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Geral

- Publicada em 19 de Julho de 2020 às 19:19

'Defendo lockdown. Sou médica, quero salvar vidas', diz presidente do Clínicas

'As medidas restritivas adotadas não estão funcionando', adverte Nadine, sobre aumento de doentes

'As medidas restritivas adotadas não estão funcionando', adverte Nadine, sobre aumento de doentes


LUIZA PRADO/JC
Patrícia Comunello
A diretora presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Nadine Clausell, defende o lockdown como única medida que pode rapidamente frear a pressão sobre os leitos de UTI. Segundo Nadine, a velocidade de ocupação indica que o esgotamento chega ao fim do mês. A médica diz que é preciso olhar para dentro dos hospitais, onde heróis lutam há três meses. A medida de fechamento total, cogitada pelo prefeito Nelson Marchezan Júnior, tem oposição de segmentos empresariais.  
A diretora presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Nadine Clausell, defende o lockdown como única medida que pode rapidamente frear a pressão sobre os leitos de UTI. Segundo Nadine, a velocidade de ocupação indica que o esgotamento chega ao fim do mês. A médica diz que é preciso olhar para dentro dos hospitais, onde heróis lutam há três meses. A medida de fechamento total, cogitada pelo prefeito Nelson Marchezan Júnior, tem oposição de segmentos empresariais.  
"A sociedade precisa estar abraçada nesta causa e precisamos avançar nisso, mas não temos muito tempo", adverte Nadine, que mostra preocupação de que comece a faltar leitos e ventiladores, reproduzindo em Porto Alegre as cenas que se viu em Manaus.
O HCPA é o hospital com mais leitos exclusivos para Covid-19 e deve chegar a 105 vagas no fim do mês, que é o máximo. O esgotamento de equipes e estruturas foi relatado por médico que atua em UTI do Clínicas e Hospital Conceição. 
Quase 20 entidades ligadas ao comércio, à construção, a escolas privadas e a serviços divulgaram posição contra o lockdown neste domingo, mesmo sem dizer diretamente, e apelando para a população colaborar no isolamento. 
Jornal do Comércio - Como está a situação dentro dos hospitais?
Nadine Clausell - Vivemos um momento tenso e difícil para todo mundo. A prefeitura tem um painel que monitora o crescimento da ocupação de leitos de UTIs em Porto Alegre que confirma todas as previsões, tem um painel baseado em algoritmos que mostra que a velocidade de crescimento está sobrepassando a capacidade de leitos na Capital. A posição do Hospital de Clínicas, que tem o maior número de doentes Covid-19 e vem se preparando para isso, é que é muito claro: se não for tomado medida restritiva muito mais severa não tem como mudar o ritmo desse crescimento. Não temos nem como dizer se estamos no pico. Todo o dia a gente acha que é pico e não é. Todos os países que passaram por esta situação adotaram lockdown. Sabemos das implicações da medida, mas é preciso compreender o que está acontecendo com o setor de saúde. São dados inequívocos, verdadeiros e concretos. Não tem como ficar expandindo infinitamente, pois precisamos equipes.
JC - O quadro é de caos e colapso?
Nadine - A situação é de UTIs Covid e não Covid acima capacidade acima de 90% de ocupação. Isso é praticamente quase inaceitável do ponto de segurança e não param de chegar pacientes novos. As demandas de leitos que aparecem em uma plataforma que faz a gestão das internações estão lá. Todos os dias de manhã vemos que tem cada vez mais doentes esperando vagas, o que mostra a velocidade da pandemia em sua face mais cruel, que é o paciente que precisa desse tipo de suporte e que é finito. Estamos tentando alocar os pacientes onde possam ser tratados. Muitos se contaminam e não conseguimos fechar escalas.
VÍDEO: Presidente do HCPA fala de lockdown e do esforço das equipes nos hospitais
JC - Qual é a posição da senhora sobre o lockdown?
Nadine - Defendo o lockdown. Tenho convicção que estamos fazendo o melhor. Temos uma visão nua e crua sobre isso. Não vejo mais alternativas. As medidas restritivas adotadas não estão funcionando. Não conseguimos enxergar outra saída.
JC - O prefeito pediu para abrir mais leitos?
Nadine - Não que o prefeito peça isso, mas ele pediu (na reunião de sexta-feira) um esforço a mais, mas isto não vai resolver o problema. Tenho de estancar a sangria. Tem um limite da capacidade operacional que já estamos batendo no teto. Então, vai começar a acontecer cenas dantescas nas emergências, como de pessoas não poderem ter um ventilador. São as cenas que vimos em Manaus. Não queremos isso aqui.
JC - O Clínicas chegou no limite de leitos?
Nadine - Até o fim do mês, chegaremos em 105 leitos. E as UTIs não Covid também estão lotadas. E como ficarão os doentes com AVC, um infarto ou uma cirurgia de grande porte? Tudo isso continua acontecendo. Essas pessoas já estão sofrendo. Os hospitais estão sendo consumidos pelo Covid.
JC - E como estão as equipes?
Nadine - Lembra dos aplausos aos profissionais que fizeram no começo da pandemia? Agora é o momento de lembrar dos profissionais da saúde, porque eles são uns guerreiros. Ninguém está se dando conta que o desgaste maior é de quem está na linha de frente dentro dos hospitais. Queríamos ver mais solidariedade e palmas para os hospitais. Já são mais de três meses de luta diária. Sabe aquele desespero quando a água só sobe e não vê baixar. Precisa olhar além do número de leitos e ventiladores. As equipes de saúde são heróis totais.
JC - O lockdown pode resolver?
Nadine - Para funcionar, as pessoas têm de obedecer. Ninguém quer criar uma guerra santa. Tem de ter muito cuidado em como conduzir e precisa ter um entendimento da sociedade civil sobre a crise que estamos vivendo. Aí sim a medida será efetiva. Por que até agora não foi o que já foi tomado, como fechar parques, proibir zona azul, bloquear cartão TRI? As pessoas não estão entendendo. Sabemos que tem o cansaço e a questão econômica. Entendemos tudo isso. Fazer um lockdown para dar uma revolta civil é complicado. Precisamos sensibilizar as pessoas sobre o que está acontecendo dentro dos hospitais.
JC - A prefeitura está conseguindo dar conta dessa crise?
Nadine - O prefeito tem uma equipe muito capacitada e dedicada e se norteia pela melhor evidência. O aumento da testagem é importante. Mas é preciso que os demais setores da sociedade reforcem, como o setor produtivo e a classe política. Não discuto a posição de alguns segmentos. Defendo o lado da saúde. Sou médica e quero salvar vidas. A gente sabe onde tem de ir. Uma mortalidade alta destrói uma sociedade. O custo de reconstrução político e econômico de um caos na saúde é muito alto. É ilusão achar que proteger o setor econômico é a melhor saída. A gente tem de salvar as pessoas para depois resolver o sistema econômico. A sociedade precisa estar abraçada nesta causa e precisamos avançar nisso, mas não temos muito tempo.
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