Seis estudantes de uma escola pública da periferia de Porto Alegre embarcaram nesta semana para disputar uma competição de robótica nos Estados Unidos. Trata-se da FIRST League Explorer, a competição é vista como a Copa do Mundo da robótica. Os alunos frequentam a escola Heitor Villa Lobos, localizada na Vila Mapa - zona Leste da Capital. Foi através de um financiamento coletivo, junto à ajuda da prefeitura que os "Lobótios", como são conhecidos, estão tendo a oportunidade de representar o Brasil no exterior.
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A equipe foi classificada para o torneio após ter sido destaque na competição nacional, que ocorreu em novembro do ano passado, em Curitiba, no Paraná. Uma nova etapa iniciou nesta quarta e vai até o dia 22 de abril em Houston, no Texas.
Com um trabalho que remonta a sustentabilidade, professora e alunos decidiram juntos o que iriam apresentar na competição. O projeto se iniciou através de um problema observado na comunidade, que é a ausência de espaços de lazer. Há apenas uma praça para toda a Vila Mapa, que serviu de inspiração para que os alunos recriassem o espaço propondo uma praça sustentável, com o uso de energias renováveis.
O grupo que fará parte da competição é formado por seis estudantes que frequentam o quarto e quinto ano do Ensino Fundamental, com idades entre 10 e 11 anos. São eles: Bernardes Hoffmann, Lara Bella, Matheus Rocha, Nathalya Gonçalves, Sury Silva e Vitor Machado. Além da monitora, a aluna do do 9° ano, Gabrieli Welter, de 14 anos. O grupo será acompanhado pela professora Cristiane Cabral.
Doutora em pedagogia e apaixonada pela educação pública, Cristiane coordena a equipe de robótica desde a sua fundação, em 2007. Na sua visão, o projeto causa um importante impacto social na Vila Mapa e conta que é uma maneira de empoderar a comunidade. "Estamos em uma periferia, um local onde geralmente só aparecem notícias sobre crimes. Agora é possível conhecer a Vila Mapa através de um outro olhar. Educação é isso, transformar a vida das pessoas", relata a professora.
Os Lobóticos se reúnem uma vez na semana para realizar os trabalhos, quando uma competição se aproxima, é possível que se reúnam todos os dias durante o contraturno escolar. Ao conversar com eles, é visível a paixão dos estudantes pelo projeto. Eles gostam de contar sobre as realizações da equipe e de mostrar os mais de 30 troféus e as 40 medalhas que receberam entre competições nacionais e internacionais durante esses 16 anos.
Quando os alunos receberam a notícia de que participariam da competição no exterior, iniciou a corrida para angariar fundos a fim de custear a viagem de todos os integrantes do grupo. Uma "vaquinha" online foi proposta pelos pais, que conseguiram parte do valor necessário. Mas foi com a ajuda da prefeitura que se tornou possível a ida de todos aos EUA.
Uma novidade no roteiro dos seis alunos é a visita que terão a oportunidade de fazer na Nasa - que é responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial nos EUA. A articulação foi feita pela Coordenação de Relações Internacionais - órgão ligado ao gabinete do vice-prefeito - junto à Câmara de Comércio Texana. A visita está prevista para o dia 23 de abril.
A estudante Nathalia, 10 anos, comenta que está animada com a competição. "Eu vejo esse evento como uma grande oportunidade. Temos que abraçar essa oportunidade e ter foco", destaca. A professora Cristiane conta que presenciou o impacto social do projeto na vida dos pequenos e que os alunos se esforçam muito para entregar o melhor nas competições. "O projeto abre possibilidades que não eram visualizadas por eles até então. Ninguém deseja aquilo que não conhece. Eles passam a conhecer esse mundo da tecnologia através do projeto. Por isso, o acesso a esse tipo de material é fundamental em uma escola pública", completa.
O aluno Vitor, também com 10 dez anos, teve que convencer a mãe para que deixasse de fazer a viagem para os Estados Unidos por conta de um problema respiratório que enfrenta. "Estou muito feliz, é a minha primeira viagem internacional. Estou animado para a competição e tenho esperança de que vamos levar esse prêmio".
Ex-aluno da equipe de robótica, João Gabriel Welter, hoje com 18 anos, é estudante do curso de eletrotécnica no Instituto Federal da Restinga. João conta que entrou no projeto em 2015, quando tinha apenas 10 anos. Ele conta que sentiu vontade de ingressar na equipe quando soube de uma viagem internacional que os Lobóticos fariam - mas com o tempo descobriu que o projeto seria fundamental na sua vida.
Hoje, João é monitor no projeto e ajuda os pequenos na montagem dos robôs. Depois de conquistar o diploma técnico, pretende ingressar no Ensino Superior, no curso de Análise de sistemas. "Dificilmente eu iria gostar da área de tecnologia. O curso me fez gostar de robótica e me apaixonei pela área".