Dois terços das pessoas assassinadas no Brasil são negras

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Um balanço divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que a probabilidade do negro ser vítima de homicídio é 8% maior, em todos os níveis de escolaridade e características socioeconômicas, apesar de a maior parte das vítimas ter baixa escolaridade. Trata-se de um grupo de risco, já que, a cada três assassinatos, dois são de negros. Dados apontam também que a possibilidade de um adolescente negro ser morto é 3,7 vezes maior do que um branco.
A discriminação ainda ocorre dentro das polícias. Pessoas negras são vítimas mais frequentemente de agressões por parte de policiais brancos. Segundo dados do IBGE de 2010, 6,5% de negros agredidos sofreram violência de policiais ou seguranças privados, contra 3,7% de brancos.
Segundo o diretor do Ipea, Daniel Cerqueira, mais de 60 mil pessoas são assassinadas por ano no País, e há um forte viés de cor e condição social nessas mortes. Ele apresentou levantamento que indica que as maiores vítimas de homicídios são homens jovens e negros: “Numa proporção 135% maior do que os não-negros. Enquanto a taxa de homicídios de negros é de 36,5 por 100 mil habitantes, no caso de brancos, a relação é de 15,5 por 100 mil habitantes”, ressalta. Há uma perda na expectativa de vida devido à violência letal 114% maior para pessoas negras. “Enquanto o homem negro perde 20 meses e meio de expectativa de vida ao nascer, a perda do branco é de oito meses e meio”, explica Cerqueira.
Em nível municipal, Porto Alegre possui uma alta taxa de homicídios de negros, de acordo com dados de 2010 da Secretaria Municipal da Saúde. Entre os assassinatos ocorridos, 55,03 para cada 100 mil pessoas negras e 25,89 para cada 100 mil não-negros (brancos, índios e amarelos). Os números são piores quando se trata de jovens de 15 a 29 anos. Há 133,33 mortes violentas para cada 100 mil negros e 52,62 para não-negros. A taxa de homicídio juvenil masculino é ainda mais grave, chegando a 240,76 para cada 100 mil negros contra 94,93 não-negros.
A secretária adjunta do Povo Negro, Elisete Moretto, afirma que a mortalidade tem tirado o sono da prefeitura. “No início do ano, começamos a pensar em um projeto para baixar o número de homicídios junto com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) e as secretarias de Direitos Humanos, da Juventude, da Educação e do Esporte, que deve estar concluído até 2014”, revela. Segundo ela, a população negra sofre com tudo o que se pensa em termos de exclusão social – gravidez na adolescência, falta de acesso a um pré-natal adequado, analfabetismo, baixa escolaridade, situação de rua, entre outros. Dados de 2010 indicam 225 mil negros em Porto Alegre.