A indústria têxtil e a consequente cadeia produtiva da moda são importantes pilares econômicos. Conforme a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o segmento compreende 25,3 mil empresas no País e registrou faturamento de R$ 212,6 bilhões em 2024, ante R$ 203,9 bilhões de 2023. No Rio Grande do Sul, diversas empresas do segmento atravessam décadas em constante renovação. A Rala Bela, marca focada em moda fitness e casual, está de portas abertas em Bom Princípio, município que fica a 76 km de Porto Alegre, desde 1992.
Marines Winter Luft, diretora criativa e CEO da Rala Bela, conta que o negócio surgiu a partir de uma necessidade de se colocar no mercado de trabalho. "Comecei inicialmente a empreender por ser uma necessidade de trabalho, em um momento em que as oportunidades de emprego eram limitadas. Com o tempo, descobri uma paixão tão grande pelo que fazia que isso se transformou no meu sonho e no desejo de construir meu próprio negócio", lembra a empreendedora, que iniciou a trajetória da marca com as próprias mãos. "Comecei sozinha, confeccionando peças sob medida e viajando de ônibus até Porto Alegre para adquirir tecidos e aviamentos. Nessas idas e vindas, aproveitava para oferecer meus produtos às lojas da região. Aos poucos, o negócio foi ganhando forma, e as primeiras colaboradoras que se juntaram a mim foram da minha própria família."
A marca, que ficou conhecida pelo foco no segmento fitness, surgiu produzindo peças que, hoje, têm bastante destaque no mercado: a moda casual confortável. "Desde o início, tivemos a visão de inovar, introduzindo a confecção de minicoleções de peças focadas no dia a dia, que hoje é conhecida como a moda casual comfy. Mais tarde, investimos no segmento fitness, que se tornou nosso maior foco. Com muita determinação, força de vontade e o apoio da minha família, conseguimos transformar esse sonho em uma marca sólida e de sucesso", orgulha-se.
LEIA TAMBÉM > Loja do Sebrae-RS une empreendedores de diferentes marcas locais em shopping de Porto Alegre
Hoje, a empresa de 33 anos conta com 130 colaboradores e dois pontos de produção: a fábrica matriz na cidade de origem, Bom Princípio, e uma filial de produção de costura em Barão. A produção anual da Rala Bela é de 170 mil peças, que são vendidas especialmente no modelo B2B com foco em lojas multimarcas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, além das exportações para o Paraguai. "Ainda, conseguimos atender nosso consumidor final com a nossa loja online, que entrega para todo o Brasil."
Ao longo de três décadas, o mercado de moda mudou muito com a chegada de diversas novas marcas, além da concorrência de produtos de outros países. Para manter a relevância e competitividade, a empreendedora acredita que o segredo está na relação com a clientela. "A chave é ouvir as pessoas. Moda é sobre entender o comportamento e o estilo de vida, mais do que seguir tendências. Pesquisamos as tendências, mas adaptamos à marca e ao nosso público. Prestar atenção no que as mulheres sentem, desejam e vivem ajuda a marca a se renovar e se comunicar de forma verdadeira, sem perder sua essência. Tudo isso vai além da peça de roupa, criamos uma conexão de confiança. Por isso, queremos mostrar cada vez mais tudo que está por trás da marca, principalmente as pessoas que estão por trás de cada detalhe do processo", diz Marines, que enxerga nas constantes mudanças o principal ponto de atenção para uma marca longeva. "O principal desafio é se manter relevante em meio às mudanças do comportamento do consumidor, das tendências e da própria economia. É preciso ter humildade para aprender com o mercado, ouvir as clientes e coragem para se reinventar, sempre mantendo a essência da marca", conclui.

Rala Bela, indústria de moda fitness de Bom Princípio
RALA BELA/DIVULGAÇÃO/JC
A exigência do consumidor e a própria forma de venda passaram por mudanças significativas desde 1992, pontua Marines. "Hoje, empreender em moda exige qualidade e consistência. O consumidor está cada vez mais informado, e espera autenticidade, propósito e qualidade em cada compra. Além disso, o mercado exige que as marcas sejam criativas não só no produto, mas na experiência de compra, comunicação e relacionamento. Manter isso alinhado, sem perder eficiência no operacional e controle de custos, é um desafio", garante.
Olhando para as três décadas, Marines compartilha o principal segredo para comandar um Negócio Raiz. "Muito amor pelo que faz, otimismo para encarar os desafios, dedicação para manter o foco e persistência para superar os obstáculos. É essencial lembrar que não estamos sozinhos: estamos ao lado de pessoas que compartilham o mesmo sonho e que trazem suas próprias inspirações para somar a nossa história", afirma.
Da garagem de casa à malharia de 23 mil m², Biamar é referência em malharia
Prestes a completar quatro décadas, a Biamar Malhas, de Farroupilha, é uma das referências no segmento gaúcho. O negócio familiar, criado em 1986, foi acompanhando as transformações e tendências de consumo para seguir competitivo no mercado. Suélen Biazoli, diretora de criatividade e comunicação e segunda geração à frente do negócio, acredita que o segredo para ser um Negócio Raiz está no respeito aos clientes.
A Biamar começou com os irmãos Devilda Marmentini Biazoli e Itacir Marmentini. Devilda era agricultora no interior de Farroupilha e decidiu ir para a cidade em busca de mais oportunidades. "O que ela sabia fazer era costurar. Aos poucos, começou a prestar serviços para as malharias que já existiam. Por causa da habilidade dela, uma lojista a incentivou para abrir a empresa", conta a filha da empreendedora, lembrando que a parceria da mãe com o tio foi fundamental para o negócio decolar. "Ela tinha a habilidade da criação, mas não tinha muito conhecimento sobre a questão administrativa. O meu tio, que é o irmão mais novo dela, já um pouco diferente, era técnico administrativo. Nessa época, ela construiu uma pequena coleção de produtos e essa lojista foi vender. De cara, foi um grande sucesso. A partir daí, eles registraram a empresa e começaram a crescer. Era na garagem da casa dos meus pais", conta.
Não demorou muito para que a Biamar deixasse a garagem e fosse para a rua Júlio de Castilhos, nº 2003. "Em 1989, meu pai, que era caminhoneiro, vendeu o caminhão para investir na empresa, que construiu seu primeiro prédio próprio. Nunca mudamos de endereço. Estamos no meio de um bairro residencial de Farroupilha, mas hoje são 23 mil m²", orgulha-se Suélen.
A marca, hoje, aposta na venda para lojistas, que podem comprar as peças no espaço da Biamar. "Nosso grande foco é nos lojistas à pronta-entrega. Lojistas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná vêm aqui na empresa e, quase como um supermercado, pegam um carrinho e vão se servindo de peças do nosso showrrom", explica Suélen sobre o funcionamento da marca, que lança 10 coleções por ano. Além da venda B2B, o negócio também atende o consumidor final através do e-commerce da marca, mas não descarta, no futuro, ter uma loja própria. "Temos desejo e solicitação de muitos clientes finais da marca que gostariam de ter o ponto de venda próximo. Nosso produto é muito sensorial, o toque, o olfato. Então, acho que a experiência Biamar seria muito diferente se pudéssemos passar isso. Temos que entender onde seria o melhor lugar, temos muito análises e estudos. É uma coisa que não tiramos do nosso radar", revela.
As primeiras produções da Biamar, em 1986, foram de abrigos infantis. Como os acabamentos eram feitos em tricô, em 1990, a marca migrou para o que seria o seu diferencial: as malhas. "Adquiriu-se a máquina e começaram a entender a malharia retilínea. Foi um encanto a possibilidade de transformar o fio no produto que quisesse", relata.
Suélen conta que, mesmo com o foco na malharia, o negócio, recentemente, voltou a operar também como confecção. "Hoje, são 130 teares, é muito malharia, mas, com a pandemia, lançamos novamente a confecção, trouxemos de volta o tecido para dentro da empresa, e hoje temos uma parte bem significativa", conta.
Graduada em Moda, Suélen diz que a sua história se mistura com a da Biamar, o que, para ela, é motivo de orgulho. "Falar de Biamar é falar da minha vida", define sobre o negócio, que segue familiar. "Minha mãe atua como diretora em todas as decisões, mas o lugar que mais faz ela feliz é na máquina. Ela ainda é pilotista e é uma grande artista. Ela transforma qualquer pedaço de pano em produto e coordena toda a parte de desenvolvimento. Meu tio é o CEO da empresa, responde por todas as questões. Toda a família está aqui. Apesar de hoje a empresa ser grande, ela ainda é familiar", conta sobre o negócio.
Segunda geração à frente do negócio, Suélen pondera que empreender em família é desafiador, assim como conciliar os aspectos positivos de cada geração em prol do negócio.
"A mudança geracional lida com coisas muito pessoais, a questão do envelhecimento, das mudanças de mercado. É um grande desafio mostrar que tudo que existe é graças aos esforços que foram feitos até aqui, mas que também é preciso evoluir e crescer ainda mais", reflete Suélen sobre a sucessão familiar.
Para a empreendedora, a troca entre gerações é uma oportunidade de aprendizado. "Temos a possibilidade de aprender com eles, aproveitando toda essa aptidão e disposição. Trabalhar junto requer muita humildade e muito respeito. Isso é o principal ponto de uma empresa familiar de tanto tempo que tem gerações se cruzando, com muitos desafios de mercado, de economia, de pessoas. A principal palavra é respeito. Honrar o que foi feito até aqui e entender como continuar prosperando", finaliza.
Com 39 anos de operação, a Biamar se prepara para a chegada das quatro décadas de olho nas mudanças de mercado, especialmente no perfil dos consumidores. "O nosso consumidor de 10 anos atrás ainda consome, mas muitos diferentes já estão consumindo. E o que eles querem? Então, é preciso estar atento aos movimentos geracionais, produtivos, sustentáveis", sugere a empreendedora que, para isso, circula por diferentes ambientes em busca de inspiração. "Tem que estar ligado no que está acontecendo no mundo. Voltei de viagem e estava em Milão, na semana de design, que é uma coisa de casa. Teoricamente, não tem nada a ver com a gente, mas é dali que tiramos inovação, processos. Trazer novas oportunidades e novos produtos é estar ligado no mundo, e não só na bolha têxtil."
Para o futuro, a Biamar prospecta expandir horizontes para fora da região Sul do País, além de manter a relevância frente às mudanças geracionais - questionamentos que estão na rotina da diretora de criatividade da marca. "Como vamos ter uma produção mais responsável conosco, com as próximas gerações, com o meio em que estamos? Como vamos nos reinventar todos os dias, porque hoje as coisas são muito rápidas e voláteis, e como vamos ser a Biamar sem perder os nossos valores, que são muito importantes. Acreditar nas próximas gerações e entender que o produto é algo importante na perspectiva de consumo - como fabricá-lo, entregá-lo e toda essa função de responsabilidade -, e estar antenado entregando qualidade e bom gosto", projeta Suélen.