Desde a noite de sábado, já choveu mais de 110 milímetros em Porto Alegre. Isso representa 90% da média histórica para todo o mês de julho, que é de 121 milímetros. Contabilizando todo o índice pluviométrico do início do mês até agora, já choveu 310 milímetros em Porto Alegre, ultrapassando a média histórica em 155%.
No final da tarde de ontem, representantes de todas as secretarias e órgãos municipais se reuniram para tratar das ocorrências e das medidas necessárias para atenuar os estragos. De acordo com o vice-prefeito Sebastião Melo, a Capital apresentava 55 pontos de alagamentos e arroios quase transbordando. A atenção está voltada para o dique do arroio Feijó, no bairro Sarandi.
"Temos muito medo que o dique se rompa. A Guarda Municipal está naquele local monitorando. Autorizamos agora a retirada de arbustos do local para melhorar a captação da câmera que existe lá e também a instalação de mais um equipamento para este fim", explicou.
A Defesa Civil teve conhecimento de boatos de que o dique teria se rompido. Com a notícia, famílias saíram das casas e tiveram os pertences roubados. O medo dos moradores é motivado por uma lembrança assustadora do passado. No dia 1 de setembro de 2013, o dique se rompeu, deixando 700 casas alagadas e 300 pessoas desabrigadas.
Até o final da tarde de ontem, apenas uma família, composta por três mulheres e seis crianças, precisou ser retirada de casa, nas proximidades do arroio Cavalhada, e foi abrigada por parentes. Outras famílias estão sendo monitoradas pela Defesa Civil, com possibilidade de serem retiradas dos locais que vivem. De acordo com Melo, a palavra final sobre a retirada de pessoas de suas casas é do órgão, pois os moradores não querem sair. Se houver risco eminente, o vice-prefeito ressalta que elas serão retiradas. A comunidade que vive no arquipélago continua sendo monitorada neste sentido, pois a previsão é de que a chuva continue até amanhã, parando por dois dias e retornando no fim de semana.
Ontem, o nível do Guaíba estava baixando, escoando para a Lagoa dos Patos. As réguas eletrônicas marcavam 2,1m no Cais do Porto e 1,59m na Ilha da Pintada, baixando de nível de alerta para atenção.
Na reunião, foram disponibilizados quatro caminhões para quem quiser sair preventivamente de suas casas e realizar a mudança dos pertences. "Temos transtornos na cidade de todas as ordens. São árvores caídas, falta de energia, transporte que atrasa. Entretanto, em comparação com outros municípios, estamos bem preparados. Nesta reunião, focamos na parceria entre as secretarias. Temos, por exemplo, nove retroescavadeiras entre todos os órgãos. Fizemos então uma distribuição delas nas áreas de Porto Alegre que mais necessitam, como a zona Sul", afirmou Melo. Mais de 500 servidores municipais trabalham para orientar o trânsito, limpar e desobstruir arroios e reforçar diques.
Governador decreta situação de emergência coletiva para 26 cidades
Em razão do agravamento de ocorrências em muitos municípios, pelas fortes chuvas que atingem o Estado desde o dia 13 de julho, o governador José Ivo Sartori decretou ontem situação de emergência coletiva, abrangendo inicialmente as 26 cidades mais afetadas. Novos municípios podem ser incluídos ao longo da semana. Até ontem, o Rio Grande do Sul tinha 47.271 pessoas atingidas, das quais 2.713 estão em abrigos provisórios, de acordo com a Defesa Civil.
Conforme o chefe da Casa Militar, tenente-coronel Everton Oltramari, há 63 municípios atingidos. Por meio de decreto, será instituído Gabinete de Emergência, liderado pelo vice-governador José Paulo Cairoli. De acordo com Oltramari, a Defesa Civil trabalha no levantamento de dados, e outros municípios também poderão ter situação de emergência decretada, já que a previsão é que as chuvas prossigam até amanhã.Entre as cidades mais atingidas estão Esteio, Rolante, Riozinho, Cachoeirinha, São Jerônimo, São Sebastião do Caí, Alvorada, Parobé, Portão, Barra do Guarita, Esperança do Sul, Porto Xavier, Barra do Quaraí, São Borja, Itaqui, Uruguaiana, Iraí, Pinheirinho do Vale, Cerro Grande, Montenegro, Hulha Negra, Bagé e Porto Mauá.
Em Cachoeirinha, o bairro mais afetado foi o Olaria, às margens do rio Gravataí, que está 4,7 metros acima do nível normal. A Defesa Civil do município atende as 114 famílias do local desde o início da enchente. Como o rio continuou subindo, mais famílias tiveram de sair de suas casas, fazendo com que a prefeitura disponibilizasse novos abrigos.
Outro transtorno causado pela cheia foi a interdição de meia pista na avenida Assis Brasil, junto à ponte municipal que dá acesso à cidade. A medida foi tomada pela Concepa, que liberou um acesso à cidade, pela avenida Papa João XXIII, antes da praça de pedágio de Gravataí.