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Erosões e vegetação inadequada podem ter causado queda da ciclovia da Ipiranga
Dmae contratou um estudo da empresa BSE Engenharia Geotécnica Ambiental para analisar os 18Km do córrego
Por Thiago Müller
Depois de cerca de cinco meses do desabamento da ciclovia no Arroio Dilúvio, a circulação de ciclistas segue suspensa na avenida Ipiranga, no trecho entre as ruas São Luis e Santana, em Porto Alegre. Enquanto isso, a Empresa Pública de Transporte e Circulação orienta que, nos locais em que permanece a interdição, ciclistas utilizem o passeio compartilhado com pedestres.
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Depois de cerca de cinco meses do desabamento da ciclovia no Arroio Dilúvio, a circulação de ciclistas segue suspensa na avenida Ipiranga, no trecho entre as ruas São Luis e Santana, em Porto Alegre. Enquanto isso, a Empresa Pública de Transporte e Circulação orienta que, nos locais em que permanece a interdição, ciclistas utilizem o passeio compartilhado com pedestres.
Este é somente um dos seis pontos que desmoronaram no Arroio Dilúvio. Por isso, o Dmae contratou um estudo da empresa BSE Engenharia Geotécnica Ambiental para analisar os 18Km do córrego. Os trabalhos de inspeção tiveram término em 19 de dezembro, após 45 dias, e as análises devem ser divulgadas na semana que vem. Entre os principais motivos do desabamento estariam erosões e vegetação inadequada.
Como parte do estudo, foi indicado ao Dmae ações emergenciais e sequenciais após verificadas avarias estruturais em vários pontos do Arroio Dilúvio. A empresa recomendou que se continue a interdição de alguns trechos, se contrate projetos e execute estabilizações. Além disso, deve-se, segundo os profissionais que atuaram no estudo, monitorar o local por topografia e realizar a restauração e adequação de elementos hidráulicos do muro, como saídas das galerias e tubulações.
Ainda, como informou a BSE Engenharia, foi realizado um estudo qualitativo dos pontos do trecho. As "trincas e deformações excessivas" correm alto risco de piorar com as próximas enxurradas, caso haja novos temporais no Estado.
Deve-se ressaltar, porém, que o estudo encontra-se em fase de aprovação pelo Dmae. Por esse motivo, o órgão não liberou acesso da equipe de reportagem aos pontos específicos nem seus detalhamentos.
O Engenheiro Civil Luiz Antônio Bressani, da empresa responsável pelo estudo, explica que, embora o muro do arroio tenha uma característica geométrica simples, de pedras de alvenaria em sessões similares em todo seu trecho, os problemas apresentados são variados ao longo de sua extensão. “Existem muitos problemas e causas para esses problemas”, diz.
As avarias
Segundo a empresa, os principais problemas são as erosões, vegetação inadequada no local, infraestrutura e a própria ação do tempo no Arroio. Bressani explica que o fundo do arroio é móvel, não sendo revestido por material sólido. Portanto, a água vai carreando os sedimentos que existem no fundo e depositando-os em outros locais. Quando essa variação de profundidade é muito grande, pode acarretar em efeitos no restante da estrutura, e até rupturas.
Já o engenheiro civil Eduardo Simões, também envolvido no estudo, ressalta que a falta de revestimento do fundo não é um erro. “É uma concepção de obras, mas em cima dessa concepção você deve ter cuidados para manter essa condicionante, para que não eroda excessivamente.”
As chuvas também têm papel na erosão. Isso porque, embora o arroio seja feito para canalizar água pluvial, como não há o fundo revestido, quando há uma chuva muito forte, há uma vazão de água muito alta também. “A correnteza fica tão grande que ela tem uma capacidade muito maior de arraste”, explica Bressani
O potencial de erosão em si, tanto no fundo quanto na lateral, no pé dos muros, está muito associado à velocidade d'água. Por isso, provavelmente os pedestres que passam em alguns trechos do Arroio Dilúvio já viram pequenos "degraus", por onde a água cai. São degraus hidráulicos, sendo entre 20 e 30 ao longo de sua extensão, muitos danificados ou destruídos, outra dificuldade estrutural no Arroio.
Segundo Simões, essa diferença de nível dos degraus impede que a água atinja uma velocidade muito grande, e, com muitos danificados, esse processo não acontece. "O fluxo d'agua tem potencial de erodir muito mais o fundo do canal e as laterais", complementa.
É comum a realização de dragagens no arroio, que também retira material do fundo. Os pesquisadores ponderam que isso é necessário. Por vezes, o material que chega ao Arroio, carreado de outros lugares, deve ser retirado para não diminuir a sua velocidade ideal de vazão. Ponderam que, por outro lado, esse processo de retirada de material não pode atingir certa profundidade, para também não prejudicar a estrutura. Ressaltam não possuírem o controle se foi realizado, ou não, no trabalho do Dmae, escavação excessiva, e que não há evidências que sugerem isso.
Construção iniciou em 1940
As intempéries do tempo juntamente com o alargamento da avenida Ipiranga também possuem papel nesses desmoronamentos: o Arroio Dilúvio teve suas obras iniciadas em 1940, segundo a prefeitura. Com o passar do tempo, a avenida Ipiranga foi aterrada para seu alargamento e foi instalado uma ciclovia. “A geometria foi mudada e isso implicou em uma sobrecarga”, explica Bressani.
Junto dessa mudança, houve outra sobrecarga ao longo do tempo, causada pela vegetação. Com raízes muito profundas, pode afetar as estruturas inferiores, empurrando as bases dos muros de concreto ou quebrando rejuntes, pela ação mecânica. Bressani complementa que, neste local, o gerenciamento da vegetação em mata urbana é muito importante. "Há vegetações mais adequadas do que árvores de grande porte”, diz. Ele relata, inclusive, que “hoje tem raízes que estão lá embaixo derrubando o muro”.
Bressani explica que, embora o Arroio tenha mais ou menos a mesma estrutura em seu trecho, há “uma série de pequenos detalhes que são extremamente influentes no que está acontecendo”, sendo que em alguns casos a erosão foi o principal fator, mas não é o único nem o mesmo em todos os pontos. Segundo ele, várias causas que estão atuando na estrutura não são comuns, um exemplo disso são erosões atrás dos muros das paredes do arroio. “O Arroio Dilúvio não é um problema simples”, resume.