A aldeia Tekoá Pindó Mirim, localizada em Itapuã, no interior de Viamão, ocupa 24 hectares de terra demarcada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Com aproximadamente 150 integrantes, sendo a maioria crianças, a comunidade é um exemplo da retomada de modos de vida mais tradicionais dos povos originários em regiões próximas a grandes polos urbanos, como Porto Alegre. Depois de quase duas décadas vivendo de doações e venda de artesanatos, os Mbya Guarani estão, por meio de um projeto apoiado pelo Ministério Público Estadual (MPRS) e Ministério Público do Trabalho (MPTRS), resgatando a relação com o plantio e melhorando a qualidade de vida através de obras de infraestrutura.
Com um aporte de R$ 400 mil na primeira etapa do projeto vencedor do edital, foi possível comprar um trator e implementos para dar início a um cultivo diverso de milho, melancia, mandioca, batata, amendoins e porongo. Além disso, foram realizadas obras, como a construção de uma cozinha e lavanderia comunitárias com os equipamentos necessários no centro da comunidade. Um drone foi doado à Brigada Militar para que possa ser feita a fiscalização do perímetro do território indígena.
Em visita a Itapuã para confirmar a utilização dos recursos, o procurador do Ministério Público do Trabalho em Porto Alegre Ivan Sérgio Camargo dos Santos se surpreendeu. "A rapidez com que o dinheiro foi utilizado para o projeto foi incrível. Muitas vezes, não temos a mesma resposta em entidades públicas ou privadas", explicou, dizendo que a verba foi destinada em setembro do ano passado e já foi aplicada nas melhorias.
De acordo com o promotor de Justiça Eduardo Viegas, da Promotoria de Justiça Regional da Restinga, também presente na inspeção, a situação na comunidade era muito precária e ainda há muito o que ser feito. "Eles não tinham o que comer. Hoje é uma das aldeias mais bem equipadas da América Latina, guardadas as devidas proporções", comentou.
O membro da comunidade guarani, Leonardo Sehn, estava feliz em mostrar as melhorias da comunidade. "Para nós, é uma vitória. É a gente colocando em prática os ensinamentos do nosso ancião", afirmou.
O ancião é o guarani Alcindo Werá Tupã, de 113 anos, morador de Biguaçú, em Santa Catarina. Ele acompanhou as ações na aldeia e se preparava para realizar cerimônias na noite de sexta-feira (27), que seria aberta a pessoas não-indígenas. Tupã é conhecido por realizar curas dentro da comunidade, sem cobrar por isso. "Quando vou curar alguém, as pessoas perguntam quanto foi. Os médicos de vocês cobram por tudo, eu não, porque quem me paga é Nahnderu (divindade guarani). Eu só digo assim 'quando eu precisar de alguma ajuda, conto vocês, e curo", refletiu o líder espiritual.
É essa visão de coletividade que tem reconstruído o modo de vida da aldeia. "É nessa troca que a gente se fortalece, sempre vai ser assim. As cerimônias são de acordo com os ensinamentos do nosso ancião. Mas, muito mais do que as palavras, que são muito amorosas, o Alcindo Werá Tupã também mostra em gestos práticos, todos os dias, a filosofia de vida. Acorda, vai para roça, planta e colhe para os seu", conta Leonardo.
Uma segunda etapa do projeto, que terá outros R$ 400 mil destinados em breve, será utilizada para aprimorar a infraestrutura de saneamento básico e de moradia. O MP ainda está pleiteando, junto ao governo do Estado, à cessão de uma terra de eucaliptos ao lado da demarcação, onde as madeiras poderão ser retiradas para a construção de novas casas. O projeto está sob responsabilidade da Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Nhamandu Nhemopu'a, que fica localizada dentro da aldeia.