Doença comum em períodos de chuvas intensas e enchentes, a leptospirose, causada pela bactéria Leptospira, é outro problema que surge no horizonte para os gaúchos em meio às inundações da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. O rato é o principal vetor de transmissão da doença. Ao urinar, o roedor expele a bactéria, que fica no solo e pode penetrar na pele das pessoas através de ferimentos, ou mesmo se não houver nenhum corte. A contaminação ocorre também pela ingestão de água contaminada.
Em situações de inundação como a atual, moradores de áreas atingidas pelas cheias, socorristas e voluntários que trabalham no atendimento às vítimas sem os equipamentos de EPIs adequados - botas e luvas - se expõem ao risco de contrair leptospirose. Porém, a grande quantidade de água corrente em muitas áreas acaba diluindo a bactéria, o que diminui as chances imediatas de contaminação, conforme explica o coordenador da Câmara Técnica de Infectologia do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Paulo Ernesto Gewehr Filho.
“O risco maior vai ser nos próximos dias quando a água começar a baixar e a população retornar para suas residências e começar os trabalhos de limpeza, de lavagem das casas. Nesse momento, as pessoas geralmente não estão usando EPIs adequados, como botas e luvas, e não tem uma higienização adequada da água”, adverte o infectologista.
Quanto maior a exposição às águas das enchentes, maior a chance de contrair leptospirose, e neste caso se enquadram aqueles que estão trabalhando no socorro nas áreas inundadas. Apesar disso, nem todas as pessoas que são infectadas acabam desenvolvendo a doença, ficando na forma assintomática.
Quando a pessoa desenvolve a enfermidade, o período de incubação da bactéria é de 7 a 14 dias em média a partir da exposição à Leptospira, mas há casos em que ocorre de 1 dia até 30 dias após a exposição. “Se a pessoa se expõe repetidas vezes porque está trabalhando com salvamento todo dia ela vai estar renovando esse risco e aumentando a chance de se contaminar”, comenta Gewehr.
Os sintomas da leptospirose são febre, dores muscular, articular, de barriga, abdominal, diarreia e vermelhidão na pele. Outras características bem marcantes são dor nas panturrilhas, olhos vermelhos e sensibilidade à luz, a chamada fotofobia. Em casos mais avançados, ocorre o amarelão (icterícia) e o doente pode apresentar os sinais graves da doença, que são sono, fraqueza, sensação de quase desmaio e baixa de pressão.
Os sinais de infecção avançada, a sepse, e a doença na forma grave podem levar à morte. Os grupos de maior risco são crianças, idosos e imunodeprimidos que necessitam de atenção especial, mas lembrando que pode ser grave em qualquer idade e mesmo em uma pessoa sadia.
O tratamento da leptospirose é feito com antibiótico Doxiciclina ou outro quando a pessoa é alérgica. As Sociedades Brasileira e Gaúcha de Infectologia elaboraram uma nota em conjunto com a Secretaria Estadual da Saúde (SES) recomendando a quimioprofilaxia, ou seja, tomar o remédio antes de aparecer os sinais da doença para os casos de exposição a águas contaminadas. “Pegamos todos os estudos e vimos que poderia ter um benefício, principalmente para aquelas pessoas de maior risco de exposição. A orientação é de uma dose única semanal de Doxiciclina ou Azitromicina”, orienta.