Atualizada às 15h30min
A Polícia Federal (PF) investigou por seis meses a atuação fraudulenta de 10 médicos do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre. Eles chegavam à instituição, registravam o ponto eletrônico por meio de digital e saíam para trabalhar em diferentes lugares, como clínicas e outros hospitais. O fato chegou à PF após uma denúncia anônima e, durante os últimos meses, policiais acompanharam o comportamento dos alvos para verificar as irregularidades.
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A partir das diligências realizadas por agentes da PF, foi constatado que os médicos, em várias ocasiões, faziam o registro do ponto mas de fato não trabalhavam no hospital. Em alguns dias, os suspeitos entravam por uma porta e deixavam o local por uma saída diferente e em outras ocasiões, conforme apuraram os policiais, os profissionais retornavam ao hospital com roupas diferentes.
“Fizemos um trabalho exaustivo de investigação acompanhando esses alvos, verificando que eles não cumpriam a jornada que deveriam cumprir. Tinham outras ocupações, alguns faziam algumas atividades diárias e corriqueiras”, explicou o superintendente regional da Polícia Federal, Aldronei Rodrigues, durante entrevista coletiva na manhã desta terça na sede da PF em Porto Alegre.
As investigações realizadas na Operação Hipócrates ficaram a cargo da Delegacia de Combate à Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor), coordenada pelo delegado da PF Eduardo Dalmolin Bollis. A apuração não envolveu episódios de falta eventuais ao trabalho, mas sim as movimentações em um mesmo dia de entrada e retorno ao hospital no fim do expediente.
Os médicos possuíam uma carga horária mas não tinham um horário de chegada ou de saída determinado. Isso levou a PF a mobilizar diversas equipes para acompanhar a chegada dos investigados ao hospital e verificar se eles permaneciam de fato trabalhando.
“Começou a chamar atenção que eventualmente alguns médicos entravam por um portão, davam toda uma volta para sair por outro portão e se dirigirem para outro compromisso, atender em outros hospitais, em clínicas ou alguns iam para casa. O pessoal da vigilância continuava acompanhando e viu que muitos desses profissionais voltavam ao hospital para permanecerem alguns minutos, quatro, cinco, seis horas depois, apenas para aquilo que nós constatamos que seria o fechamento do ponto deles”, explicou Bollis.
Os investigados não possuíam todos a mesma rotina nem desempenhavam a mesma carga horária ou deveriam chegar na mesma hora ao hospital. A saída durante o expediente não ocorria também diariamente, era um comportamento que oscilava. Segundo Bollis, até o momento não há indícios que comprovem um conluio entre os médicos ou que eles fossem um grupo coordenado, nem tampouco se os envolvidos na fraude se conheciam ou ainda que alguém no HNSC os tenha favorecido. Os profissionais trabalhavam em diferentes áreas do Conceição.
Nesta manhã, na chamada fase ostensiva da Operação Hipócrates, foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão em consultórios médicos e outros hospitais onde os investigados trabalhavam na Capital. Os materiais vão permitir confrontar os dados de registro de ponto no Conceição com outros compromissos e atividades desempenhadas pelos médicos nos mesmos dias, mas em outros locais.
Os investigados ainda não foram ouvidos para prestar esclarecimentos e nem tiveram os nomes divulgados. A partir das oitivas, será possível avaliar os impactos no atendimento prestado à população, uma vez que o Hospital Nossa Senhora da Conceição é vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Eles recebiam salários que variavam de R$ 14 mil a R$ 31 mil .
O delegado regional de Polícia Judiciária, Thiago Delabary, lembra que este não é o primeiro caso policial envolvendo irregularidades no cumprimento de jornada de trabalho por servidores da saúde. Ele avalia que a Operação Hipócrates tem um aspecto pedagógico de servir de exemplo para que esse tipo de crime não seja reproduzido.
“O SUS sofria prejuízos no momento em que o profissional que recebia pela disponibilidade do seu serviço, pela prestação, se ausentava injustificadamente do seu do local de trabalho. Em um número de 10 profissionais comprovados, isso representa um decréscimo em qualidade”, ressalta.
O Grupo Hospitalar Conceição (GHC), responsável pelo Hospital, abriu uma sindicância para apurar as irregularidades. Segundo nota da instituição, caso comprovada a fraude, os profissionais serão demitidos.