Em Porto Alegre, ativistas ambientais cobram do governo medidas contra os efeitos climáticos

Mobilização reuniu dezenas de ativistas e manifestantes no centro da cidade

Por Bárbara Lima

Marcha pelo decreto de emergência climática no Rio Grande do Sul. Organizado pelo movimento de jovens ativistas Eco Pelo Clima.
Ativistas ambientais se reuniram, na tarde desta sexta-feira (03), em Porto Alegre, para cobrar do governo do Estado do Rio Grande do Sul mais medidas para evitar e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Com a chuva, a marcha, que estava prevista para iniciar no Mercado Público, no centro, foi adiada. Em vez disso, dezenas de manifestantes se encontraram no auditório do Sindibancários para debater a necessidade de um ‘decreto de emergência climática’ e de uma transição energética no Estado. Por volta das 15h, com a trégua na chuva, eles saíram em marcha até o Piratini enquanto gritavam palavras de ordem e levantavam cartazes com as frases: “Transição energética limpa” e “Mais carvão = Mais Enchentes”.

Segundo Jonathan Feijó, cofundador do Eco Pelo Clima, movimento que convocou a mobilização, os principais objetivos são o decreto de emergência climática no Rio Grande do Sul por meio da aprovação do Projeto de Lei 23/2023 e uma transição energética que seja limpa, mas também justa e popular. “A partir do decreto, podemos pensar ações significativas de combate à mudança climática e também de adaptação aos fenômenos. A ideia é que o governador entenda que as pessoas estão, sim, preocupadas com o que está acontecendo”, pondera.

O cofundador do Eco Pelo Clima acrescenta: “Não basta ter transição energética. Os moradores tradicionais da Lagoa dos Patos, por exemplo, estão com o seu estilo de vida ameaçado porque os parques eólicos são construídos sem consulta à população que mora na região”, explica. Ele afirma, ainda, que a marcha foi uma demanda da audiência pública da Comissão de Saúde e Meio Ambiente, que ocorreu no dia 18 de setembro, e que outras ações serão realizadas, como uma coalizão de todos os agentes interessados no assunto. “Temos uma agenda de atividades para que a mobilização não cesse. Assim, podemos pressionar o governo”, diz.

O estudante Arthur, de apenas 12 anos, foi à manifestação e se mostra preocupado com o futuro da sua geração. “Está tudo estranho. Eu acho importante lutar, porque se não começar a lutar agora, não vamos ter mais mundo para viver. Com o que está acontecendo com as emergências climáticas, o mundo pode acabar.” Ainda segundo ele, são poucas as crianças da sua escola que se mobilizam pela causa ambiental. “Acredita que são poucas? Bem pouquinhas”, enfatiza.

Para o guarani Cristiano Kuaray, a união entre os povos, indígenas e não indígenas, é essencial para combater os efeitos das mudanças climáticas e pressionar governos em busca de soluções. “ É muito importante que todos se movimentem, que busquem estratégias para o futuro”. Ele também destaca que os governantes deveriam “ouvir mais os povos originários que entendem desse assunto. Assim, teríamos mais apoio”. Durante o ato, houve um minuto de silêncio pelas vítimas das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em setembro, no maior desastre ambiental do Estado nas últimas décadas.

A manifestação teve apoio das organizações 350.org, ClimaInfo e IDEC e faz parte de uma onda de mais de 170 ações, que serão realizadas em pelo menos 60 países, em novembro e dezembro, sob a liderança de comunidades atingidas pela crise climática e com apoio da 350.org.

“É uma pauta que não tem a prioridade que deveria”, afirma deputado sobre debate ambiental na ALRS


O deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) participou do ato e da marcha que reivindicou mais ações do governo para combater as mudanças climáticas no Estado. Segundo ele, essa “é uma pauta que não tem a prioridade que deveria” dentro do Parlamento gaúcho. “É um debate menosprezado, isso tem um custo para a população”, reflete.

Ele disse ainda que nenhum projeto foi votado no plenário sobre o tema este ano e considera que o Projeto de Lei para declarar emergência climática no Rio Grande do Sul (PL 23/2023), que encontra-se parado na Assembleia Legislativa do estado, poderia tramitar mais rapidamente na Casa se o governo tornasse a pauta ambiental uma prioridade. “Nosso PL foi apresentado no primeiro dia de legislatura, já poderia ter um parecer e estar pronto para votar, mas não aconteceu”, conta.

Gomes defende que o reconhecimento formal a partir da aprovação do PL pode mobilizar a sociedade como um todo. “É uma medida que terá impacto, porque todas as áreas, então, precisam estar mobilizadas. O planejamento ambiental precisa balizar as intervenções do governo nas outras áreas”, analisa.