Porto Alegre, qui, 01/05/25

Anuncie no JC
Jornal do Comércio. O jornal da economia e negócios do RS. 90 anos.
Assine agora

Publicada em 29 de Dezembro de 2023 às 18:17

Brasil fecha o ano com cobertura vacinal de Covid em baixa

Cobertura para doses bivalentes de Covid não é homogênea e varia entre 6,1% a 22,4% entre os estados do país.

Cobertura para doses bivalentes de Covid não é homogênea e varia entre 6,1% a 22,4% entre os estados do país.

Ishara S. KODIKARA/AFP/JC
Compartilhe:
Thiago Müller
Thiago Müller
O Brasil fechou o ano de 2023 com uma cobertura vacinal em baixa para Covid-19, em torno de 15,9% para bivalente e 14,8% para as 4 doses monovalentes, seguido de 51% para a terceira. Os dados estão abaixo da meta colocada pelo Ministério da Saúde, esta, de 90%. Todos os três níveis administrativos - federal, estadual e municipal -, citam a disseminação de notícias falsas como o principal fator para adesão vacinal abaixo do esperado. Neste ano, o governo apostou no microplanejamento para adaptar a estratégia vacinal à cenários específicos no País.
Em nível estadual, o Rio Grande do Sul fechou o ano com 17,4% para as 4 doses monovalentes, 54,6% para a terceira, e cerca de 16% para bivalente, de acordo com dados do Painel de Cobertura Vacinal COVID-19 do Ministério da Saúde. A cidade de Porto Alegre tem uma cobertura maior, com 22,6% para a última dose monovalente, 66,9% para a terceira e 27,19% para o reforço bivalente.
No último ano, houve um aumento de casos de Covid-19. Situação que, segundo o Epidemiologista da Ufrgs, Paulo Petry, pode se repetir nessa virada de ano para 2024.
Ele explica que os vírus respiratórios são normalmente sazonais, pela baixa resistência ao calor, mas não quando se trata do SARS-CoV-2, causador da Covid-19, que deve aumentar a circulação com as festas de fim de ano. “O vírus da Covid mostrou que é muito mais sensível a aglomerações do que com clima”, explica.
Segundo o Petry, depois de certo tempo após confraternizações, há repercussão nos números de internações e óbitos, situação preocupante especialmente em função da baixa adesão essa última leva de vacina.
Ainda, para Roberta Lenhardt, chefe da divisão de vigilância epidemiológica em saúde do Estado, isso acontece porque a Covid está altamente relacionada ao comportamento humano. Ela recomenda que, por isso, é muito importante que idosos acima de 60 anos ou pessoas imunossuprimidas procurem receber a segunda dose de reforço da vacina bivalente.
“Pessoas de maior risco, idosos e pessoas com seu sistema imune comprometido, ficam expostas, especialmente as que não fizeram o ciclo vacinal completo”, complementa Petry.
Segundo Roberta, para ter o esquema vacinal completo, deve-se tomar, pelo menos, uma dose de bivalente, para pessoas acima de 18 anos, e reforço com a segunda bivalente, para pessoas acima de 60 anos ou com mais de 12, se imunocomprometidas. O Ministério da Saúde ainda reitera a importância da imunização por meio dessa vacina por proteger também contra a variante Ômicron. Atualmente, a cobertura vacinal bivalente chega a cerca de 10%, entre 18 a 24 anos.
Mesmo para jovens e pessoas fora do grupo de risco, embora não haja tanto risco de agravamento, se o indivíduo, com o status vacinal incompleto, vier a desenvolver a doença, ainda há risco de mutação do vírus. Segundo Roberta, o ideal para evitar isso é diminuir a circulação do vírus, a partir de um grande número de vacinados.
Confira, abaixo, de forma interativa, os dados de cobertura vacinal das vacinas bivalentes no País:
estado com maior adesão é o Distrito Federal (22,4%), seguido de São Paulo (21,3%). Roberta explica que são vários motivos para a baixa adesão, como a percepção de risco da população e movimentos anti-vacina, que acabaram comprometendo a cobertura com disseminação de informações falsas.
A especialista também cita a hesitação vacinal, que se diferencia de um movimento contra o fármaco, e consiste no atraso em aceitar ou a recusa às vacinas, mesmo com sua disponibilidade nos postos, por motivos como medo ou desconfiança.
Mesmo a nível municipal, com a cidade de Porto Alegre apresentando alta em relação à federação, o percentual é considerado muito baixo, de acordo com a chefe da equipe de imunizações do município, Renata Copponi. Ela também cita a disseminação de informações falsas como um dos motivos, além do arrefecimento da frequência da doença. “O pessoal já não está mais falando tanto do Covid, e perde aquele cuidado extra de manter o esquema vacinal em dia”, aponta.
Para aumentar a cobertura vacinal, deve-se lidar com vários tipos de público, cada um com determinadas particularidades, para atingir a meta proposta no Plano Estadual de Saúde, de 90% de cobertura. Por isso, foi utilizada uma estratégia proposta pela Organização Mundial de Saúde, adotada pelo Ministério para campanha de multivacinação em 2023 - o microplanejamento

Adaptar a vacinação às necessidades locais

A chefe da seção de imunizações do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS-RS), Eliese Denardi Cesar, explica que, para se elevar a cobertura vacinal, não existe uma fórmula única. "É olhar para o território e fazer o planejamento a nível local, não é o Estado, ou o Ministério que vai dizer o que tem que fazer em todos os municípios. Eles são diferentes entre si", destaca.
Eliese reitera que esse planejamento é “ascendente” - ou seja, começa em âmbito local. Mesmo assim, envolve todos os níveis administrativos da federação. Segundo o Manual de Microplanejamento para as Atividades de Vacinação de Alta Qualidade, o estado é o facilitador de recursos, enquanto o Ministério faz o quadro estratégico, como definição de linhas de ação, diretrizes, objetivos e metas.
No microplanejamento, se trabalha com estados e municípios para melhorar o planejamento das ações com base nas características próprias de cada local. As equipes do Ministério da Saúde vão aos estados para participar de ações como análise de dados, características geográficas, socioeconômicas e demográficas locais. Dessa forma, definem e adaptam estratégias para a vacinação baseados nas necessidades específicas, tanto nos postos de saúde quanto fora deles.
Assim, a estratégia de imunização será adaptada conforme a população, estrutura de saúde, geográfica e realidade socioeconômica.
O Ministério cita como exemplos as estratégias de vacinação diretamente em escolas, a busca ativa de não vacinados, ações tanto dentro quanto fora dos serviços de saúde e intensificadas em áreas indígenas, checagem das cadernetas de vacinação, e outras necessidades que possam ser identificadas.
No caso de Porto Alegre, conta a chefe da equipe de imunizações do município, Renata Copponi, uma das ações realizadas foi a multivacinação focada no público abaixo de 15 anos, posicionamento repetido também a nível estadual. Essa decisão surgiu porque foi identificado que “o ambiente escolar é um ambiente potente para isso”, complementa Eliese.
Para colocar essa estratégia em prática, Eliese diz que foram formados “facilitadores” por meio de capacitação própria do Ministério da Saúde. “Após essas oficinas, eles retornaram para o seu município, para aplicar essa metodologia que foi utilizada para multivacinação”, explica.
O Ministério da Saúde tinha como meta reverter uma tendência de queda de coberturas vacinais que iniciou em 2016. Com o Movimento Nacional pela Vacinação e a estratégia de microplanejamento, a pasta divulgou que, até o dia 20 de dezembro, houve um aumento de vacinação infantil para várias doenças em relação a 2022. Confira no gráfico abaixo:
O Ministério informa que, dentre os dados levantados, foram ministrados cerca de 5,1 milhões de doses que ainda não estão na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), por problemas de CPF ou Cartão Nacional de Saúde do indivíduo.

COVID

Diferentemente dessas vacinas, a cobertura vacinal de Covid-19 teve uma redução drástica. No caso das monovalentes, que envolvem até quatro doses, foram aplicadas 162 mil doses em 2022, e apenas 14 mil neste ano. Já a bivalente começou a ser aplicada somente neste ano, com um total de 31 mil doses.
O epidemiologista Paulo Petry considera essa diferença fruto da diminuição dos números da Covid-19 após a liberação das vacinas no Brasil, juntamente à percepção de risco da população em geral. "Não é mais aquela doença que assusta. Especialmente entre os vacinados, ela tem sido mais leve", explicou. Petry também aponta o “desdém inicial de grupos políticos” como um dos motivos que prejudicaram a cobertura vacinal. Porém, deixa um alerta. “As pessoas negligenciam porque parece que não vai mais acontecer, mas tem acontecido. Felizmente, entre os vacinados, de uma forma já mais branda.”

Avalie esta notícia

Comentários

0 comentários