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Publicada em 06 de Março de 2024 às 09:27

Dia da Mulher: Cuidados com a saúde feminina nas diferentes fases

O acompanhamento médico e a prevenção é essencial para as mulheres serem saudáveis

O acompanhamento médico e a prevenção é essencial para as mulheres serem saudáveis

FREEPIK/REPRODUÇÃO/JC
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Luciane Medeiros
Luciane Medeiros Editora Assistente
O corpo da mulher apresenta particularidades que se manifestam de diferentes formas ao longo da vida. Nos primeiros anos, os cuidados médicos se assemelham tanto para meninas quanto para meninos, mas, com o desenvolvimento hormonal e a menarca (primeira menstruação), ocorrem diversas transformações. O acompanhamento médico e a prevenção, seja por meio de bons hábitos na rotina ou na realização de exames, é essencial para passar por todas as fases da vida e envelhecer com qualidade.
O corpo da mulher apresenta particularidades que se manifestam de diferentes formas ao longo da vida. Nos primeiros anos, os cuidados médicos se assemelham tanto para meninas quanto para meninos, mas, com o desenvolvimento hormonal e a menarca (primeira menstruação), ocorrem diversas transformações. O acompanhamento médico e a prevenção, seja por meio de bons hábitos na rotina ou na realização de exames, é essencial para passar por todas as fases da vida e envelhecer com qualidade.
José Paulo Ferreira, presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS), explica que os cuidados médicos com meninas e meninos são similares nos anos iniciais até a puberdade. Embora as meninas tenham a uretra mais curta na comparação com a dos meninos, isso não acarreta em mais casos de doenças como infecção urinária no sexo feminino do que no masculino. Já nos garotos, a ocorrência de fimose (excesso de pele que recobre o pênis) pode trazer complicações.
A partir dos 8 anos e meio (geralmente), as meninas começam a ter modificações corporais com o surgimento de pelos na área genital e o crescimento das mamas. O ciclo menstrual pode começar entre os 10 e 14 anos, mas varia de acordo com cada pessoa e também com o histórico familiar, podendo acontecer antes ou após essa idade. Entretanto, nos últimos anos as meninas têm menstruado cada vez mais cedo. Componentes comportamentais e sociais vem exercendo influência para a menarca em meninas mais novas, refletindo questões como diferenças na alimentação dos dias atuais com a de gerações passadas (menos ‘natural’ e com mais produtos químicos e hormônios).
Entre os 9 e os 14 anos, meninas e meninos devem receber a vacina contra o HPV (Papiloma Vírus Humano), oferecida em duas doses na rede pública de saúde desde 2014. O HPV é responsável por mais de 200 vírus, dentre eles 12 causadores de cânceres como de colo do útero, anal, pênis e de cabeça e pescoço, e a imunização é fundamental para a prevenção. Como a orientação é que a vacina seja dada antes da primeira relação sexual, o pediatra pode recomendar a aplicação por volta dos 11 anos nos casos em que avaliar que não há risco de a pessoa se expor ao vírus antes de ser imunizada.
Ferreira destaca a importância das consultas periódicas com um pediatra durante toda a infância. “É uma época importante para as meninas fazerem revisão com seus pediatras porque é preciso observar quando começa a puberdade. Tem aquela mania de até 2, 3 anos a criança consultava e agora não fica mais doente então não precisa ir ao médico. Mas quando viu, se desenvolveu e menstruou”, ressalta. O hebiatra, pediatra especializado em adolescentes, é o profissional que pode fazer o acompanhamento médico das crianças nessa fase de passagem do final da infância para a adolescência, até a hora de trocar para as consultas com ginecologista.

Março Amarelo: Endometriose atinge 8 milhões de brasileiras

A partir do fim da infância e com as mudanças no organismo, as mulheres estão sujeitas a doenças exclusivas do sexo feminino, algumas delas com impacto na fertilidade. É o caso da endometriose, que atinge 8 milhões de brasileiras - uma a cada dez mulheres entre 25 e 35 anos, segundo o Ministério da Saúde. Nessa parcela da população, de 30% a 50% sofre de infertilidade devido à endometriose, conforme dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Para promover a conscientização sobre a endometriose, a campanha do Março Amarelo busca esclarecer a população sobre esta doença que é inflamatória e benigna, seus sintomas e os impactos na saúde da mulher. A endometriose se caracteriza pela presença do endométrio (tecido que reveste a parte interna do útero e é eliminado na menstruação) fora do órgão, o que pode causar fortes dores.
“O endométrio é como se fosse um tapete que reveste o útero e sofre ação hormonal todo mês, ele espessa e se prepara para receber o embrião. Se não há fecundação, ele é eliminado na forma de menstruação. Em algumas mulheres, isso não ocorre da forma adequada e existe um certo refluxo para dentro do abdômen”, detalha a vice-presidente da Comissão de Endometriose da entidade, Márcia Mendonça.
Divulgação Febrasgo/JC
Márcia Mendonça, vice-presidente da Comissão de Endometriose
A doença tem três apresentações: superficial, quando se implanta na membrana que reveste internamente o abdômen (peritônio); ovariana, que produz cistos nos ovários, e profunda, quando invade a membrana de revestimento além de 5 mm. Em geral, a endometriose profunda fica na parte posterior da pelve entre o útero e o intestino, podendo afetar o intestino e o sistema urinário.
Entre os sintomas estão cólicas menstruais, dor ao urinar e durante o ato sexual e dificuldade para engravidar. No acometimento profundo, que costuma estar associado a dor, pode ter sintomas intestinais como inchaço, dor ao evacuar e sangue nas fezes
A especialista critica o fato de que algumas mulheres convivem por anos com as dores das cólicas menstruais e chegam a passar por vários médicos, onde escutam que não têm nada de anormal e que ‘mulher tem que ter cólica mesmo’. “A normalização da dor para a mulher é outro problema grave porque elas aceitam que isso (a dor da cólica menstrual) é da resiliência feminina”, diz.
O processo inflamatório causado pela endometriose pode obstruir as trompas e a ovulação. Algumas mulheres não têm os sintomas habituais e só descobrem a doença quando tentam engravidar e não conseguem. O diagnóstico definitivo da endometriose é obtido por meio da análise de tecido proveniente de uma biópsia de um órgão afetado. Entretanto, nem sempre é viável ou aconselhável realizar esse exame. Assim, muitas vezes o tratamento começa a partir da forte suspeita gerada pelos sinais e sintomas, em conjunto com uma história clínica compatível e outros testes menos invasivos.
A endometriose é tratada com o uso de hormônios para a suspensão da menstruação e de anti-inflamatórios para aliviar a dor da paciente. Nos casos da doença profunda opta-se por cirurgia para remover o tecido comprometido. A médica chama atenção para o fato de que a endometriose pode afetar a quantidade e qualidade dos óvulos, sendo importante que se faça o aconselhamento reprodutivo das pacientes. Dessa forma aquelas que se enquadram nesse perfil estarão cientes dos riscos e se desejarem poderão optar pelo congelamento de óvulos para engravidar no futuro.

Outras doenças que atingem a mulher na fase fértil:

  • Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP): causada por um desequilíbrio hormonal que forma cistos e modificam os ovários, aumentando-os. Quem tem SOP ovula menos e tem ciclos menstruais irregulares, o que gera dificuldades para engravidar. Além deste, outros sintomas da Síndrome são diabetes, pelos nos seios, buço e queixo, pele oleosa e acneica, queda de cabelos, obesidade e manchas escuras no pescoço e axilas.
  • Câncer de mama: Segunda maior causa de morte de mulheres no Brasil e o segundo câncer mais comum. Não há ainda uma causa específica conhecida, mas mulheres que têm caso na família, que menstruaram muito precocemente ou que entraram tardiamente na menopausa e aquelas que nunca amamentaram estão mais propensas a desenvolver o câncer de mama. O autoexame regular e a mamografia periódica são essenciais para a prevenção, que possibilita começar o tratamento mais cedo em caso da doença.
  • Mioma uterino: Tumor benigno composto por tecido uterino que pode ficar estável por anos e sem causa aparente crescer. Os sintomas são períodos menstruais longos e dolorosos, fluxo aumentado, anemia, sangramento fora do período menstrual, dores e problemas urinários. O tratamento pode ser feito com medicamentos ou por cirurgia, com a retirada apenas do mioma (miomectomia) ou de todo o útero (histerectomia).
Freepik/Divulgação/JC

Climatério e menopausa

Assim como em outras fases que representam um marco na vida das mulheres - primeira menstruação e gravidez, por exemplo - o fim do ciclo menstrual também traz desafios e mudanças importantes. Mas, ao contrário dos tempos em que a menopausa (última menstruação) podia ser vista por algumas como o “fim da vida”, hoje as mulheres seguem ativas e falam abertamente sobre esse período, sem os tabus do passado.
A idade para a menopausa varia entre a faixa dos 45 a 55 anos, dependendo de cada mulher. Em algumas, chega bem antes, na chamada menopausa precoce. O período de transição no qual a mulher sai da fase fértil até a última menstruação é denominado climatério. Essa etapa, que começa alguns anos antes do fim da menstruação, é acompanhada de sintomas como ondas de calor (fogacho), suor noturno, problemas de sono, ansiedade, depressão, mau humor, secura vaginal e queda na libido, entre outros.
“Hoje temos mulheres na faixa etária dos 50 anos em altos cargos executivos, profissionais desempenhando suas carreiras e algumas vezes esses sintomas como as ondas de calor atrapalham em reuniões de trabalho”, exemplifica Letícia Voigt, ginecologista do Centro da Mulher do Hospital Moinhos de Vento. Em alguns casos, pode ser feita a reposição hormonal sistêmica para combater os sintomas indesejados, mas é preciso avaliar os riscos e histórico médico da paciente. Quanto mais tempo desde o início da menopausa, maiores as contraindicações de fazer a reposição hormonal.
Entre os efeitos colaterais do tratamento estão o aumento do risco de câncer de mama, AVC e doença venosa tromboembólica. Por isso, mulheres com diabetes, que já tiveram um infarto ou AVC ou câncer de mama não devem fazer a reposição. Já as medicações tópicas na forma de gel para uso apenas na região vaginal como forma de reduzir a dor e ressecamento na área têm menos absorção na corrente sanguínea, com uma segurança maior para quem utiliza.
Quando a produção de estrogênio é interrompida completamente, cresce o risco de a mulher desenvolver doenças como hipertensão e diabetes. Outro ponto que merece atenção nessa idade é a saúde óssea e o risco de osteoporose. “Manter a prática regular de exercícios físicos e os bons níveis de vitamina D e de cálcio são fundamentais”, recomenda a ginecologista.
Após a menopausa, as mulheres devem manter a rotina de exames como ecografia pélvica, mamografia, checagem de colesterol e glicose e densitometria óssea. Alimentação equilibrada e o cuidado com a saúde mental também são fundamentais.
Na semana passada (28/02), a Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que prevê tratamento do climatério e da menopausa pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Letícia comenta que o SUS forneceu no passado algumas formulações para terapia hormonal, mas que eram muito antigas e acabaram sendo do mercado. “O projeto vai facilitar muito o acesso aos tratamentos de farmacológicos, quando bem indicados por um médico”, avalia.
 
 

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