A sexta-feira (3) amanheceu com uma imagem simbólica do momento de alerta vivido na Região Metropolitana de Porto Alegre a partir da cheia histórica do Guaíba. Os dois sentidos da ponte sobre o Rio Gravataí, que dá acesso a Cachoeirinha e a separa da Avenida Assis Brasil, na zona norte da Capital, estavam bloqueados pela água, que avançou sobre as pistas.
Dali em direção ao Rio Gravataí, a preocupação das autoridades é crescente. Não bastasse o volume de chuva, com o acúmulo de água no próprio manancial, o escoamento desta água acaba represado pelo também elevado nível do Guaíba. O resultado, até o final da manhã, já deixava pelo menos 500 famílias fora de suas casas, em áreas alagadas, entre Alvorada, Cachoeirinha e Gravataí. E o alerta está mantido para a possível piora da situação.
"Se o nível do rio junto ao dique subir mais um metro, teremos que evacuar toda a região dos bairros próximos. Por enquanto, estamos orientando as pessoas para saírem da área, protegerem móveis e veículos, porque há o risco de transbordamento do dique", explica o prefeito de Cachoeirinha, Cristian Wasem.
No município, são 300 famílias fora de casa, com 50 pessoas alojadas em quatro abrigos montados pela prefeitura. Parte do território de Cachoeirinha, em um nível mais baixo que o Rio Gravataí, é protegida por um dique, ao lado da ponte que separa o município de Porto Alegre. A Defesa Civil municipal monitora não somente o nível do rio neste ponto, mas também a estrutura do dique. Os bairros Imbuí, Parque da Matriz, Eunice, Vila Cachoeirinha e Veranópolis são considerados os mais arriscados neste momento.
"Somente durante a madrugada, o rio subiu em torno de 50 centímetros neste ponto. Desde o final de semana vínhamos monitorando os pontos historicamente preocupantes de cheias na cidade, mas antes, o problema maior estava no lado do Arroio Sapucaia, no limite com Esteio, que é do lado do Sinos, onde tivemos que retirar famílias desde o começo da semana pelo volume de chuvas. Agora, o problema também está no lado do Rio Gravataí", lamenta o prefeito.
Juntamente com o dique, o município conta com um sistema de dutos, que encaminham o esgoto pluvial em direção a uma casa de bombas. A água normalmente é bombeada para o rio, do outro lado do dique. Com a cheia, este processo tem sido insuficiente. Há retorno de água na casa de máquinas.
Alvorada
Na outra margem do Rio Gravataí, também n limite com Porto Alegre, o alerta é máximo entre os bairros Americana, Umbu e Onze de Abril, em Alvorada. Nesta manhã, a estação da Corsan no município media 7 metros de altura do Rio Gravataí.
Entre o rio e o Arroio Feijó, que é um dos principais afluentes do Gravataí, até a metade da manhã pelo menos 100 famílias haviam deixado as suas casas. Pouco mais de 20 estavam sendo abrigadas pela prefeitura local. A tendência é de que este número aumente até o final do dia, com o avanço da água pelos bairros.
Alvorada deveria ter também um dique, com obras orçadas há uma década, em investimentos que chegariam a R$ 1 bilhão, a serem executados pelo governo estadual. No entanto, o projeto ainda não saiu do papel.
Gravataí
Em Gravataí, a preocupação maior está nas moradias da Vila Rica e do Parque dos Anjos, em dois pontos diferentes do Rio Gravataí. De acordo como prefeito Luiz Zaffalon, durante a manhã, o nível do rio na altura do Passo das Canoas era de 5m68cm. Segundo ele, até 6 metros a prefeitura considera a situação controlável.
"Estamos com as equipes todas na rua, e com o nosso centro de controle monitorando tudo por imagens e com informações permanentemente atualizadas. Até o final da manhã, pelo menos duas quadras da Vila Rica devem estar alagadas, e temos retirado as famílias da região", diz Zaffalon.
Assim como em Cachoeirinha, no começo da semana a preocupação estava nos pontos próximos ao Arroio Demétrio, um dos afluentes do Gravataí, pelo volume da chuva. Famílias foram removidas, mas a região, que recebeu cerca de R$ 3 milhões em obras de drenagem no último ano, reduziu o número de pontos de cheias.
Até esta manhã, 100 famílias estavam fora de suas casas na cidade. Boa parte delas, recebidas em dois abrigos montados pelo município.
"Fizemos as obras de drenagem no Demétrio, e no final deste primeiro semestre deveremos ter pronto um novo plano de drenagem. Entre as obras prioritárias estará uma estrutura de contenção na Vila Rica", aponta o prefeito. O município projeta pelo menos R$ 300 milhões em obras de drenagem nos próximos anos.