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Número de denúncias de ameaças a escolas dá salto em Porto Alegre, afirma delegada
Após as mortes em Blumenau, salas de aula vivem clima de aflição com ameaças
Depois dos ataques que mataram quatro crianças em Blumenau (SC) e uma professora em outra instituição de ensino em São Paulo, o número de denúncias de ameaças a escolas, seguindo uma tendência nacional, deu um salto em Porto Alegre, segundo a delegada Caroline Bamberg, diretora da Divisão Especial da Criança e do Adolescente (Deca) - braço do Departamento Estadual de Proteção a Grupos Vulnerários. Ainda sem dados documentados, o órgão afirma que tem trabalhado intensamente para dar conta de todas as denúncias que tem causado pânico entre familiares e alunos.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, Caroline destaca a atuação da polícia civil e o que tem sido feito para coibir ataques e reforça a necessidade de levar toda e qualquer ameaça a sério. "Nunca sabemos quando vai acontecer ou não, não dá para achar que é brincadeira", alertou Caroline. Além disso, ela ressalta a falta de controle sobre dispositivos móveis utilizados por crianças e adolescentes como um dos principais fatores para os últimos ocorridos, uma vez que os jovens ficam expostos a criminosos virtuais e a todo tipo de conteúdo prejudicial à saúde mental.
No Estado, a Deca possui 17 delegacias de polícia especializada. Em Porto Alegre, são quatro, uma 24 horas e outras três que cuidam de cada região da cidade. Também recebemos os casos registrados em delegacias não especializadas e depois damos seguimento no processo.
Jornal do Comércio - Nas últimas semanas o País tem convivido com o medo a partir de ameaças de ataques em escolas. Isso tem se refletido em Porto Alegre?
Caroline Bamberg - Sim. O número de denúncias desse tipo explodiu. Os grupos de pais nas redes sociais estão em pânico. É um efeito manada. Mas estamos tomando todas as providências cabíveis e monitorando escolas. Não tivemos nenhum caso efetivo aqui, mas todas as denúncias são tratadas com seriedade, são tomadas diligências, com apreensões de materiais e celulares, por exemplo.
JC - Foi assim que atuaram no caso do colégio Maria Imaculada, que teve uma ameaça pichada no banheiro após um adolescente desconhecido entrar na escola?
Caroline - Atuamos lá. Contatamos a direção, demos dicas orgânicas de segurança e já identificamos o rapaz. Ele foi ouvido, assim como a família. Estamos investigando se teve algo a mais ou se foi uma brincadeira de muito mau gosto.
JC - Que dicas de segurança foram essas?
Caroline - Orientamos que as escolas denunciem todos os casos de ameaça. Tivemos dois fatos em que as instituições já tinham recebido ameaças, mas deixaram passar. Reforçamos que não é para deixar passar, tem que fazer o registro. Além disso, é importante checar as mensagens que circulam nas redes sociais e não compartilhar, pois podem ser fake news e isso aumenta o pânico e a visibilidade das ameaças.
JC - Mas vocês estão trabalhando com outros órgãos para criar ações que evitem esse tipo de ameaça ou eventual ataque?
Caroline - Sim. A Secretaria de Segurança está trabalhando com a Secretaria de Educação para elucidar os crimes.
JC - Como é a abordagem no caso do crime ser cometido por um menor?
Caroline - Ele é tratado com o rigor que tem ter, são assegurados os direitos, ele tem o defensor, com a supervisão da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). E depois já fazemos o encaminhamento para o judiciário, lá vai ser decidido se ele vai ser apreendido, se precisa de acompanhamento com o conselho tutelar, porque ele também está em risco de alguma forma.
JC - Vocês estão contando com reforços para lidar com essa enxurrada de denúncias?
Caroline - Nós recebemos as denúncias, mas outros órgãos estão contribuindo, sim.
JC - E como estão as investigações sobre possíveis ataques?
Caroline - Temos que pedir para o judiciário para conseguir as autorizações das empresas estrangeiras, como o Twitter, por exemplo, é um caminho um pouco longo. Mas vamos chegar, tanto em quem mandou, quanto em quem compartilhou os conteúdos de forma irresponsável.
JC - E como os pais reagem nessas situações como a do colégio Maria Imaculada? Os pais podem ser responsabilizados?
Caroline - A depender do quanto os pais sabem e acobertam, podem ser responsabilizados, sim. E o menor fica com antecedente. Tem pais que acham que é brincadeira, mas não é. Esse pânico não é motivo de risada, então os responsáveis não podem apoiar.
JC - Como você avalia a iniciativa da prefeitura de instalar botões de pânico nas escolas?
Caroline - É uma ação importante à curto prazo, pois vai acionar a Brigada Militar e a Polícia Civil, mas não é isso que vai resolver o problema. Tem que combater a violência e a prática de bullying dentro das escolas. Os pais precisam cuidar o que os filhos fazem no celular. Existem muitos grupos extremistas na deep web, por exemplo, que oferecem 'acolhimento' a quem está sendo machucado pelo bullying, são criminosos que se aproveitam disso, então tem que cuidar.
JC - Como os pais podem fazer esse monitoramento?
Caroline - Sempre que possível olhar a mochila dos filhos e entender que filho menor de idade não tem privacidade. Eles são seres em formação, eles precisam ser norteados pelos pais, isso é uma construção que tem que existir na relação entre pais e filhos. Uma criança com celular pode até estar segura fisicamente, mas ela está exposta a diversos criminosos virtuais e a conteúdos prejudiciais à sua saúde mental.
JC - Vocês planejam montar um grupo de trabalho permanente para monitorar as ameaças às escolas?
Caroline - Temos o monitoramento com o Grupo de Inteligência, que realiza buscas e apreensões. Já temos certo acompanhamento, mas quando tiver algo mais pontual, vamos agir. Mas temos sim, tanto a nível federal, quanto estadual.
JC - E como esse Grupo de Inteligência faz as investigações? A partir das denúncias ou atua constantemente por conta própria?
Caroline - Geralmente, a partir das denúncias, porque aí potencializa a investigação. Ele trabalha antes também, mas não consegue monitorar tudo, até porque tu não vai pensar que aquilo vai acontecer. Então, a maioria das investigações é quando a denúncia surge mesmo.