surpresa os estabelecimentos, acostumados a um fluxo muito menor nesta época do ano. 
Hotéis e imobiliárias do Litoral Norte têm alta demanda para hospedagem e locação de imóveis. O movimento, que se iniciou no começo da semana, quando muita gente começou a sair da região metropolitana da Capital, pegou de surpresa os estabelecimentos, acostumados a um fluxo muito menor nesta época do ano
Pousadas, imóveis ofertados em plataformas digitais e hotéis acomodam muitas famílias saídas das áreas de risco das cheias. O Hotel Kolman, com 74 apartamentos, tem ocupação de 67,5%. Normalmente, o número de unidades ocupadas nesta época do ano é de 10%, relata o recepcionista Clóvis Clasen. São pessoas de Porto Alegre e Canoas, que fugiram das enchentes.
Com uma gestão de leitos reduzida na temporada em relação ao período de verão, o Capão da Canoa Mar Hotel disponibiliza, ao longo do ano, 33 quartos, o equivalente a 40% das acomodações. E todas estão ocupados.
“São pessoas que chegam para passar a primeira noite, enquanto o imóvel locado pela plataforma é disponibilizado. Outras chegam para ficar por período indeterminado”, diz o recepcionista Zeno Ribeiro Júnior. 
O local decidiu manter os mesmos preços tradicionalmente praticados na baixa temporada, que são 60% inferiores
A iniciativa também faz parte da política da Silva Santos Consultoria Imobiliária, que administra uma carteira de mais de 500 imóveis para locação em Capão da Canoa e na vizinha Xangri-lá. E, desde segunda-feira, a procura foi tanta, que a empresa precisou alterar a gestão dos imóveis.
“Quando termina o verão, costumamos trabalhar apenas com locação anual dos imóveis. Mas decidimos abrir para aluguéis por períodos de 10 a 15 dias e por tempo indeterminado também. As pessoas ligam ou surgem na porta, às vezes com pouca bagagem”, conta a proprietária, Hingridi da Silva Santos.
A empresa tem trabalhado também junto aos proprietários dos imóveis, sensibilizando para a importância de trabalhar com valores até 50% neste momento, em respeito às dificuldades das famílias. E prioriza o fechamento de locações com os parceiros.
À medida que vão se acomodando, as famílias procuram baixar a tensão e ajustar ou adotar nova rotina. Muitos foram à beira da praia nesta quarta-feira de sol forte pela manhã. Centenas de pessoas caminhavam com familiares e pets, praticavam esportes, descansavam sob o guarda-sol ou nos quiosques de bebidas e petiscos.
Em um deles, com todas as mesas ocupadas e guarda-sóis abertos, o proprietário mal conseguia falar, tamanha a dificuldade para atender a todos. Surpreendido pelo público equivalente ao de finais de semana com tempo firme, ele sequer tinha funcionários suficientes.
Na faixa de areia, moradores locais e de temporada tinham como assunto inevitável a tragédia climática que assola o Rio Grande do Sul. As irmãs Heloísa e Carmen Vera De Leon, de Bagé, vivem no Litoral há cinco anos. Fazem uma caminhada diária na areia e reservam um momento para reflexão e oração em frente ao mar.
“Em agradecimento pelo que temos. E pedindo por todos aqueles que sofrem. Temos conhecidos que estão acolhendo pessoas, que estão envolvidos com ações de voluntariado na cidade. Quem pode, precisa ajudar”, diz Carmen.
O comerciante de autopeças Remi Polesello, de Porto Alegre, pegou a esposa e as filhas na segunda-feira, e partiu para o litoral. Sem energia desde sexta-feira e com a cheia invadindo o condomínio de 48 apartamentos, eles decidiram partir para reduzir o consumo para quem resolveu ficar.
“Meu negócio fica na Rua do Parque, que alagou. Moro no bairro Floresta. Conheço ali. Quando percebi que a água começava a subir, viemos embora. Fica um pouco dos nossos pensamentos com quem está lá. Aqui, uma filha e um sobrinho já estão atuando em uma escola, ajudando na coleta e distribuição de doações”, relata.
Henrique Anunziato e Carlos Aguiar, de Canoas, conversavam sob o guarda-sol sobre a tragédia. Chegaram sábado e não têm data para voltar. Com os negócios parados pelo impacto das chuvas, o jeito foi tentar desligar um pouco dos problemas.
“Mas a gente não desliga 100%. Agora é esperar as coisas se acalmarem. Estamos acompanhando a situação para ver quando poderemos voltar”, diz Anunziato.
Sentada na areia, ao lado das bicicletas das filhas gêmeas, de seis anos, a odontóloga Tatiana Blaia Luz veio com as meninas, pais e outros familiares para o litoral. O marido, militar envolvido no enfrentamento à crise, ficou na Capital.
“Com duas filhas pequenas e sem água, não havia mais como ficar. Mas antes de sairmos, doamos muitas coisas, roupas, travesseiros. Tenho ajudado com recursos para amigos que estão atuando nos resgates”, conta.

Lojas e restaurantes tentam dar conta do aumento no número de clientes

Com a fuga dos atingidos pelas enchentes para o litoral, movimento no Jurema's Bar & Restaurante aumentou drasticamente

Com a fuga dos atingidos pelas enchentes para o litoral, movimento no Jurema's Bar & Restaurante aumentou drasticamente

CLAUDIO MEDAGLIA/ESPECIAL/JC
Na cidade, o movimento fora do normal aqueceu a economia. As principais ruas e avenidas do comércio estão movimentadas. Clientes nas lojas, restaurantes, bares e quiosques à beira-mar se viram como podem para dar conta da alta repentina.
Nossas vendas aumentaram cerca de 30%. Antes estava muito parado. Então, para o comércio a vinda é muito boa. Mas a gente também procura acolher um pouco as pessoas, que chegam às vezes com a roupa do corpo, precisando de apoio. Muito triste essa tragédia”, diz a comerciária Roseli Fávero Rosaneli, que atua em uma confecção de roupas básicas no centro de Capão da Canoa.
Os restaurantes e bares também entraram na onda. Muitas mesas ocupadas para almoço e algum movimento à noite. O Jurema’s Bar & Restaurante, que funciona desde 1984 na Rua Pindorama, atendia 10 mesas por dia. E não abria à noite na baixa temporada.
“Mas desde terça-feira estamos funcionando nos dois turnos. Está uma correria. O movimento aumentou muito. Estamos atendendo mais de 50 mesas por dia, nesta semana. Até nossos estoques de água já estão baixando e precisamos repor. A correria está grande”, diz o proprietário Guilherme Garcia Pires, sob intenso trabalho no caixa, enquanto a cozinha mandava pratos sem parar para as mesas dos clientes.

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