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Mercado Público completa 154 anos com promessa de melhorias
Nesta terça-feira foram distribuídas 1.200 fatias de bolo à comunidade, que se reuniu no mais antigo espaço comercial da Capital
Referência no varejo e na cultura do Rio Grande do Sul, o Mercado Público de Porto Alegre completa 154 anos nesta terça-feira (3). Para marcar a data, a Associação do Comércio do Mercado Público Central (Ascomepc) distribuiu cerca de 1.200 fatias de bolo à comunidade, que se reuniu para celebrar o aniversário do espaço comercial mais antigo da Capital.
O bolo foi confeccionado na unidade móvel do Senai localizada no Largo Glênio Peres e deslocado para a área central do Mercado. Com imagens que remetiam às bancas do centro comercial, como peixarias, açougues e fiambrerias, o bolo tinha 70cm x 1,50m, e sua receita teve mais de 50 litros de chantilly, 50 kg de doce de leite e 100 ovos.
"Gostamos de proporcionar isso para toda a população. Em um dia como hoje, é possível ver que tem muita gente envolvida, desde a imprensa, fornecedores, trabalhadores, autoridades e os clientes, que são a alma para mantermos de pé essas paredes históricas", afirmou Rafael Sartori, presidente da Associação dos Permissionários do Mercado Público (Ascomepc).
"Temos um plano de obras junto da prefeitura. Estamos opinando, porque estamos no front. Sabemos quais são as questões estruturais. Vão ter novidades em relação às obras e alguns melhoramentos internos", antecipou Sartori.
A solenidade contou ainda com a presença de autoridades como o prefeito Sebastião Melo, secretários municipais e deputados estaduais. "Você pode morar no São Judas, no Lami, no Partenon, mas é um pouco do Centro. Eu vou no Centro, vou no Mercado, vou rever o Centro. Parabéns aos mercadeiros, aos clientes do Mercado e a todos nós que amamos o Mercado", destacou o prefeito de Porto Alegre.
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Com a abertura do Mercado aos domingos, o prefeito comemorou que um dos investimentos tem sido na área cultural do espaço. "Estamos trazendo para cá, todos os domingos, música. Vamos aumentar, talvez [façamos] shows aqui dentro, mais exposições, ou seja, o Mercado tem que ser atrativo aos domingos. Temos belas atrações gastronômicas em Porto Alegre, mas temos mais uma maravilhosa que é o Mercado Público e ele precisa ter atratividade, então vamos aumentar a participação cultural no Mercado Público", garantiu Melo.
O prédio em estilo neoclássico foi inaugurado como Mercado Público de Porto Alegre no dia 3 de outubro de 1869, mas só começou a operar no início de fevereiro de 1870. Anteriormente, além de armazéns, cafés, bares, açougues, fruteiras e restaurantes, o prédio também abrigava estabelecimentos como barbearias, hotéis e companhia de seguros. Patrimônio cultural da cidade, o prédio resistiu à enchente de 1941 e a quatro cheias de grandes proporções, nos anos de 1912, 1976, 1979 e 2013.
Entre os episódios históricos que marcaram o local está a ameaça de demolição no início da década de 1970. "Na época, era prefeito Telmo Thompson Flores e a ideia era demolir o Mercado para fazer uma passagem direta com a Castelo Branco", conta Carla Irigaray, jornalista aposentada que foi casada com Walter Galvani, o homem que salvou o Mercado ao iniciar campanha para a preservação do prédio.
"Naquela época, junto com Mário Quintana e todas as forças vivas da cidade, todas as instituições se levantaram em uma campanha para que o espaço fosse mantido. Na Feira do Livro daquele ano, 1972, o prefeito foi até a feira para falar para o Walter que o Mercado seria mantido", relembra Carla. Hoje, família, amigos e admiradores lutam para que seja colocado um busto de Galvani junto a um memorial que conte essa história.
Cerca de 50 mil pessoas circulam diariamente pelo Mercado Público e aproximadamente 760 são responsáveis por fazer com que o centro comercial abra as portas. Mas o espaço não é feito só de números e, sim, de histórias de quem vive todos os dias dentro das paredes centenárias do prédio situado no Centro Histórico da Capital.
Banca 43: de fiambreria a empório gourmet
Localizada na área central do Mercado, a Banca 43 foi criada como fiambreria, em 1949. Passando por três administrações ao longo dos anos, quem está à frente do negócio atualmente é Jefferson Sauer.
Com mais de 70 anos de história, a banca se tornou um empório gourmet e conta com mais de duas mil opções em produtos naturais, sem glúten, sem lactose, a granel, especiarias e carnes exóticas, além de bebidas como vinhos e espumantes.
Sauer reconhece que o mercado vive, hoje, um movimento grande de pessoas no pós-pandemia. "Teve uma mudança de comportamento, em que as pessoas acabaram, por algum motivo ou outro, saindo do Centro e indo para os bairros, mas sentimos que eles estão voltando, tendo essa necessidade de visitar o Mercado", comenta o empreendedor.
"Também sentimos que a cidade está se movimentando para receber mais turistas, mais pessoas de outras cidades também, e isso faz o Mercado ter um movimento melhor", destaca Sauer.
Atualmente, a marca tem outras duas unidades na Capital, uma no bairro Bela Vista, aberta em 2019, e outra no bairro Três Figueiras, inaugurada em 2022.
Banca 40: marca registrada do Mercado
Conhecida pelos sorvetes, a Banca 40 foi fundada pelo português Manuel Maria Martins em 1927. No início, era uma banca de frutas, mas que logo começou a apostar em sucos e sorvetes para seus clientes. O negócio se tornou marca registrada do Mercado e foi administrado pela nora do fundador, Madalena, até o ano de 2011, quando passou a ser gerido por um grupo de investidores que está à frente da marca até hoje.
Gerente da banca há 15 anos, Anderson Luís Machado vê "a banca como uma das mais tradicionais do local, e está fazendo 96 anos neste mês. É a única sorveteria do Mercado praticamente, então quem vem no Mercado Público tem que passar na Banca 40, não adianta", diz o gerente.
Uma das especialidades da casa é a Bomba Royal, formada por salada de frutas, sorvete e nata cremosa. Quem visita Porto Alegre normalmente é convidado para conhecer essa e outras delícias da Banca 40.
Machado enxerga melhora na estrutura do espaço e espera que o quadro evolua ainda mais. "Desejamos uma evolução maior do que já está tendo, em relação à arquitetura, cultura, banheiros. Está tendo uma evolução bem boa, tomara que continue assim", afirma.
Para as próximas semanas, a banca prepara ações especiais em comemoração ao aniversário do Mercado e da própria banca.
Bancas 8 e 9: Casa de Carnes Santo Ângelo
"Na maternidade, já se falava em Mercado Público para mim", brinca Rafael Sartori, administrador da Casa de Carnes Santo Ângelo e atual presidente da Associação dos Permissionários do Mercado Público (Ascomepc). O açougue trabalha com venda de carnes de gado, porco, frango e cordeiro.
Inaugurada na década de 1960, a banca foi criada pelo avô de Rafael, que veio da Itália no contexto de pós-guerra. "O Mercado Público deu oportunidade para ele de construir uma família e ter seu sustento", comenta.
"Era um açougue de uma porta e do outro lado tinha uma fruteira. Quando aconteceu um incêndio, o permissionário da época na fruteira acabou desgostando de seu negócio e originando hoje a Casa de Carnes Santo Ângelo, que é um açougue de duas portas localizado no meio do mercado", explica
Sartori comenta que o Mercado sempre foi importante dentro de sua casa e que era uma vontade antiga poder abrir mão do seu tempo para melhorar o que for possível no local através da associação. "Como sou a terceira geração, quero que o Mercado perdure por mais dez, vinte gerações", deseja o presidente da Ascomepc.
"São 20 anos apenas de diferença da construção do Mercado para a fundação do Gambrinus.
Gambrinus: o restaurante em atividade mais antigo do RS
Desde 1889 no Mercado Público, o Gambrinus é o restaurante em atividade mais antigo do Rio Grande do Sul. Em 1930, o local passou a ser de uma família italiana e, 35 anos depois, a administração passou a ser de Antônio Dias de Melo, que veio de Portugal e deu ao espaço o toque que tem hoje e encanta porto-alegrenses e turistas que passam pelas portas do centro comercial.
Quem está à frente do negócio atualmente é João Alberto Cruz de Melo, filho de Antônio, que conserva o cardápio e histórico de bom atendimento do restaurante. "São 20 anos apenas de diferença da construção do Mercado para a fundação do Gambrinus. É uma história que se junta, que se conecta. Tem muito de Mercado aqui dentro, tem muito de Gambrinus no Mercado. É uma história que se junta, que se conta e que se passa de pai para filho e a história de bom atendimento e bom serviço, que é tudo que o Mercado faz também", comenta Melo.
Conhecido pelo tradicional bacalhau, o restaurante preserva no meio do salão uma prova material do centenário prédio, com os primeiros tijolos usados na construção e o preenchimento com material feito à base de barro e esterco.