De Capão da Canoa
O movimento é equivalente à temporada de verão em uma das mais movimentadas praias gaúchas. Em Capão da Canoa, desde domingo, postos de combustível, farmácias e supermercados perceberam aumento de público. E a situação se confirmou mesmo nesta terça-feira (7), quando muita gente continuou chegando, após pegar a estrada para se afastar das áreas mais afetadas pelas cheias. O fluxo também ocorre em outros municípios do Litoral Norte.
Famílias que têm imóveis na praia buscaram refúgio e segurança nos locais habitualmente frequentados entre os meses de dezembro e março. Logo na chegada, procuraram reabastecer o tanque e a despensa, para uma estada ainda incerta, já que não há previsão de restabelecimento das condições para voltar para casa.
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No Posto Buffon, no cruzamento das Avenidas Paraguassu e Ararigboia, o estoque de combustíveis sofreu importante queda nos dois últimos dias. E as bombas passaram a manhã e o começo da tarde atendendo clientes. O encarregado do estabelecimento, Carlos Roberto Ferreira Gomes, conta que a “onda aumentou muito na segunda-feira” e que possivelmente será preciso reforçar os pedidos de reabastecimento, se o movimento continuar assim nos próximos dias.
Pelas ruas e avenidas da cidade, a tradicional disputa por uma vaga para estacionar confirma o cenário dos tempos de férias escolares. Muita gente circulando pelas calçadas, comércios com portas abertas e muitos aparelhos de TV sintonizados nas notícias sobre os resgates em Porto Alegre e outros municípios.
Na principal unidade da rede de farmácias São João no município, localizada na esquina da Paraguassu com a Rua Poti, o número de clientes dobrou na segunda-feira, conta o gestor farmacêutico Felipe Santos.
E o cenário se repetiu nas 10 lojas da rede no município. Produtos de higiene pessoal, medicamentos de uso contínuo, fraldas, leite em pó, papel higiênico e sabonetes foram alguns dos itens mais procurados.
A demanda fora do normal já afeta a disponibilidade de alguns produtos. “Se alguém com diabetes precisar de insulina, que sempre temos em estoque, não irá encontrar aqui hoje. E nosso carregamento que deveria ter vindo ontem, não chegou. Situação que teremos de apurar, pois pode estar relacionada à equipe na distribuidora, já que há funcionários afetados”, conta.
Também nos mercados e supermercados, o ritmo mudou. Não há falta de produtos. E a perspectiva não é de desabastecimento, mas pode haver falta pontual de alguns itens. Água e hortigranjeiros já não eram encontrados mesmo nos grandes estabelecimentos. Há relatos de que em alguns locais, os preços já subiram bastante.
Quem chegou ainda antes, no sábado, foi Ana Rita Alves, de Porto Alegre. Moradora do Parque dos Maias, ela acompanhou com ansiedade as informações incertas que circulavam sobre o possível rompimento do dique de contenção no bairro Sarandi. E, quando a filha, estudante de psicologia, soube que as aulas na PUC haviam sido suspensas temporariamente, tomou a decisão.
"Viemos eu, meu marido e os dois filhos. Temos imóvel em Capão da Canoa e costumamos vir no verão, apenas. Mas agora nos instalamos e vamos ficar por tempo indeterminado. Estávamos sem energia, sem água e vendo tudo piorar. Vamos aguardar aqui, por enquanto".
O aumento do movimento, apesar de relacionado ao desastre ambiental, foi visto como positivo para a cidade pelo prefeito Amauri Germano. Embora receba até 450 mil pessoas no verão, o município de 63,5 mil habitantes, conforme o Censo 2022, tem vida própria ao longo do ano, quando a população gira em torno de 85 mil pessoas.
“Já temos percebido um aumento na população durante os finais de semana, nesse período do ano. Mas o movimento desde domingo cresceu muito. A demanda está muito maior. É movimento de verão. Aquece o comércio, gera empregos e renda. O município está preparado para acolher as pessoas”, diz o governante.
A cidade também tem acolhido afetados pelas cheias. Entidades locais costumam se mobilizar em apoio a áreas mais pobres. E também estão acolhendo e auxiliando familiares de moradores locais, que acabaram perdendo tudo. Famílias inteiras, com nove, 10 pessoas, se socorreram com parentes em Capão. E foram abraçados pela rede de apoio.
Colchões, travesseiros, alimentos e roupas também são arrecadados e distribuídos, conforme orientação de demanda. Um dos locais que concentra o recebimento, a organização e distribuição dos produtos é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Leopoldina Veras da Silveira, na Zona Nova, onde, estavam o prefeito e a secretária de Cidadania, Renata Klein, na tarde desta terça-feira.
Socorro da comunidade é levado para auxiliar desabrigados
Pelo menos 12 caminhões com roupas, colchões, alimentos e outros itens foram arrecadados
CLAUDIO MEDAGLIA/ESPECIAL/JCA tragédia ambiental que faz milhares de vítimas provoca também solidariedade. A mobilização da população local diante de dificuldades em outros momentos já é habitual. Mas cresceu ainda mais desta vez.
O Capão da Canoa Futebol Clube já virou tradicional ponto de entrega de doações de todos os gêneros. Localizada na região central da cidade, a sede viu chegar muitos produtos, que já partiram para serem colocados à disposição da Defesa Civil estadual.
“Pelo menos 12 caminhões com doações já foram enviados para Porto Alegre nos últimos dias. Colchões, roupas, medicamentos, material de limpeza e higiene, água... A cidade já sabe que aqui recebemos e encaminhamos. Acabamos virando um ponto de coleta e apoio”, diz o presidente, Silas Scheffer Cipriano, enquanto mais um caminhão fechava as portas carregado e arrancava rumo à Capital.