Há 10 anos, Porto Alegre vibrava com a possibilidade de se igualar, pelo menos em um quesito, às grandes metrópoles, como São Paulo, Nova York ou Londres. A então presidente da república, Dilma Rousseff (PT), anunciava a construção de um metrô na capital gaúcha. De lá para cá, sequer uma pedra foi removida para iniciar as obras relativas ao meio de transporte.
Dilma esteve na cidade para detalhar a liberação dos recursos no dia 12 de outubro de 2013, quando participou de uma cerimônia no auditório Dante Barone da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, estado governado também por um petista, Tarso Genro. Era 10h de um sábado quando a presidente comentou a viabilidade da ideia.
Dilma detalhou que R$ 1,8 bilhão ficaria a cargo da União, R$ 1,1 bilhão, do governo estadual, R$ 690 milhões, da prefeitura e R$ 1,3 bilhão, de investimento privado. Naquele ano, o prefeito José Fortunati celebrou a notícia. Ele já havia, inclusive, montado o escritório do MetrôPoa na avenida Padre Cacique.
O veículo teria duas linhas, com extensão total de 11,7 km, sendo 10,3 km da Rua dos Andradas, no Centro Histórico, até o Terminal Triângulo, na Zona Norte, e outro 1,4 km até o Complexo de Manutenção, no final da Assis Brasil. Inicialmente, o trajeto seria até a sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), porém, foi alterado.
João Motta, que hoje é diretor administrativo e financeiro do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), era o secretário estadual do Planejamento. Atualmente, ao ver que nada avançou, ele descreve o sentimento com nostalgia. "A gente se frustra, pois era uma política pública importante para os trabalhadores. Chegamos a iniciar o processo licitatório, mas não avançou pois houve troca de governo", justifica. Saiu Tarso, entrou José Ivo Sartori (MDB) no comando do Estado. Na prefeitura, Nelson Marchezan Júnior (PSDB) substituiu Fortunati.
O secretário de Transportes do governo Sartori, Pedro Westphalen, que também presidiu a Assembleia quando Dilma fez o anúncio, se pronunciou através de sua assessoria de imprensa. "A proposta de construção da Linha 2 do metrô de Porto Alegre não esteve na pauta da Secretaria Estadual dos Transportes na gestão 2015/2018, uma vez que o transporte metropolitano não era atribuição da pasta", rebate.
"Os valores eram realmente muito significativos para um transporte de cerca de 350 mil pessoas por dia. De outro lado, a alternativa ao dinheiro público seria financiar a obra somente com dinheiro privado, o que elevaria e muito a tarifa a ser utilizada pelo metrô. Mas, como sabemos, não se viabilizou como um modelo de negócio para o setor privado", acrescenta Motta.
Outra pessoa envolvida no tema, em 2013, era Jarbas Fagundes, coordenador do escritório do Metrô e, depois, da Metroplan. De acordo com ele, "a opção retiraria mais de 30 mil ônibus que vinham ao centro de Porto Alegre todos os dias e, muitas vezes, sem passageiros, congestionando e poluindo ainda mais a cidade".
Fagundes lembra das minúcias do projeto. "Naquele época, segundo os estudos que dispúnhamos, era imprescindível que o sistema de transporte de toda a região metropolitana fosse repactuado e atuasse em função do metrô e do Trensurb, que seriam duas linhas estruturantes da região", cita.
Mas, agora, para Fagundes, com a elevação dos preços para construção e a entrada em circulação de vários aplicativos de transporte, a mobilidade urbana tomou outro rumo. Novos estudos, portanto, precisam ser feitos para entender para onde a cidade cresce e para onde as pessoas mais se deslocam.
"O centro da cidade não é mais um polo de atração, como foi há 10 ou 20 anos. Novos centros comerciais e empresariais se criaram, demandando uma nova realidade. Além disso, o trabalho remoto modificou a necessidade das pessoas em se deslocarem, diminuindo e muito a circulação até mesmo nos ônibus urbanos, de tal modo que um projeto de metrô se torna cada vez mais distante", avalia.
A Secretaria de Planejamento do RS aproveitou estudos que já haviam sido feitos, como o Pitmurb, e implementou, em conjunto com a Metroplan e a Prefeitura de Porto Alegre, um escritório para tratar do projeto e um estudo de viabilidade econômica do metrô. Desta forma, conseguiu aprovar o projeto junto ao PAC da mobilidade do governo federal, que, juntamente com recursos do Estado e da prefeitura, viabilizariam o projeto.
A Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do governo Eduardo Leite (PSDB) também se manifestou sobre o assunto. "Não havia recurso específico para a obra no período citado. Alguns projetos para a Copa do Mundo tinham recursos, mas eram vinculados à qualificação de pessoal, cursos, escritórios etc. Ou seja, nada relacionado diretamente ao metrô", diz a nota.