Estudo analisa os impactos do tipo mais agressivo de câncer de mama

No Brasil, 21% dos casos de câncer de mama diagnosticados são do subtipo Câncer de Mama Triplo-negativo

Por JC

Thomas Hofmarcher, economista especialista em saúde do Institute for Health Economics (IHE) da Suécia
Luciane Medeios, de São Paulo
O câncer de mama representa 29% de todos os novos casos de câncer entre as mulheres da América Latina e 17% das mortes na população feminina com a enfermidade. Estudo realizado pelo Institute for Health Economics (IHE) da Suécia analisou a incidência da forma mais agressiva da doença, o Câncer de Mama Triplo-negativo (CMTN), e os desafios enfrentados pelas pacientes e sistemas de saúde na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México. No Brasil são cerca de 21% entre as mulheres diagnosticadas.

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O levantamento “Melhorando os resultados para mulheres com Câncer de Mama Triplo-negativo na América Latina” foi feito pelos economistas especializados em Saúde Thomas Hofmarcher e Andrea Manzano, que fazem uma avaliação dos impactos sociais e econômicos e o que dificulta a descoberta da doença nas fases iniciais. Durante o 20° Seminário Latino-Americano de Jornalismo em Ciência e Saúde, realizado nos dias 19 e 20 de setembro em São Paulo, Hofmarcher destacou a escalada dos novos casos de câncer de mama na América Latina, sobretudo do subtipo CMTN, que se desenvolve mais rapidamente.

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“O triplo-negativo é caracterizado por ser um tipo mais agressivo de câncer e muitas vezes carrega um fardo econômico significativo, que se difere conforme os estágios da doença, se diagnosticado cedo ou tarde. Isso também tem implicações nas chances de sobrevivência das mulheres e enfatiza os vários desafios na América Latina que devem ser endereçados a diferentes partes da sociedade, indo além do Ministério da Saúde”, exemplifica.
A qualidade de vida é pior, o que impacta na vida dos demais membros da família. O CMTN demanda apoio e ajuda na rotina diária da paciente, que precisa ir e voltar frequentemente para o hospital. “A mulher necessita de ajuda em casa para cozinhar, para limpeza, cuidar dos filhos ou de pais idosos. Vários estudos mostram que o câncer de mama requer 6,4 horas por dia de ajuda, o que é um número elevado”, analisa Hofmarcher.
As pacientes relatam sofrer mais com depressão, ansiedade, pensamentos negativos e ter sentimento de insuficiência em relação aos outros tipos de câncer de mama. A doença também afeta a vida profissional das mulheres, que não podem trabalhar temporariamente ou precisam deixar o emprego em definitivo, têm medo do desemprego e receio de enfrentar discriminação no local de trabalho.
O diagnóstico do câncer é feito em quatro diferentes estágios - I, II, III e IV. Conforme o estudo, quanto mais cedo o diagnóstico, menor o gasto médico com os pacientes por ano na América Latina, que dobra entre a fase inicial da doença e a última. São gastos em média US$ 13.179,00 no estágio I, US$ 15.556,00 no II, US$ 23.444,00 no e US$ 28.910,00.
No Brasil, a maioria das confirmações ocorre nos estágios III e IV; apenas 20% no I e 35% no II. Entre os países que foram objeto da pesquisa, o único que está no patamar considerado ideal pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é o Chile, onde 60% dos casos são detectados nos estágios I e II. “O Brasil não está alcançando o objetivo da OMS, há muitas mulheres que são diagnosticadas com a doença em estágio avançado”, lamenta.
Além de melhorar a qualidade de vida da paciente, descobrir a doença cedo garante maior tempo de sobrevivência. As mulheres com o Câncer de Mama Triplo-negativo têm a menor taxa de sobrevivência entre os subtipos da doença, sendo cinco anos a menos em média no Brasil, Chile e México.
Uma série de desafios retarda a detecção da doença nas fases iniciais: o atraso na realização de exames como mamografia e ecografia mamária, ainda represados por conta da pandemia de Covid-19; dificuldades enfrentadas pela saúde pública e dependência do setor privado; poucos programas de triagem populacional, escassez de mamógrafos e desconhecimento sobre os primeiros sinais de câncer. “Algumas mulheres têm medo do diagnóstico, o que as impede de buscar rastreamento, como se ignorar a doença ou os sintomas fará com que não exista. E há casos em que a mulher, no acesso primário à saúde, consulta com médicos que não têm conhecimento dos sintomas de câncer de mama e o encaminhamento acaba sendo tardio”, complementa, cobrando a melhor capacitação dos profissionais da saúde primária.
Como soluções para os problemas enfrentados na América Latina, o estudo propõe o incentivo à educação em saúde para promover a detecção da doença em fases iniciais; garantir um bom serviço de atenção primária; reestruturação dos programas voltados ao câncer; oferta de equipamentos de rastreamento com ótima qualidade de imagem; avaliação patológica rápida e eficiente para determinar o subtipo de câncer, essencial para a definição do tratamento mais adequado; disponibilizar a todas as pacientes os medicamentos existentes e a adoção de inovações na prática clínica.