Buracos, rachaduras e desníveis. Esses são alguns dos problemas relatados por usuários das ciclovias de Porto Alegre, especialmente a da avenida Ipiranga. Eles alertam, ainda, para a falta de fiscalização, sinalização e manutenção nas faixas prioritárias.
Os relatos mais frequentes citam elevações causadas por raízes que crescem sob as vias, poças d’água e pontos cegos, além de curvas acentuadas para desviar de postes e da vegetação e diversas muretas quebradas ao longo do Arroio Dilúvio.
“Percorro a Ipiranga inteira, desde o Anfiteatro até o final. Sempre passo pela avenida e confesso que pedalar na ciclovia tem mais perigo do que na rua no mesmo sentido dos carros”, considera o publicitário e administrador Geraldo Barboza. Ele não pedalava desde abril, porém, na segunda-feira (4), retomou o hábito e registrou todos os problemas que encontrou ao longo dos 13 quilômetros de trajeto.
Além dos problemas estruturais, há questões sociais. Uma denúncia é quase unânime entre os ciclistas: o uso indevido por pedestres, corredores e patinadores. O dentista Maurício Ouriques, que utiliza a bicicleta para deslocamento diariamente, diz encontrar pessoas caminhando ou correndo pela ciclovia.
"Tem muita gente que corre na ciclovia. Corridas e caminhadas têm sido muito frequentes, e acho isso muito perigoso. A ciclovia foi feita para a bicicleta, e a calçada é para quem anda e corre”, afirma.
Segundo Maurício, a solução para isso é reforçar a sinalização. “Frequentemente, preciso desviar de alguém. Procuro educadamente chamar a atenção, só que o pedestre não tem noção do perigo que é isso aí, especialmente à noite”, relata.
A ciclovia mais utilizada pelo dentista é a da avenida Ipiranga, que, para ele, é a mais danificada da Capital. “Vejo que as ciclovias foram feitas e esquecidas no sentido de manutenção. Isso é muito claro. Realmente, há que se expandir essas áreas e reforçar a sinalização, especialmente nas que passam em cima de calçadas. Acho que é muito importante fazer um crescimento sustentável, unindo a expansão e a manutenção”, conta Maurício.
A prefeitura de Porto Alegre foi questionada sobre os serviços de manutenção nas faixas e garante que haverá correção dos problemas. “A prefeitura realiza vistorias em pontos que precisam de manutenção no pavimento e poda e a partir da conclusão desse levantamento fará intervenções de qualificação nos espaços. As intervenções devem ser iniciadas até o final do ano”, diz o posicionamento oficial. Segundo o município, a manutenção é realizada por equipes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e contratos terceirizados.
Desníveis nas ciclovias causam acidentes
Morador da Zona Sul, o técnico de Tecnologia da Informação (TI) Jéverson Matos vivenciou o risco que as irregularidades nas ciclovias propõem à vida daqueles que as utilizam. Ele costuma pedalar com um grupo de amigos todas as terças e quintas-feiras à noite e, em junho deste ano, um brusco desnível em frente ao Ecoposto o desequilibrou. O ciclista caiu e bateu a cabeça no guard rail.
"Saímos em nossas bikes com destino ao Parcão. Quando chegamos na Orla, decidimos fazer o caminho pela ciclovia da Ipiranga, que é muito mais segura à noite. Antes do Ecoposto, existe uma elevação grande ocasionada pelas raízes de uma árvore, que, pelo tamanho, faz sombra na pista e dificulta a visualização. Foi isso que causou minha queda", explica Matos.
O acidente resultou na fratura da cartilagem do pulso esquerdo e outros ferimentos. Ele ressalta a importância de utilizar o capacete — item de proteção muitas vezes negligenciado por ciclistas. Para Jéverson, foi o que salvou a vida dele. "Quando caí, eu acertei em cheio o guard rail. Quebrou toda a estrutura do capacete", destaca.
Má sinalização e visibilidade
Faz mais de um ano que Adriana Chaves pedala por hobby em Porto Alegre. Contudo, ela está impossibilitada de praticar o esporte desde abril, quando colidiu com outro ciclista em um ponto cego da ciclovia da Ipiranga, na altura da rua Santana.
“Era um sábado. Estava pedalando na Orla e decidi voltar para casa, perto da borracharia Chacrinha. Olhei para a direita e tinha uma pessoa vindo no sentido contrário, pelo ponto cego. Tentamos desviar, mas não tinha espaço suficiente. Bati na lateral dele, ele bateu na minha bicicleta e os dois caíram”, conta Adriana.
De acordo com a ciclista, o homem não se machucou. Ela, por outro lado, sofreu uma fratura no joelho, no menisco e no ligamento anterior cruzado. “Fui operada e estou em uma recuperação de cinco meses. Faço fisioterapia todos os dias para poder voltar a pedalar e andar. Estou começando a caminhar bem. Fiquei mais ou menos um mês sem trabalhar. É bem tenso, dói muito. Fora todo o investimento em fisioterapia, osteopatia, acupuntura. Tudo para conseguir voltar ao normal. Foi um acidente bem grave, tão ruim quanto de moto”, diz.
Adriana destaca que o outro ciclista envolvido na colisão estava sem capacete e acredita que, caso ele tivesse caído, provavelmente teria falecido. Para ela, isso ocorreu por falta de sinalização na ciclovia.
“Na verdade, nós nos batemos porque ele não me viu e nem eu vi ele. A ciclovia é mal sinalizada. Super mal sinalizada. As pessoas não sabem se o poste está no sentido de quem vai ou vem, e é bem perigoso”, constata.