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Publicada em 23 de Novembro de 2023 às 13:47

Gripe Aviária: combate mira nos focos e não nos casos individuais

RS tem um total de cinco focos de gripe aviária; total de animais mortos somam 840

RS tem um total de cinco focos de gripe aviária; total de animais mortos somam 840

Seapi/divulgação jc
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Thiago Müller
Thiago Müller
O Rio Grande do Sul conta, nesta quinta-feira (22), com um total de cinco focos de gripe aviária, todos em animais silvestres: dois, em aves, já encerrados; três, em leões e lobos-marinhos, ativos. Ao todo, já são 840 animais entre mortos e doentes, segundo o Relatório do Monitoramento de Encalhes de animais Marinhos recebidos pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado (Seapi). Cerca de 53% dos casos foram registrados no município de Santa Vitória do Palmar.
O Rio Grande do Sul conta, nesta quinta-feira (22), com um total de cinco focos de gripe aviária, todos em animais silvestres: dois, em aves, já encerrados; três, em leões e lobos-marinhos, ativos. Ao todo, já são 840 animais entre mortos e doentes, segundo o Relatório do Monitoramento de Encalhes de animais Marinhos recebidos pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado (Seapi). Cerca de 53% dos casos foram registrados no município de Santa Vitória do Palmar.
Em todo o Brasil, são 148 focos até o momento, segundo o painel demonstrativo do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Já o número de indivíduos total não é divulgado no repositório, sendo mantido apenas para controle interno. Cinco desses focos são de mamíferos marinhos, três de aves de subsistência, enquanto outros 140 são de aves silvestres.
De acordo com orientações do comunicado do MAPA, limitar a exposição de aves é a principal medida de mitigação. Além disso, ao diminuir a introdução do vírus, diminui-se o risco de evolução para formas altamente patogênicas e a recombinação dele com componentes de outros vírus que não só podem infectar seres humanos, como serem transmitidos de uma pessoa para outra. O vírus de influenza tipo A, como é a gripe aviária, já apresenta alta capacidade de mutação e consequentemente de adaptação a novos hospedeiros.
Vigilância focada em aves
O doutor em ciências biológicas e pesquisador na área de microbiologia, com ênfase em virologia animal, Claudio Canal, explica que a contagem de infectados até agora é um ponto de atenção. Embora o vírus não seja adaptado ao humano, “quanto mais animais estiverem infectados, mais chance de nos contaminarmos, e esse vírus mutar tanto no leão marinho quanto no humano infectado e se adaptar”, diz ele.
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em sua avaliação de risco, também argumenta que o aumento da detecção da influenza entre mamíferos e humanos, como pode ser constatado com os leões e lobos-marinhos, levanta preocupações de que o vírus possa se adaptar para infectar pessoas, já que esses animais são biologicamente mais próximos de nós. Entretanto, a entidade garante que, até o momento, há evidências limitadas de mutações associadas à adaptação a mamíferos e humanos.
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Quando o assunto é transmissão, preocupação maior é com as aves (Foto: ESEC/Taim/Divulgação/JC)
Ainda na avaliação, o risco de infecção para os seres humanos permanece baixo e, até a data da publicação (agosto/2023), não foi relatada transmissão sustentada de humano para humano em nenhum local do mundo. Além disso, segundo o último relatório epidemiológico do órgão, o controle da doença em animais é a primeira medida para reduzir o risco.
Para a transmissão, as aves é que representam maior importância, não os mamíferos. Segundo Canal, isso acontece pelo número de indivíduos que seriam infectados durante a criação comercial, o que aumenta exponencialmente a chance de uma possível mutação e adaptação. “O fator chave é a ave comercial, que é o bando gigantesco que a gente tem”, complementa. Conforme ele, a detecção de aves infectadas também ocasionaria a paralisação das exportações avícolas no Brasil. Dentro disso, há o eventual contato das aves industriais com as silvestres.
O comunicado do MAPA também explica que a exposição direta a aves silvestres infectadas é o principal fator de transmissão, já que apresentam infecção sem necessariamente adoecer, permitindo transportar o vírus.
Conforme complementa o diretor-adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Seapi, Francisco Paulo Nunes Lopes, a importância maior reside nessa mobilidade, em comparação aos mamíferos, e a facilidade em contatar propriedades rurais. Segundo ele, o empenho na retirada dos animais das praias seria para “diminuir essa carga viral, e a contaminação ambiental pelo vírus que pode ocorrer em alguma ave”
Já a contaminação em aves de subsistência, aquelas usadas no consumo do próprio produtor, ocorreu pela primeira vez em 27 de junho no País e deu origem à três focos, todos fora do RS, que já estão encerrados, e outros dois, atualmente em análise, sendo um em Manaus e um no Espírito Santo, segundo painel demonstrativo do MAPA. Nunes Lopes alerta para o risco. “Pode ter o espalhamento mais rápido entre propriedades vizinhas e em algum momento isso chegar próximo de uma avicultura”, aponta, reiterando que as medidas de biossegurança das granjas comerciais de aves são "bem mais rígidas", e, para esses casos existem protocolos para se verificar o espalhamento da doença ao redor dos estabelecimentos. O Plano de Contingência para Emergências Zoossanitárias do Ministério, nesses casos, prevê a contenção de uma área ao redor do foco de 3km, vigilância por 7km e proteção por 15km ao redor da área constatada, podendo variar, conforme as características de cada local. Cada um desses perímetros tem, por sua vez, as próprias medidas de prevenção e controle, incluindo barreiras sanitárias, investigação, desinfecção, vigilância e sacrifício dos animais infectados.
Nunes Lopes ainda reitera que, mesmo existindo algumas propriedades com criação de subsistência, o litoral gaúcho não é uma região de criação comercial de aves. Ele ainda relata que foi feito um trabalho de educação sanitária com produtores rurais para que eles façam o cercamento dos animais e não os deixem soltos, evitando o contato com aves silvestres.
Casos e focos
Os números entre acometidos e focos apresentam grande diferença. Isso acontece porque, segundo a Ficha Técnica de Influenza Aviária (IA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), foco é a unidade epidemiológica onde foi confirmado um caso de Influenza Aviária. Assim identificam-se focos quando há novas incursões do vírus em espécies ou locais inéditos, como explica a coordenadora do Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) na superintendência do Ministério da Agricultura do Rio Grande do Sul, Taís Barnasque. "Quando identificamos outros indivíduos da mesma espécie e na mesma região, no mesmo ecossistema, não contabilizamos novos focos e sim mais casos sobre a mesma incursão”. Portanto, quando o caso acomete uma espécie já contabilizada em um local já registrado, é presumida e registrada a morte por gripe aviária sem registrar um novo foco da doença.
Para o virologista Claudio Canal, testar todos os animais que podem ter morrido da Influenza incorre em dois problemas: a falta de efetivo para realizar os testes é um deles. O outro é que, quanto mais animais forem examinados, maior a chance do humano que está manipulando o infectado contrair a doença. “Você não precisa examinar todos eles. Só vai contando os animais mortos, e enterrando”, complementa.
Ainda, o número de focos não traduz, necessariamente, a quantidade de indivíduos acometidos. No RS, a quantidade exata de animais infectados pode ser conferida na planilha interna da secretaria. Esse número, porém, não consta no painel do MAPA, que mostra os casos a nível federal, separado em focos confirmados, em investigação, e descartados, e por grupos de animais.
A planilha interna da secretaria, por sua vez, apresenta aumento repentino de casos dependendo do dia analisado. Para Canal, a situação esperada do vírus seria um aumento ou diminuição gradual. Ele afirma que, como o padrão internacional é realizar os relatórios com base em Semanas Epidemiológicas (SE), essa diferença de picos é diluída ao longo das semanas.
O número de casos individuais, por outro lado, é contabilizado apenas internamente, conforme explica Taís Barnasque, “mas não para fins de execução no campo”. Segundo ela, informar o número de indivíduos, em vez de focos gerais, é um dado específico que não altera a dinâmica de ação, nem a estratégia de vigilância do órgão público. “Para fins de controle de doença, é importante identificarmos os focos, a localidade e a espécie envolvida”, diz.
Assim, não existe a comunicação individual dos indivíduos acometidos, segundo Francisco, Diretor Adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal. Já conforme Taís, ao realizar a comunicação somente por focos, “facilitamos entendimento através do [software] [Power] BI do ministério da agricultura para o entendimento público”. Além disso, afirma, a informação nos repositórios pode ser tão especializada, que se torna de difícil compreensão para pessoas que não são da área de saúde.
Ainda, o banco de dados da Organização Mundial para a Saúde Animal, com o panorama mundial, pode ser verificado no site da organização, com o instrutivo em português da secretaria.
Taís ainda ressalta que não há informação na comunidade científica que aponte risco ao consumo de carne proveniente de aves. Mas chama atenção para que as pessoas não se aproximem dos animais silvestres e não tentem resgatá-los.
Segundo a Seapi, caso encontre animais mortos ou doentes nas praias, deve-se notificar os órgãos do Estado pelo WhatsApp ou as autoridades locais:
• Agricultura - (51) 98445-2033
• Meio Ambiente - (51) 98593-1288

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