Jornalista gaúcho Divino Fonseca morre aos 80 anos

Despedida aconteceu neste sábado (10), no Cemitério São João, em Porto Alegre

Por Adriana Lampert

Aposentado a cerca de uma década, Divino trabalhou durante boa parte de sua carreira na revista Placar
O corpo do jornalista gaúcho Divino Fonseca foi sepultado às 16h30min deste sábado (10) no Cemitério São João, em Porto Alegre. Ele faleceu na noite desta sexta-feira (9), em sua casa, no bairro Vila Ipiranga, e deixa dois filhos: Renato (51) e Cássio (20). Em janeiro, o jornalista completaria 80 anos de idade.
Em nota, o Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJors) manifestou "pesar pela perda do seu associado", e ofertou "condolências e solidariedade aos familiares e à grande legião de amigas e amigos".
Vítima de uma parada cardiorrespiratória, pouco antes de falecer Fonseca chegou a pedir ajuda à sobrinha, Maria Isabel Sotelo, com quem dividia o terreno da residência. Aposentado há dez anos, ele sofria de fibrose pulmonar desde 2015, e precisava do auxílio de um tubo de oxigênio domiciliar. "Infelizmente, quando a Samu chegou já não tinha mais o que fazer", lamenta Maria.     
Muito querido entre os amigos e colegas de profissão, Fonseca trabalhou a maior parte de sua carreira se dedicando ao jornalismo esportivo. Apaixonado por futebol, foi colaborador da revista Placar entre a segunda metade da década de 1970 até o início dos anos 1990. Chegou a morar em São Paulo logo que entrou para o Grupo Abril, mas em meados de 1980 retornou ao Rio Grande do Sul, de onde atuou como correspondente da revista esportiva. 
Antes disso, ele iniciou a jornada no meio jornalístico trabalhando na extinta Folha da Tarde, da empresa Caldas Júnior. Natural de Barra do Ribeiro, Fonseca foi aluno do então Curso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), onde conheceu a jornalista Adelia Porto, que se tornou sua amiga desde então.
"A primeira vez que vi o Divino, ele era o presidente do Clube dos Jornalistas da Faculdade de Filosofia e estava abdicando do cargo, por conta de um conflito, que agora não lembro", recorda Adelia. "Ele era educadíssimo, um cara super afável, de jeito alegre e divertido. Na última vez que falamos, há poucas semanas atrás, me comentou que estava tendo 'uma sobrevida boa' com o oxigênio", lamenta a jornalista.
Amante de cinema, apreciador de livros, e apaixonado por um bom mate (chimarrão), Fonseca era um profissional muito respeitado por seu texto. "Ele escrevia magnificamente bem, era  autor dos melhores textos da imprensa brasileira", destaca o repórter fotográfico Ricardo Chaves (conhecido no meio como Kadão), que trabalhou com o jornalista gaúcho na sede do Grupo Abril, em Porto Alegre.
Chaves recorda que Fonseca viajou diversas vezes para países da América do Sul, para cobrir jogos fora do Brasil, tendo, inclusive, produzido conteúdo sobre a Fórmula 1 - algo fora do seu costume. "Tem histórias engraçadíssimas do Divino, que era um cara muito divertido e bem-humorado", destaca o repórter fotográfico.
"Certa vez, ele precisava enviar uma destas matérias por telex e tinha cinco minutos para chegar até o posto de Correios. Como estava chovendo e ele precisava correr, ele colocou o texto (umas cinco laudas) entre a camisa e o cinto, e acabou perdendo tudo no meio do caminho", conta Chaves. "Então, ele convenceu o pessoal de não fechar as portas até que ele voltasse, e por sorte conseguiu resgatar as páginas, que encontrou molhadas, perto de umas poças, em uma esquina (risos)". 
Outra história engraçada ocorreu no Chile, no início da década de 1970, em uma época de repressão pesada, sob o comando de Augusto Pinochet, emenda Chaves. "Ele e o fotógrafo JB Scalco se meteram numa confusão, porque perderam a hora em pleno toque de recolher. Ainda assim, resolveram voltar caminhando para o hotel e perto de chegar, no caminho botaram um holofote direto na cara deles. Assustados, eles começaram a correr e, em cinco minutos, estava o exército chileno em peso no hotel onde estavam hospedados."
Com fenótipo que remete à descendência de negros e indígenas, de corpo alto e magro, e olhos amendoados, Fonseca era "um sujeito inspirador", segundo a 1ª vice-presidente da Associação Rio-grandense de Imprensa (Ari), Jurema Josefa. "Ele era muito sério, uma figura especial: chegava no Sindicato dos Jornalistas e dava uma dignidade para o ambiente", relata. "Ele era uma pessoa muito envolvida com a categoria e com o trabalho que ele fazia", emenda.
Amigo de Fonseca há quase 40 anos, o jornalista José Aveline Neto ressalta que, além de trabalhar para a Placar por quase duas décadas, o repórter esportivo também foi editor do jornal Zero Hora por alguns anos. "Depois que se aposentou, nos últimos tempos ele andava muito recluso, sem falar com quase ninguém", lamenta Neto.