O Sindisaúde-RS, sindicato que representa os trabalhadores da saúde no estado, realizou um ato nesta sexta-feira (17) em frente ao Instituto de Cardiologia de Porto Alegre, após a demissão de 280 trabalhadores do quadro funcional. Segundo nota da assessoria do hospital, o corte, que representa 20% dos empregados, se deu por um acordo com o Ministério Público e gestores da área da saúde para reduzir a folha de pagamento.
Para o diretor do sindicato, Julio Jesien, um dos objetivos do ato é também buscar informação da Direção do hospital sobre “quantos [empregados] estão sendo demitidos de fato e qual é a previsão de vocês de indenizar esses trabalhadores como um todo, porque a gente tá falando de muito dinheiro”. Segundo nota do instituto, o hospital passa por necessidades financeiras.
Jesien afirma que o problema existente, além da gestão do órgão, “é uma questão política que envolve o município, o estado e a direção do Cardiologia”. Isso, segundo ele, é explicado pelo fato de que as mesmas dificuldades financeiras são vistas em outros hospitais, não somente no Instituto. O diretor do sindicato afirma que, portanto, o motivo da crise do hospital reside também no Assistir, programa do Governo do estado, que reorganizou os recursos destinados à saúde em 2021.
De acordo com Jesien, é "o Estado do Rio Grande do Sul que não reconhece trabalhos fundamentais como esse hospital”, não destinando verbas suficientes. Na última terça-feira (14), o governador Eduardo Leite anunciou que o estado iria analisar uma proposta de acréscimo de R$ 500 milhões para incentivos hospitalares no programa Assistir, criado em 2021. “Finalmente o governo essa semana reconheceu que faltam 500 milhões na saúde, mas falta há quanto tempo, né? Há dois anos, então é isso que a gente tá dizendo” complementa.
Processo de demissão:
O processo que levou à demissão, para o diretor do Sindisaúde-RS Julio Jensien, teve início após uma greve de enfermeiros por conta do atraso de salários, em julho deste ano, que terminou no corte de um quinto do quadro de funcionários. Isso, somado às condições de trabalho que já eram apresentadas, no tempo, como a pressão psicológica junto à pandemia e após, acabam por piorar o serviço oferecido. “Com que força os trabalhadores vão estar conseguindo desempenhar as tarefas? Principalmente porque a gente já tinha denúncia de sobrecarga de trabalho”, questiona.
A ex-integrante do hospital Cristiane de Oliveira, de 47 anos, relata ter trabalhado 17 anos no local antes da demissão, que ocorreu após ela ter participado da greve dos funcionários, em julho do ano passado. Porém, ela afirma que não se sabe o motivo foi a paralisação. O secretário de cultura da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Paulo Farias, afirma “a gente desconfia que foi por motivo da greve, com certeza, e se isso foi por motivo da greve, é mais um argumento com a justiça”.
A ex-funcionária conta que, em uma reunião da direção do Instituto com o sindicato para finalizar a suspensão, o representante do hospital na época garantiu que não haveria demissões por oito meses. “O que se estenderia até março, e nós estamos em novembro”, diz.
Segundo ela, o hospital já vinha atrasando salários e insumos e pagamento de fornecedores, ocorreu também redução de exames e procedimentos, e o estabelecimento já não contava mais com anestesistas pelo SUS, somente por convênio.
O processo de demissão, para Cristiane, foi “totalmente seco e desumano”, e abarcou funcionários de tempo de contrato variado. Hoje, ela relata ter onze parcelas do FGTS atrasadas, que devem ser pagas pelo empregador.
Paulo Farias, por sua vez, afirma que “o sindicato vai entrar com todas as ações amparadas na lei trabalhista”, para que o pagamento dos créditos do Fundo de Garantia seja realizado, assim como as rescisões pendentes, e outros direitos que vieram a ser lesados sejam ressarcidos.