O Dia do Combate ao Fumo é lembrado neste 29 de agosto. Um dos grandes vilões para o combate ao tabagismo é o preço baixo do cigarro legal brasileiro, aponta um estudo inédito do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O órgão defende que seja feito reajustes no imposto sobre os cigarros e no preço mínimo estabelecido por lei para o produto.
Segundo a pesquisa, o cigarro legal do Brasil é o segundo mais barato das Américas. Em 2012, quando foi feita a reforma tributária, o preço médio era quase 150% mais alto em relação ao cigarro ilegal. Hoje, a diferença caiu pela metade e 25% das marcas ilegais que circulam no País são vendidas a um valor igual ou levemente superior ao preço mínimo estabelecido por lei para os cigarros legalizados, que é de R$ 5,00 desde 2016.
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O preço médio do cigarro comprado no Brasil é de R$ 5,68; nos estados que fazem fronteira com o Paraguai, o valor cai para R$ 4,96. Por isso, o Inca sustenta que o Brasil deve promover aumentos regulares acima da inflação nas alíquotas que incidem no imposto sobre o cigarro e no preço mínimo do produto, afim de atingir os objetivos em saúde pública e política fiscal.
A psiquiatra Luísa Deves explica que parar de fumar pode trazer dificuldade na adaptação do corpo e da mente, como qualquer outra dependência química. "O cérebro que está acostumado a receber uma substância que causa vício vai automaticamente sentir falta desse componente, gerando uma cadeia de sintomas de abstinência como inquietação, irritabilidade, dificuldade de concentração, distúrbios do sono, ansiedade, tristeza, aumento do apetite e diminuição da frequência cardíaca", afirma Luísa.
A identificação dos comportamentos que estão relacionados ao hábito de fumar podem ajudar quem quiser parar. A psiquiatra dá como exemplo quem tem o costume de fumar enquanto toma café pela manhã: "a pessoa pode mudar o café por outra bebida ou trocar o horário do café para mais tarde. Mascar chiclete e beber bastante água também podem ser úteis, além, claro, de manter ou criar hábitos mais saudáveis como a prática de atividade física regular".
A jornalista Patrícia Flesch, de 53 anos, começou a fumar por volta dos 20 anos, para descontrair aos fins de semana com os amigos. O hábito que era esporádico passou a ser corriqueiro e o cigarro se tornou presença constante nos momentos de tensão, principalmente no trabalho. Um aliado para parar de fumar foi o yoga, conta Patrícia.
"Quando eu entendi que a respiração está associada a como você está se sentindo atualmente, uma respiração mais curta ou mais longa influencia em como você se sente. Às vezes, eu saía no pátio da empresa em que eu trabalho e dava uma respirada quando tinha vontade de fumar", afirma.
Em 2019, a jornalista fumava apenas no trabalho – ela fala que a família nem sabia que o tabagismo ainda fazia parte de sua vida –, cerca de um maço e meio por semana. Quando saiu de férias naquele ano, decidiu que iria parar de fumar. Ela conta que fazia um jogo mental consigo mesma para evitar voltar com o hábito.
"É tão difícil você estar com vontade e não fumar, que aí eu conseguia um dia, conseguia dois, três... aí eu pensava 'estou três dias sem fumar, se voltar agora, vai estragar a minha marca", relata Patrícia, que complementa falando que não sente mais vontade de fumar nem quando alguém próximo está com um cigarro.
Atendimento contra o tabagismo em Porto Alegre
Para quem quiser parar de fumar e precisa de ajuda, o sistema de saúde de Porto Alegre fornece assistência individual em 104 Unidades de Saúde (US) – das 134 que o município possui –, além de atendimento em grupo em 13 unidades.
"São grupos com quatro sessões que abordam tanto a questão da dependência química do tabagismo quanto a questão da terapia cognitivo comportamental, que é para saber em que fase que o tabagista está parar de fumar, para fornecer auxílio para ele conseguir parar", explica a secretária adjunta da Atenção Primária, Eveline Rodrigues.
Os fumantes que desejarem tanto o atendimento individual, quanto em grupo, precisam comparecer a uma das UBS da Capital e solicitarem avaliação. Caso a unidade seja uma das 30 que ainda não fazem esse serviço, os pacientes serão encaminhados a uma unidade que possa os atender.
"Dessas 30 unidades que faltam para termos a totalidade de todas fazendo a abordagem, teremos uma nova capacitação em setembro que quem oferta é o Inca, então teremos toda a nossa rede capacitada", afirma a secretária adjunta.
Além da abordagem, o município oferece práticas integrativas como terapia, acupuntura e reiki, que podem reduzir a ansiedade e auxiliar no tratamento. Medicamentos como a Bupropiona e os adesivos de nicotina também estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através do Ministério da Saúde. "Recentemente, tivemos um desabastecimento de adesivos pelo Ministério, que vai ser regularizado em setembro, mas a Bupropiona temos normalmente", comenta Eveline.