O comportamento do consumidor e os desafios enfrentados pelo varejo passam por uma transformação profunda, impulsionada por valores emergentes como sustentabilidade, diversidade e a integração entre o físico e o digital. A partir de reflexões provocadas por especialistas de empresas como Banco do Brasil, Pandora, PwC e Renner, durante o painel Tendências do Mercado, no South Summit Brazil, nota-se que esses pilares já não são apenas estratégias de mercado – são exigências do novo consumidor e elementos estruturantes do varejo contemporâneo.
A sustentabilidade, em especial, emerge como um valor incontornável. Luciana Medeiros, sócia da PwC, trouxe dados que desmistificam uma antiga crença. “Havia um mito de que o consumidor brasileiro não se importava com sustentabilidade, mas 47% afirmam que já priorizam produtos mais sustentáveis, mesmo que tenham que pagar mais por isso.” Essa consciência atravessa todas as classes sociais e influencia diretamente a relação com as marcas.
Larissa Novais, diretora de clientes varejo do Banco do Brasil reforçou esse novo paradigma. A instituição foi reconhecida, pelo terceiro ano consecutivo, como o banco mais sustentável do planeta. “Colocamos a sustentabilidade no nosso DNA. Hoje, temos quase R$ 400 bilhões em crédito com viés sustentável. Não é discurso, é prática incorporada", relata.
Na Renner, a sustentabilidade é um pilar estratégico há anos. Fabiana Tacolla, diretora de operação da companhia, destaca que “não é porque a sigla ESG está na moda; sustentabilidade precisa ser vivida todos os dias”. A empresa é líder mundial no índice de sustentabilidade da Dow Jones entre as varejistas de moda, e 80% de seus produtos têm algum atributo sustentável. “Construímos lojas com menor uso de água, energia, materiais reutilizáveis e foco na circularidade. Isso é persistência, é cultura.”
Luciano Severo Rodembusch, presidente da Pandora na América do Norte, reforça que a sustentabilidade é uma questão de essência. “Somos uma das primeiras joalherias do mundo a usar 100% de prata e ouro reciclados, e todos os nossos diamantes são de laboratório. Refinanciamos nossa dívida com bancos europeus com taxas atreladas a metas sustentáveis”, comenta. Para ele, sustentabilidade não é sobre orçamento ou porte da empresa: “Não importa o tamanho da operação, sustentabilidade não pode ser um projeto paralelo - tem que ser cultura desde o primeiro dia”, salienta.
A transformação digital, embora acelerada, precisa vir acompanhada de um componente humano. Luciana, da PwC, observa que “o consumidor brasileiro aceita a tecnologia, mas quer manter o toque humano”. Os dados confirmam essa tendência híbrida: 36% dos que compram online retiram na loja, e 60% das trocas são feitas presencialmente. A experiência phygital já é realidade.
“O maior varejo de moda do mundo ainda é físico. Mas o digital não pode ser só para o cliente. Toda a jornada interna também tem que ser digitalizada - o colaborador precisa estar empoderado para surpreender o cliente", enfatiza Fabiana.
Luciano representa a marca de joias no Canadá e nos Estados Unidos, porém é de Camaquã, região Metropolitana de Porto Alegre. Ele destaca que empreender em qualquer lugar do mundo tem suas dificuldades, mas que empreendedores brasileiros estão acostumados a lidar com contratempos e mudanças, e isso é uma habilidade necessária em qualquer lugar, atualmente. “O brasileiro tem uma capacidade de adaptação e resiliência que o mundo admira. Quando uma porta se fecha, a gente abre uma janela. Isso, lá fora, é extraordinário.”