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Setembro Verde é comemorado com aumento de 36% nas doações de órgãos no RS em 2023
No Rio Grande do Sul, 44% dos parentes negam a doação dos órgãos do seus familiares, e alegam desconhecimento das vontades do falecido
Nesta quarta-feira (27), comemora-se o Dia Nacional da Doação de Órgãos, e a campanha deste ano no Rio Grande do Sul tem o lema “O amor vive”. O tema foi muito comentado nas redes sociais com a notícia do apresentador Fausto Silva na lista de transplantes. Desde 2007, o dia foi criado para lembrar a população da importância de falar sobre o assunto, principalmente com os familiares. Em caso de morte encefálica, cabe ao cônjuge, pais ou parentes mais próximos autorizar, ou não, a doação de órgãos e tecidos.
O transplante de coração do apresentador Faustão pode ser um dos impulsionadores dos índices de doadores ter aumentado em nível nacional. Os níveis de doação estão voltando ao patamar pré-pandemia da Covid-19, segundo avaliação da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). As projeções da entidade mostram que 2023 tem o potencial de bater o recorde de doações anuais. No primeiro semestre deste ano, foram registrados 19 doadores para cada 1 milhão de brasileiros. No mesmo período em 2022, foram 16,5. No Rio Grande do Sul, a doação de órgãos aumentou 36% em comparação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a julho deste ano, foram 441 órgãos captados, oriundos de 164 doadores.
Para o coordenador da Central de Transplantes do Estado, Rafael Rosa, o ideal seria lembrar todos os meses, mas em setembro há um empenho maior para ações de visibilidade e conscientização. Ele também reforça que além da conversa com familiares, há meios legais de ser reconhecido como doador. A Central Notarial da Doação de Órgãos, que interliga as declarações da população com a Central de Transplantes gaúcha, já recebeu 793 escrituras, desde março.
No 9º tabelionato, em Porto Alegre, desde abril, foram feitas 110 escrituras públicas de doação de órgãos. Em junho, eram apenas 57 documentos. Para declarar a vontade em cartório é rápido e gratuito, basta levar um documento de identificação. Caso queira, o cidadão pode indicar até duas pessoas como testemunhas, basta o nome completo, CPF e contato. A revogação da declaração pode ser feita a qualquer momento.
Outras ações pensadas para aumentar o número de pessoas interessadas em se tornar um doador também foram divulgadas. Há o programa “Doar é legal”, promovido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS). A emissão de certificado de doador tem caráter de manifestação da vontade, sem validade jurídica.
No início dos anos 2000, era permitido que o cidadão tivesse a informação de doador, ou não, na sua carteira de identidade. Contudo, a ideia foi um prejuízo, segundo avaliação de Rosa. “Ninguém explicava nada sobre doação de órgãos, então a maioria das pessoas optava por não ser doador”, lamenta o coordenador. Por anos, a opção não foi mais incluída nos documentos, e a partir de 2022 foi possível incluir este desejo novamente, apenas nos casos de pessoas com interesse em doar.
A doação de órgãos só acontece quando há morte encefálica, e apenas 1% das mortes ocorre assim. Além disso, é preciso realizar diversos testes para averiguar a compatibilidade entre doador e receptor, e as condições de saúde de quem vai receber o órgão. No Rio Grande do Sul, 44% dos parentes negam a doação dos órgãos do seus familiares, e alegam desconhecimento das vontades do falecido.
Há o Projeto de Lei n° 3176, de 2019, tramitando no Senado, que sugere a doação compulsória de órgão e tecidos. Neste caso, presume-se que toda pessoa seja doadora, em caso de morte encefálica. Mas para Rosa, o momento não é ideal pois ainda existe muita desinformação sobre o assunto. “Com todas as dúvidas que a sociedade tem e boatos em relação ao tráfico de órgãos ao processo, se isso for aprovado, pode reduzir as doações”, lamenta. Ele acredita que em cinco ou dez anos, pode ser que a população tenha mais conhecimento sobre o assunto e a doação compulsória não seja um tabu.
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Transplantes transformam vidas
Para a nutricionista Amanda Sudário, seu transplante de rim, realizado há quase um ano, salvou sua saúde física e mental. Em 2017, ela foi diagnosticada com insuficiência renal aguda, mas um tempo depois, ao passar mal, foi internada e recebeu o diagnóstico de que a doença era crônica. Ela descobriu que não havia cura, apenas um tratamento conservador, mas com grande probabilidade de precisar de hemodiálise e transplante.
“Quando meu rim entrou em 9% de funcionamento, nós iniciamos os processos para entrar na lista de espera de órgãos”, conta Amanda. Moradora de Rondônia, ela realizou os exames para ser incluída na lista em 2020, e logo depois iniciou a pandemia de Covid-19. Por isso, a nutricionista não conseguiu ser cadastrada como receptora no seu estado, e os médicos sugeriram que ela se mudasse para Porto Alegre e entrasse na lista do Estado.
Ela se mudou para a capital em busca de um rim, e em 27 de setembro de 2022, Amanda recebeu uma ligação avisando que havia um órgão compatível. No dia seguinte ela fez a cirurgia. “A hemodiálise me permitia viver, mas foi o transplante que mudou a minha vida”, celebra.
O caso Faustão
O apresentador Fausto Silva, o Faustão, foi assunto recentemente por condições graves de saúde e entrou na lista de transplantes no estado de São Paulo. Ele foi internado por insuficiência cardíaca no início de agosto e realizou a cirurgia de transplante no dia 27. Por ter ficado na fila por menos de um mês, muitas pessoas comentaram nas redes sociais que ele havia “furado a fila”. No período em que Faustão esperou pelo órgão, outras dezenas de pessoas passaram por transplante.
O diretor da Central de Transplantes esclarece o rigor do processo que ocorre após a liberação para que a pessoa com morte encefálica tenha seus órgãos doados. “Uma lista de possíveis receptores é emitida e então testes de compatibilidade são realizados para selecionar a pessoa mais adequada”, afirma Rafael Rosa. Além da compatibilidade sanguínea e de tamanho dos órgãos, também segue-se a ordem de gravidade, ou seja, o possível receptor que corra mais risco.