A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) anunciou nesta quarta-feira (5), através da coordenação do Epicovid19-BR, estudo que estima o número de casos de infecção por coronavírus no Brasil, a realização de uma nova etapa de entrevistas e testes rápidos entre os dias 20 e 23 de agosto em 133 cidades brasileiras.
A continuidade da pesquisa, que teve três
fases anteriores financiadas pelo Ministério da Saúde, tornou-se viável por conta de um investimento do programa Todos pela Saúde, fundo criado pelo Itaú Unibanco para apoiar o enfrentamento da Covid-19 no País em diversas frentes, como o suporte a iniciativas de pesquisa científica.
De acordo com o epidemiologista e coordenador geral do estudo, Pedro Hallal, os números de caso de infecção, internações e mortes pela doença tem se mantido altos dia após dia em todo o território nacional. “Neste momento, precisamos das melhores evidências para embasar ações, preservar a saúde e prevenir mortes evitáveis de brasileiros”, disse.
A quarta etapa seguirá a mesma metodologia das anteriores. Dois mil entrevistadores do IBOPE Inteligência voltarão às ruas no período entre 20 e 23 de agosto, a fim de visitar residências e realizar testes rápidos e entrevistas com 250 moradores de cada um dos 133 municípios. A ideia é de que nesta quarta etapa participem 33.250 pessoas.
O estudo de evolução da prevalência de infecção por Covid-19 no Brasil é a maior pesquisa populacional em andamento no mundo a estimar a prevalência de coronavírus. As três primeiras etapas, realizadas de 14 a 21 de maio, 4 a 7 e 21 a 24 de junho, entrevistaram quase 90 mil pessoas. Os dados inéditos permitiram conhecer o comportamento do vírus no País.
Para cada diagnóstico confirmado pelas estatísticas, o estudo estimou que existem ao redor de seis casos reais não notificados. De cada cem infectados, um vai a óbito. A pesquisa documentou que, em um mês, a prevalência dobrou na população: os percentuais passaram de 1,9% (1,7 – 2,1%, pela margem de erro), na primeira etapa, para 3,1% (2,8 -4,4%), na segunda, e alcançaram 3,8% (3,5 – 4,2%), na última etapa. Nesse mesmo intervalo, o distanciamento social (percentual de pessoas que ficam sempre em casa) caiu de 23,1% para 18,9%.
Os pesquisadores ainda identificaram a existência de “várias epidemias” em curso simultâneo no país, com diferenças entre as regiões brasileiras e desigualdades entre grupos étnicos e socioeconômicos. Enquanto, no Norte, 10% da população, em média, têm ou já teve coronavírus, no Sul, esse percentual está em torno de 1%. Em todas as fases da pesquisa, os 20% mais pobres apresentaram o dobro do risco de infecção em comparação aos 20% mais ricos. Além disso, indígenas tiveram um risco cinco vezes maior do que os brancos. “Mostramos que os pobres e os indígenas são os grupos mais vulneráveis, que requerem ainda mais atenção de políticas de saúde pública”, afirmou Hallal.
A pesquisa também estimou que crianças têm a mesma chance de adultos para contrair o vírus e, diferente do que cogitava inicialmente a ciência mundial, aproximadamente 90% dos casos apresentam sintomas. Os cinco mais frequentes, relatados por cerca de metade dos entrevistados com anticorpos para a Covid-19, foram dor de cabeça (58%), alteração de olfato ou paladar (57%), febre (52,1%), tosse (47,7%) e dor no corpo (44,1%). “Pessoas com perda de olfato e paladar, por exemplo, poderiam ser testadas e isoladas em caso de diagnóstico positivo, já que este sintoma foi cinco vezes mais frequente entre os casos positivos comparados aos negativos”, completou.