Há um novo desafio a ser superado entre moradores de Guaíba e Eldorado do Sul. Muitos deles chegaram a Porto Alegre para trabalhar ou para fugir da enchente e, agora, estão ilhados.
Pipocando de abrigo em abrigo há dias, eles querem voltar para casa e fazem filas à espera de barcos em pontos como Pontal, antigo píer do catamarã em frente ao BarraShoppingSul e Iate Clube Guaíba. Quem aguarda pelo serviço afirma, inclusive, que é assediado a pagar R$ 500,00 por pessoa pelo transporte.
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Em meio à ansiedade de rever a família, há muita desinformação. Policiais militares fazem barreiras em frente ao Pontal e dizem que o local não está oferecendo o trajeto, pois ali a prioridade é outra, como o recebimento de quem faz o sentido inverso.
A informação é confirmada pela voluntária e coordenadora de triagem Elisabete Barroso. “A orientação que temos aqui é que ninguém retorna a Guaíba, Eldorado e para as ilhas. Só vem de lá para cá. Chegam umas 20 pessoas por dia querendo voltar. As informações são muito desencontradas”, ressalta.
Roberta Silva dos Santos, de Guaíba, está desde sexta-feira na Capital. Na manhã desta quarta-feira (8), ela aguardava uma possibilidade de retorno acompanhada de amigas no Pontal. Até que descobriu que barcos sairiam do antigo Píer do catamarã em frente ao Barra, o que foi confirmado por um agente da Defesa Civil presente no endereço. Elas correram para lá.
“Nossas casas não estão alagadas e não querem transferir a gente. Tem mais de 400 pessoas. Ontem, uma das embarcações tentou ajudar o pessoal e foi barrada. Se for preciso, estão indo com agressão para cima das pessoas”, reclama a auxiliar de serviços gerais do hospital Santa Casa sobre ter de permanecer na Capital contra a sua vontade.
Segundo ela, houve falta de aviso da prefeitura de Guaíba sobre a impossibilidade de retorno. “Tem embarcações cobrando, mas não sabemos bem, apenas que é acima de R$ 500,00 por pessoa. O certo é a gente não pagar, pois viemos trabalhar. Não viemos passear”, lamenta.
O serralheiro Juvenal dos Santos se emociona ao contar que algumas pessoas tentaram fretar até um helicóptero para ir a Guaíba, mas foi cobrado R$ 4,5 mil. “Estamos perdidos aqui desde sexta-feira, passando necessidade, comendo o que nos dão. Mas nossa família está lá”, expõe, caminhando em direção ao Barra na esperança de conseguir um lugar em alguma embarcação.
Já Lucas Meira, de Eldorado do Sul, viajou de Porto Alegre na terça-feira (7) para salvar 14 cachorros. “Mas ficaram mais cinco cachorros e oitos gatos lá em casa. Tínhamos acertado em voltar hoje às 7h para salvar os outros animais, é só isso que a gente quer”, narra. Ele fez a travessia com a ajuda de voluntários, e não os encontrou mais.
Os moradores das cidades se comunicam por grupos no WhatsApp para falar sobre as alternativas de deslocamento. Informações oficiais, no entanto, são desencontradas nas filas que crescem cada vez mais às margens do Guaíba.
O que diz a Defesa Civil
Em nota, a Defesa Civil recomenda que as pessoas não devem retornar para as áreas de onde foram resgatadas.