Sarah Oliveira
Fundada em 1982, por Antônio Guido Bratti, a Churrascaria Portoalegrense é, hoje, comandada por Ana Cristina Guido Bratti
Empreendedora está à frente de tradicional churrascaria que opera há 43 anos em Porto Alegre
Sarah Oliveira
Fundada em 1982, por Antônio Guido Bratti, a Churrascaria Portoalegrense é, hoje, comandada por Ana Cristina Guido Bratti
O empreendedorismo está em constante transformação, e parte da construção desse futuro está na participação das mulheres. De acordo com dados da pesquisa Monitor Global de Empreendedorismo 2023 (Global Entrepreneurship Monitor - GEM), elas representam mais da metade dos potenciais empreendedores no Brasil. O relatório de 2023 apontou que, dos 47,7 milhões empreendedores com intenção de entrar no mercado até 2026, 54,6% são mulheres.
Para compreender a jornada das mulheres que escolhem esse caminho, é necessário olhar para contextos que vão muito além de dados. Muitas vezes, os desafios vão desde a conservação de uma tradição até o enfrentamento de preconceitos. A história de Ana Cristina Guido Bratti é um desses casos. Hoje, ela está à frente da Churrascaria Portoalegrense, negócio que opera há 43 anos. Um clássico da capital gaúcha, o restaurante foi fundado pelo seu pai, Antônio Guido Bratti. Em 2021, com o falecimento do empreendedor, Ana assumiu o legado.
"O diferencial do meu pai era que ele era o próprio assador. Era o dono, quem cuidava de tudo. Quando ele partiu, recebi condolências do mundo todo, por ser um negócio raiz", lembra. Parte deste legado está na forma como a carne é servida. Mesmo hoje, a churrascaria mantém o modelo à la carte, uma decisão tomada por Antônio na década de 1980, quando o estilo espeto corrido se tornou popular. "Todo mundo queria rodízio. Mas ele decidiu que não iria mudar, trabalhou sempre no padrão que acreditava ser o melhor", conta. Após a despedida, Ana assumiu todas as responsabilidades, imprimindo sua visão pessoal na gestão. "Sigo a tradição dele, mas dei meu toque em tudo. Churrascaria ainda é uma coisa do mundo masculino. Trabalho com o meu pai desde novinha, mas ficava só no caixa, falando com os clientes, com as mulheres, a parte que é dita como feminina do trabalho", expressa.
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Ana Cristina está há quatro anos no comando da Churrascaria Portoalegrense, que funciona há 43 anos
EVANDRO OLIVEIRA/JC
Ela pontua que, mesmo em um negócio já consolidado, foi preciso provar sua capacidade. "É um mundo machista. No início foi muito difícil, até conquistar a clientela com o meu trabalho. 'Como ela vai fazer? Será que ela vai manter o padrão das carnes?' Eram os questionamentos. Agora isso passou, provei que eu mantive a qualidade e melhorei o negócio em muitos aspectos."
Ela ainda se orgulha do papel que desempenha na Capital. "Acho que sou a única mulher a gerenciar sozinha uma churrascaria em Porto Alegre", diz Ana, lembrando emocionada que a despedida do pai foi também um momento de passagem do bastão. "Antes do meu pai ir para o hospital, ele pegou as chaves e me disse: 'tudo contigo'. Eu decidi que iria tentar." E o preconceito foi enfrentado dia a dia. "Muitos restaurantes têm mulheres à frente, mas a diferença é essa: o churrasco. Existe a ideia de que homem assa, conhece carne", explica. A empreendedora pontua que a ausência de mais mulheres no meio advém, muitas vezes, do distanciamento imposto na prática. "São poucas mulheres que sabem fazer o fogo, que conhecem o corte da carne. Nasci nesse meio, mas ficava olhando o meu pai", diz Ana, que buscou conhecimento para mudar essa realidade. "Mas eu estudei. Hoje, conheço tudo que chega aqui."

A Churrascaria Portoalegrense fica na avenida Pará, nº 913, no bairro São Geraldo
EVANDRO OLIVEIRA/JC
Em quatro anos de gestão, os desafios foram de todas as naturezas, e a empreendedora rememora os últimos anos. "Tive o falecimento do pai em meio à pandemia e, agora sozinha, a enchente. Tudo isso aqui foi por água abaixo", diz enquanto apresenta o pátio da churrascaria. Revitalizado, o entorno do negócio conta com folhagens, árvores, muito verde e uma pequena gruta. "Retomei tudo isso muito rápido", orgulha-se. A Churrascaria Portoalegrese se destaca pelo trabalho com cortes de cordeiro, em especial a paleta. Mas Ana Cristina também trouxe novidades. "A carne chegava até a mesa no espeto, de maneira bem tradicional. Encomendei tábuas, e dei o meu toque. Agora, servimos assim, dando destaque ao visual", conta. Na cozinha, pratos foram modernizados. "Adicionei o xixo de pernil de cordeiro, um prato que não tem em nenhum outro lugar." Outro grande passo foi levar a churrascaria para o mundo digital. "Tudo isso começou a bombar na internet. Meu pai não tinha redes sociais, ele era muito tradicional", diz Ana.
Diante de tantas adversidades, ela destaca o principal do empreendedorismo feminino. "Conciliar vida profissional e pessoal. Mas, como dica, digo para manter a resiliência feminina. Os obstáculos nos levam a querer vencer e a dar volta por cima, não desistir. Continuar a acreditar em si e em seus objetivos." Brincando, ela lembra o que diria a cantora Shakira: "as mulheres não choram, as mulheres faturam", afirmando que muitas coisas boas estão por vir.

O diferencial da casa, segundo a empreendedora, está na forma de servir o churrasco
EVANDRO OLIVEIRA/JC
Endereço e horário de funcionamento da Churrascaria Portoalegrense
A churrascaria Portoalegrense fica na avenida Pará, nº 913, no bairro São Geraldo, em Porto Alegre. A operação é de segunda a quarta-feira, 11h às 14h. Nas quintas, das 11h às 14h e das 18h30min às 21h30min. Sábados, das 11h às 15h.
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Sarah Oliveira - Estagiária do GeraçãoE

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