Mudanças no Plano Diretor de Xangri-Lá incluem 9 praias, como Atlântida e Rainha do Mar

Polêmica se concentra na duplicação da altura máxima dos prédios, para até 14 andares na beira-mar

Por Mauro Belo Schneider

Decisão da Justiça Federal libera retomada da construção civil de forma pontual; proibição está relacionada à falta de saneamento adequado 
De Xangri-Lá
Xangri-Lá é um pacato município do Litoral Norte do Rio Grande do Sul de março a novembro, com uma população de cerca de 17 mil pessoas. Mesmo com o aumento deste número no verão, por ser um dos principais destinos de férias na estação, mantém ares de cidade do interior.

Composta por nove balneários, a maioria do seu território tem a paisagem urbana dominada por casas – é considerada a capital dos condomínios. Horizontais, cabe observar.
Recentemente, no auge do verão ocorreram protestos de veranistas, que promoveram abraços simbólicos em torno dos terrenos onde deverão ser construídas as torres de 14 andares.
Os projetos estão previstos para pelo menos duas áreas que sediavam instituições que marcaram época no Litoral, mas que fecharam as portas e foram demolidas. Uma onde antes era o Hotel Termas, em Xangri-Lá, e outra onde era a colônia de férias do Banrisul, em Rainha do Mar, balneário que também pertence a Xangri-Lá.

O município, aliás, é composto pelas seguintes praias: Arpoador, Atlântida, Marina, Maristela, Noiva do Mar, Praia dos Coqueiros, Rainha do Mar, Xangri-Lá e Remanso. Atualmente, no terreno do Termas, podem ser construídas três torres de sete andares.

Com a revisão do Plano Diretor, no entanto, essa primeira ideia poderia ser substituída pelo edifício de 14 andares. Celsinho ressalta que, na beira-mar, só serão liberadas construções de 14 andares nesses dois pontos específicos. Pelo menos nos próximos 10 anos, até ocorrer uma nova revisão do Plano Diretor, como prevê o Estatuto da Cidade.
Prédios acima de sete andares passarão a ser permitidas em outras áreas específicas mais afastadas do mar. Além dos dois terrenos citados próximos à orla – antigo Hotel Termas e colônia de férias do Banrisul –, somente será possível chegar a 14 andares na avenida Diamante, em Rainha do Mar, na avenida Central de Atlântida, e na rua Rio Jacuí, na entrada de Xangri-Lá.

Segundo o prefeito, essas novas construções serão autorizadas apenas em terrenos com metragem mínima de 100 metros por 100 metros. Nos demais lotes, mantém-se o limite de sete andares.
Outra questão debatida é sobre o saneamento, e Celsinho destaca que nenhuma obra será aprovada sem uma rede de esgoto adequada. “A coisa está muito maliciosa”, reclama, sobre as pessoas contrárias às construções.

Toda a extensão da Paraguassu, a principal avenida que liga o Litoral sem a necessidade de pegar a Estrada do Mar, continua com o limite de construções de sete andares, garante o prefeito.

Liberação para restaurantes e área urbana maior estão entre as propostas

Embora a controvérsia gire em torno da altura dos prédios em Rainha do Mar e Xangri-Lá, há mais alterações previstas na revisão do Plano Diretor. Uma delas é sobre incluir a região onde estão instalados os geradores eólicos (próximo à Estrada do Mar) como área urbana — até então considerada rural. Isso permitiria a construção de casas e condomínios ali.
Segundo o prefeito de Xangri-Lá, Celso Bassani, não há mais para onde crescer. Para impulsionar o empreendedorismo, ele também lembra que foi solicitada a liberação da beira-mar para instalação de restaurantes, algo até então proibido.

Como fica daqui para frente

Estava marcada para o último dia 15 de fevereiro uma audiência pública na Câmara de Vereadores de Xangri-Lá para discutir a revisão do Plano Diretor. O Ministério Público do Rio Grande do Sul recomendou, no entanto, que ela fosse suspensa até que a prefeitura respondesse alguns questionamentos em relação ao impacto ambiental das alterações. A administração, conforme o prefeito Celso Bassani, já teria enviado o documento e agora aguarda a liberação para agendar uma nova audiência. O prazo é de 30 dias a partir da suspensão.

O que dizem os veranistas contrários às construções

Roberto Estigarribia, presidente da Associação de Moradores de Xangri-Lá, afirma que a preocupação urgente é o saneamento. “Se trata de saúde pública, da vida de todos nós. Caso não seja priorizado, estaremos todos contaminados e sujeitos à infecção, como ocorreu no litoral de Santa Catarina, que foi notícia nacional pelo surto de doença que atingiu 70% da população”, escreveu em uma carta enviada ao prefeito.