O Edifício Galeria XV de Novembro, também conhecido como Esqueletão, que fica no Centro Histórico de Porto Alegre, será demolido no próximo dia 8 de janeiro. O prédio, que conta com 19 andares, está inacabado desde a década de 1950. Ele foi completamente evacuado, portanto não contava com nenhum morador desde o ano de 2021. O processo de desmanche preocupa os comerciantes da vizinhança.
Apesar de estar desocupado e contar com uma estrutura não finalizada, os comerciantes locais não se mostram satisfeitos com o anúncio da obra. "Para nós, esse processo de demolição será um transtorno, eu acho que vamos ter de parar de trabalhar", diz Iara Portes, que trabalha em uma floricultura em frente à construção há 49 anos.
Ela afirma que, se dependesse dela, não haveria obra alguma no local. "Faz mais de 60 anos que está assim. Eu preferia que ficasse assim mesmo. O prédio não está incomodando ninguém", avalia.
O também comerciante Humberto Kessler relembra a época em que o prédio ainda era ocupado. "Antes da evacuação completa, tinha moradores até o quarto andar. Estou aqui há 25 anos e esse é um problema que persiste até hoje."
Kessler diz que já ouviu diversas promessas da prefeitura e de engenheiros, e questiona se dessa vez realmente haverá obra. "Já foi anunciado há tempos, resta saber se realmente vão começar. Para mim não muda nada se vão derrubar um prédio para construir outro. O que tem ser feito é aumentar o fluxo de pessoas no Centro. O que me preocupa é que hoje se tem tudo nos bairros, então as pessoas não precisam mais vir para cá. Daqui a 10 anos o centro não existirá mais", afirma.
Quatro décadas vivendo no Esqueletão
Constituído nos anos 50, o prédio abriga diversas histórias. É o caso da de Luiz Carlos Dos Santos. Comerciante, passou mais da metade da sua vida com uma loja dentro da edificação. "Tive minha loja nos primeiros andares do prédio durante 40 anos. Há dois, fui expulso. Tinha alvará para ficar mais um ano. Duzentos policias fecharam toda a quadra e tiraram todo mundo correndo. Meu cofre está lá ainda", relata.
Foram feitas diversas tentativas junto às autoridades para que o prédio fosse concluído. "Muito tempo atrás, protocolamos um pedido junto à prefeitura para que ela tomasse alguma providência. Nenhuma atitude foi tomada. O prefeito de Porto Alegre (Sebastião Melo), quando ocupava outro cargo, disse que a prioridade dele era derrubar o prédio, mas mesmo que derrube este, tem os outros atrás que também são feios", declara Dos Santos.
Luiz Carlos trabalhou durante 40 anos dentro do edifício. Crédito: Tânia Meinerz/JC
Ainda não há confirmação relacionada ao que será feito no terreno após a demolição, porém o lojista já especula o que acontecerá no local. "Vão demolir para construir algo no mesmo lugar. Algum empresário vai lucrar, enquanto os moradores foram expulsos. Infelizmente o poder público é assim. Eles não tão nem ai."
Como será a demolição
Segundo o secretário municipal de Obras e Infraestrutura, André Flores, o processo será realizado em oito etapas e em três macro cronogramas. O primeiro é relativo à preparação dos licenciamentos do prédio. O segundo é da demolição manual dos nove andares superiores e remoção desse entulho. E a terceira é a implosão dos andares restantes e a remoção dos entulhos derivados dessa ação. "A implosão será feita durante o fim de semana em uma área isolada a ser determinada pelos especialistas para garantir a segurança de todos", afirma o secretário.
Em entrevista, ele aponta que este formato de serviço foi o escolhido por ser o mais eficiente e com menos transtorno ao entorno da edificação. Além disso, Flores diz que a obra se entenderá por, em torno, de 180 dias.
Em relação a esses transtornos, o secretário garante que os escombros não trarão impacto à região, tendo em vista que cairão na própria área do terreno. "O que ocorrerá é um tráfego de veículos principalmente à noite, quando estes removerão os materiais. Isso pode trazer complicações, mas o centro é uma região viva, não há como fazer uma obra ali sempre que haja algum tipo de modificação na rotina", discorre Flores.
Em relação a distância do Esqueletão para com os outros prédios, ele aponta que todos as construções localizadas nas proximidades terão seguro feito pela empresa responsável pela obra.