A forma de ingresso nos cursos de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) pode ser alterada no primeiro semestre deste ano devido à pandemia. Com a impossibilidade de realização de Vestibular presencial,
suspenso ainda em maio de 2020, a seleção poderá combinar notas dos últimos concursos e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo proposta da Pró-Reitoria de Ensino (Proens) que tramita no Conselho Universitário (Consun) da instituição.
Caso a alteração seja aprovada, somente estudantes que já prestaram provas em anos anteriores poderão se candidatar às vagas. Estreantes na disputa pelo ingresso na melhor universidade federal do País, segundo avaliação do Ministério da Educação (MEC), terão de aguardar o segundo semestre, que é projetado para janeiro de 2022.
Até agora, a proposta sobre o ingresso de calouros já passou pelo Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Cepe) e pela Comissão de Legislação do Consun. A última etapa é a votação do parecer no plenário do conselho, prevista para a próxima sexta-feira (23).
O Consun é formado por mais de 70 pessoas, entre representantes de professores, estudantes, técnicos, diretores de unidades e câmaras de graduação, pós-graduação, extensão e pesquisa, além da sociedade civil. A sessão será transmitida e será aberta ao público, que poderá assistir pelo aovivo.ufrgs.br/consun/.
O primeiro semestre deste ano, que já está em abril, só começa quando os novos alunos tiverem ingressado. Atualmente, as aulas do segundo semestre de 2020 estão em andamento, e devem encerrar no dia 29 de maio. Durante junho e começo de julho estão previstos procedimentos como lançamento de notas e de conclusão de cursos e formaturas.
"Acreditamos que nas próximas duas semanas sejam resolvidas as questões referentes às avaliações deste último semestre", comenta a coordenadora geral do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Ufrgs, Ana Paula Santos. Ela adianta ainda que a universidade deve seguir com aulas no formato virtual.
"Não existe a menor possibilidade da Ufrgs voltar com aulas presenciais, uma vez que o Estado está classificado com bandeira preta", destaca.
Mudanças feitas pelo novo reitor podem adiar definição do calendário na Ufrgs
O calendário é apenas um dos itens em aberto e que vêm gerando preocupação de segmentos da Ufrgs. Conselheiros temem que a definição sobre o ingresso dos calouros seja adiada por uma polêmica que envolve mudanças que a atual reitoria quer fazer na estrutura administrativa da instituição.
Segundo um professor membro do conselho que preferiu não se identificar, "vários setores da universidade estão com funções esvaziadas ou paralisadas", por conta de alterações em denominações e funções de pró-reitorias implementadas pelo reitor, Carlos André Bulhões, logo após assumir, em setembro do ano passado, e que não teriam sido debatidas nem validadas pelo Consun.
"É uma reitoria sem legitimidade e sem capacidade de negociação e liderança na comunidade acadêmica", observa o conselheiro ouvido. "Temos um quadro bastante grave, em um contexto de pandemia, de restrições orçamentárias, onde a Ufrgs não tem recursos para a sua manutenção até o final do ano, e agora enfrenta conflitos internos", lamenta a fonte.
A posição da reitoria, que promove mudanças à revelia do Conselho Universitário, instância máxima na instituição, sequer têm apoio da vice-reitora, Patricia Pranke. A professora chegou a enviar uma nota pública ao Consun defendendo que seja respeitada a resolução (62/2021) do órgão, de março passado, que determina o retorno da estrutura original, com a dissolução em 30 dias das medidas tomadas pelo novo reitor, o que ainda não foi cumprido.
"O estatuto da Ufrgs diz que o Consun é o maior órgão de deliberação da Universidade, e o reitor tem que seguir o que é aprovado ou não ali dentro", explica Ana Paula. Ela adverte que as mudanças feitas pela nova gestão na estrutura administrativa "atrapalham muito", interferindo no andamento de toda a universidade.
"Todo este conflito pode vir a ser pauta na reunião do Conselho desta sexta-feira. Nosso receio é que isso atrapalhe ou atrase a decisão sobre o ingresso de calouros no primeiro semestre", previne ainda o docente que integra o Consun.
O maior problema de agora é que a própria Proens, que pautou a votação do sistema de ingresso de calouros, está sendo questionada, informa o estudante de História Patrick Veiga, representante dos alunos do DCE no conselho. Criada em setembro de 2020 durante a reforma administrativa de Bulhões, a Proens uniu as Pró-Reitorias de Graduação e de Pós-Graduação, explica Veiga.
Pela resolução 62/2021 do Consun, a reitoria deveria extinguir a Proens e recriar as Pró-Reitorias de Graduação e Pós-Graduação, destaca o estudante. "A ideia é que o Consun não pode ter um funcionamento normal, enquanto a administração não obedecer a última resolução. Isso vai ser debatido no dia 23, o que pode impedir a votação do parecer sobre o ingresso de calouros", admite o representante dos alunos.
Procurada pela reportagem do Jornal do Comércio, a Secretaria de Comunicação da Ufrgs disse que a instituição "não pode se manifestar sobre o teor de documentos e processos de caráter restrito, no caso, aos membros do Conselho Universitário, e que à universidade cabe divulgar as resoluções do Consun assim que forem aprovadas por maioria".