Ao retornar às
aulas presenciais de forma integral, os docentes e estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) aproveitaram o dia para denunciar as consequências dos cortes de verbas anunciados pela reitoria. Representantes de diversas categorias relataram restrições no acesso ao Restaurante Universitário (RU), demissões de trabalhadores terceirizados e falta de recursos da Pós-Graduação durante coletiva no Campus Centro, em Porto Alegre, nesta segunda-feira (13).
Segundo o coordenador-geral do Sindicato dos Técnico-administrativos da Ufrgs (Assufrgs), Gabriel de Freitas Focking, mais recentemente a universidade anunciou um corte de 14% nas verbas. O governo federal bloqueou mais de R$1,5 bilhões em verbas para as Instituições Federais de Ensino — para a Ufrgs, isso representa R$ 13 milhões a menos no caixa até dezembro.
"Os cortes começam a ser aplicados em situações em que não se tem visibilidade — são questões estruturais, que ao longo do tempo nós começamos a sentir (...). Aquilo que poderia ser uma manutenção programada, seja de um prédio, uma edificação, uma calçada ou o próprio corte de grama, começam a ser reduzidos e muitos se tornam emergenciais", diz Focking.
Além dos cortes no Ministério da Educação (MEC), as entidades também denunciam valores contingenciados do Ministério da Ciência— um total de R$ 2,5 bilhões. Para os representantes dos movimentos, o bloqueio afeta diretamente as pesquisas nas universidades federais, como bolsas via Capes e CNPq. Segundo a Assufrgs, as universidades públicas são responsáveis por 95% da pesquisa produzida no país.
Quanto aos funcionários da instituição, o coordenador afirma que os primeiros a serem afetados são os terceirizados, como nas portarias e na limpeza. A presidente da Associação Terceirizados Unidos, Adriana Cunha, complementa que a falta de comunicação entre reitoria e a categoria gera um medo constante de novas demissões.
"Os trabalhadores terceirizados fazem um trabalho braçal, sofrido. São pessoas muito vulneráveis e querem garantir ao máximo o sustento. Quando tem notícias de cortes, as pessoas ficam mais reprimidas, se escondem mais para não serem vistas e que ninguém aponte 'é essa aqui que vai ser (demitida)'. Elas fazem de tudo, até o que não era para ser feito — elas trabalham a mais, o que para mim é uma escravidão moderna que existe dentro da universidade", compartilha Adriana.
Já o corpo acadêmico relata maiores dificuldades para os estudantes vulneráveis, como bolsistas e cotistas. De acordo com a diretora-geral do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Ufrgs e diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE), Sarah Domingues, a principal queixa é a falta de reajuste dos benefícios.
"A cada semestre, as bolsas não aumentam. Nós temos cortes de bolsas e bolsas num valor extremamente inferior à demanda", diz a estudante. Ela explica que as bolsas-trabalho valem R$ 400,00 desde que foram criadas, quando o salário mínimo era equivalente ao valor. Hoje, o salário mínimo está em R$ 1.212,00.
"Enquanto a universidade pública cada vez mais vai se diversificando, a gente vai percebendo que os estudantes conseguem entrar na universidade, mas não conseguem se manter e nem sair (...). Não existe uma assistência estudantil acompanhando os preços e a demanda, que aumentam. Cada vez mais, temos menos bolsas e elas nunca são reajustadas, assim como o que existe vai se precarizando, como o restaurante universitário (RU)", ressalta Sarah.
O estudante de História e integrante do DCE da Ufrgs, Daniel Oliveira, complementa que os universitários se depararam com dificuldades ao agendar refeições no RU nesta manhã. "Vários dos nossos colegas ficarão sem almoçar hoje porque a reitoria definiu um limite de almoços por dia e quantos estudantes poderão almoçar. Nós vivemos numa universidade com 32 mil estudantes, mais ou menos, e talvez a gente tenha aí nem 5 mil almoços por dia no RU", aponta Oliveira.
Tanto o corpo estudantil como os servidores de ensino superior pretendem confrontar os cortes e bloqueios na Ufrgs. A presidente regional do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-RS), Magali Mendes de Menezes, confirma a decisão coletiva da categoria para deflagrar uma greve no dia 27 de junho. Segundo ela, a Universidade Federal do Paraná (Ufpr) e o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) já estão em greve.
"Nós temos vários cargos extintos, com cerca de 11 mil falta de vagas em concursos (para professores), e temos vagas extintas de serviços técnico-administrativos. Isso tem causado uma sobrecarga de trabalho tanto para os técnicos como para os professores, que têm assumido funções dos técnicos e, consequentemente, técnicos têm assumido mais trabalho para dar conta da sua atividade", frisa Magali.