Nesta terça-feira, 11 de fevereiro, é celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data, criada em 2015 na Assembleia Geral da ONU, tem como objetivo garantir que a inovação na ciência e a equidade de gênero andem de forma conjunta. De acordo com dados da Unesco, a porcentagem média global de pesquisadoras é de 33,3%, e apenas 35% de todos os estudantes das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática são mulheres. Os números apontam que, apesar dos avanços, ainda há muito caminho a ser trilhado rumo à equidade de gênero nas ciências e à presença de mulheres em cargos de liderança neste segmento.
Um desses exemplos é Valdirene Peressinotto, diretora executiva de inovação da Gerdau Graphene. Na companhia desde 2021, ela é responsável pela colaboração da Gerdau Graphene com diversas empresas e centros de pesquisa. A liderança de Valdirene representa um movimento da companhia. Atualmente, 27,6% das posições de liderança na Gerdau são ocupadas por mulheres, ante 17% em 2019. A meta é chegar a 30% até o fim de 2025.
Confira, abaixo, uma entrevista com Valdirene sobre a presença de mulheres no mercado das ciências e sobre os desafios de ser uma liderança feminina neste ramo.
GeraçãoE - Como foi a tua trajetória profissional até chegar em um cargo de liderança em uma das principais empresas da América Latina?
Valdirene Peressinotto - Comecei na academia, com foco na pesquisa de novos materiais de carbono, como os nanotubos de carbono e o grafeno. Após me formar em Química pela Unicamp e iniciar meu mestrado em nanomateriais de carbono no CDTN, aprofundei meus estudos nessa área, sempre buscando a conexão entre ciência aplicada e aplicação industrial. No período de 2009 a 2021, me dediquei a projetos de PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) entre empresas e grandes centros de pesquisa. No período de 2016 a 2021, tive a oportunidade de atuar na Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), coordenando dois grandes projetos, o MGgrafeno e o LabFab ITR, onde ampliei minha visão sobre inovação e desenvolvimento tecnológico no Brasil, o que me preparou para a transição de carreira do Laboratório para o mundo Corporativo.
Por fim, desde outubro de 2021 estou na Gerdau Graphene. Poucos meses após sua fundação, quando ingressei como Head da área de Pesquisa e Desenvolvimento e, em fevereiro de 2024, assumi a liderança da empresa com o cargo de Diretora Executiva e de Inovação, um desafio que me permite não só liderar a expansão da nanotecnologia e sua aplicação em larga escala na indústria, como consolidar o conhecimento que iniciei ainda nos primeiros anos de pesquisa acadêmica.
GE - O segmento da pesquisa científica é ainda muito masculinizado? Percebe uma diferença em oportunidades dadas a homens e mulheres no mercado de trabalho?
Valdirene - O segmento ainda é masculinizado, mas, atualmente, com o aumento de mulheres na graduação e pós-graduação, temos visto um movimento crescente para equilibrar as oportunidades, impulsionado tanto por políticas institucionais quanto pelo protagonismo de mulheres que conquistam cada vez mais espaço no setor, seja ele empresarial ou acadêmico.
Acredito que o setor privado tem um papel fundamental nessa transformação, com empresas promovendo iniciativas que incentivam a diversidade e estabelecendo metas concretas de inclusão em todas suas dimensões, não apenas das mulheres. Acredito que, principalmente para a inovação, um ambiente mais diverso e equitativo é o ideal para avançarmos em desenvolvimento tecnológico e industrial. Na Gerdau Graphene, buscamos ter o quadro de colaboradores o mais diverso possível, temos 56% de mulheres no quadro de colaboradores, sendo que na liderança somos 50%.
GE - Quais os principais desafios e benefícios de ser uma mulher em cargo de liderança?
Valdirene - Ser mulher em um cargo de liderança traz desafios, mas também grandes oportunidades. Por ainda sermos minoria, enfrentamos barreiras que, muitas vezes, nos fazem ser questionadas ou exigem que comprovemos constantemente nosso conhecimento. Além disso, há o desafio de equilibrar os papéis na vida pessoal e profissional. Ainda há uma cobrança muito grande da sociedade sobre o tempo que a mulher passa com a família. No entanto, ao ocuparmos posições de liderança, temos a missão e o desejo de contribuir para que outras mulheres se sintam seguras e encorajadas a buscar sua melhor versão, assumindo papéis de destaque seja no âmbito da empresa ou da vida pessoal e servindo de exemplo para futuras gerações.
GE - O número de mulheres em cargos de liderança na Gerdau subiu 10% em cinco anos. De que forma percebe que isso impacta na companhia?
Valdirene - A Gerdau, com seus 124 anos de história, destaca-se pela capacidade de se transformar e se adaptar continuamente às mudanças do mundo. Essa agilidade em responder a novas circunstâncias é essencial para o sucesso da companhia e da Gerdau Graphene. Nesse contexto, o aumento do número de mulheres em cargos de liderança reflete o compromisso real com a diversidade e inclusão, essa mudança tem um impacto significativo na companhia, trazendo uma maior diversidade de pensamento, o que é essencial para a inovação e a tomada de decisões estratégicas. Ao valorizar a diversidade como ferramenta e motor da inovação, conseguimos atrair talentos diversos e fortalecer nossa posição no mercado.
GE - Quais são as principais ações da Gerdau Graphene?
A Gerdau Graphene foi fundada pela Gerdau em 2021, como parte da vertical de tecnologia industrial e materiais avançados da Gerdau Next, o braço de novos negócios adjacentes ao aço da maior empresa brasileira produtora de aço. Somos uma startup de Deep Tech e, desde nossa criação, atuamos de forma pioneira na transformação do grafeno em soluções tecnológicas em escala industrial - um material que, até recentemente, era estudado apenas em laboratório. Por meio de parcerias em modelo de inovação aberta com centros de pesquisa, universidades e empresas, seguimos comprometidos em desenvolver soluções tecnológicas que auxiliem nossos clientes a otimizar seus processos produtivos e criar produtos, combinando ganhos expressivos de performance com uma produção mais sustentável. Como parte da Gerdau Next, compartilhamos os mesmos objetivos e metas da Gerdau, de fazer a diferença impactando positivamente nossos clientes e a sociedade.
GE - Acredita que figuras de liderança femininas estão na ponta quando falamos de intraempreendedorismo nas grandes corporações?
Valdirene - Na minha experiência, o intraempreendedorismo exige resiliência, visão estratégica e sistêmica, e a capacidade de conectar diferentes áreas para transformar boas ideias em projetos concretos. Habilidades que as mulheres desenvolvem com facilidade ao longo de sua jornada, o que corrobora com o crescente número de mulheres ocupando papel de destaque no intraempreendedorismo. Liderar a Gerdau Graphene desde seus primeiros passos tem sido um grande exemplo disso, onde uso e aprimoro todas as habilidades desenvolvidas ao longo da minha jornada. Estamos em um ambiente de inovação constante, e fomentar essa mentalidade empreendedora dentro da organização é essencial para o nosso crescimento e impacto no mercado.
GE - Quais são os principais ativos de uma liderança feminina que as corporações ainda não estão levando em consideração?
Valdirene - As lideranças femininas trazem uma série de atributos que ainda não são plenamente valorizados pelas corporações. Na Gerdau como um todo, percebo que o aumento da participação feminina em cargos de liderança é extremamente positivo e gera impactos significativos para a empresa. Na minha visão, mulheres líderes costumam ter, além da competência técnica, uma visão sistêmica do todo, uma abordagem mais empática, inclusiva e acolhedora, o que contribui diretamente para o engajamento das equipes e para a retenção de talentos. À medida que mais mulheres assumem posições estratégicas, as empresas começam a perceber que a diversidade não é apenas uma questão de representatividade, mas uma vantagem real para o negócio.
GE - Que conselho compartilharia com meninas que pensam em entrar na ciência ou com mulheres recém-chegadas a este mercado?
Valdirene - Meu principal conselho é: confiem no seu potencial, sonhem grande e sigam em frente, mesmo que os desafios pareçam enormes. Busquem oportunidades de aprendizado contínuo, construam uma boa rede de contatos e não tenham medo de ocupar espaços e não se deixem desmotivar por ambientes desafiadores. A ciência e a inovação precisam de diferentes perspectivas, e a contribuição feminina é fundamental para avançarmos ainda mais.
Valdirene Peressinotto - Comecei na academia, com foco na pesquisa de novos materiais de carbono, como os nanotubos de carbono e o grafeno. Após me formar em Química pela Unicamp e iniciar meu mestrado em nanomateriais de carbono no CDTN, aprofundei meus estudos nessa área, sempre buscando a conexão entre ciência aplicada e aplicação industrial. No período de 2009 a 2021, me dediquei a projetos de PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) entre empresas e grandes centros de pesquisa. No período de 2016 a 2021, tive a oportunidade de atuar na Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), coordenando dois grandes projetos, o MGgrafeno e o LabFab ITR, onde ampliei minha visão sobre inovação e desenvolvimento tecnológico no Brasil, o que me preparou para a transição de carreira do Laboratório para o mundo Corporativo.
Por fim, desde outubro de 2021 estou na Gerdau Graphene. Poucos meses após sua fundação, quando ingressei como Head da área de Pesquisa e Desenvolvimento e, em fevereiro de 2024, assumi a liderança da empresa com o cargo de Diretora Executiva e de Inovação, um desafio que me permite não só liderar a expansão da nanotecnologia e sua aplicação em larga escala na indústria, como consolidar o conhecimento que iniciei ainda nos primeiros anos de pesquisa acadêmica.
GE - O segmento da pesquisa científica é ainda muito masculinizado? Percebe uma diferença em oportunidades dadas a homens e mulheres no mercado de trabalho?
Valdirene - O segmento ainda é masculinizado, mas, atualmente, com o aumento de mulheres na graduação e pós-graduação, temos visto um movimento crescente para equilibrar as oportunidades, impulsionado tanto por políticas institucionais quanto pelo protagonismo de mulheres que conquistam cada vez mais espaço no setor, seja ele empresarial ou acadêmico.
Acredito que o setor privado tem um papel fundamental nessa transformação, com empresas promovendo iniciativas que incentivam a diversidade e estabelecendo metas concretas de inclusão em todas suas dimensões, não apenas das mulheres. Acredito que, principalmente para a inovação, um ambiente mais diverso e equitativo é o ideal para avançarmos em desenvolvimento tecnológico e industrial. Na Gerdau Graphene, buscamos ter o quadro de colaboradores o mais diverso possível, temos 56% de mulheres no quadro de colaboradores, sendo que na liderança somos 50%.
GE - Quais os principais desafios e benefícios de ser uma mulher em cargo de liderança?
Valdirene - Ser mulher em um cargo de liderança traz desafios, mas também grandes oportunidades. Por ainda sermos minoria, enfrentamos barreiras que, muitas vezes, nos fazem ser questionadas ou exigem que comprovemos constantemente nosso conhecimento. Além disso, há o desafio de equilibrar os papéis na vida pessoal e profissional. Ainda há uma cobrança muito grande da sociedade sobre o tempo que a mulher passa com a família. No entanto, ao ocuparmos posições de liderança, temos a missão e o desejo de contribuir para que outras mulheres se sintam seguras e encorajadas a buscar sua melhor versão, assumindo papéis de destaque seja no âmbito da empresa ou da vida pessoal e servindo de exemplo para futuras gerações.
GE - O número de mulheres em cargos de liderança na Gerdau subiu 10% em cinco anos. De que forma percebe que isso impacta na companhia?
Valdirene - A Gerdau, com seus 124 anos de história, destaca-se pela capacidade de se transformar e se adaptar continuamente às mudanças do mundo. Essa agilidade em responder a novas circunstâncias é essencial para o sucesso da companhia e da Gerdau Graphene. Nesse contexto, o aumento do número de mulheres em cargos de liderança reflete o compromisso real com a diversidade e inclusão, essa mudança tem um impacto significativo na companhia, trazendo uma maior diversidade de pensamento, o que é essencial para a inovação e a tomada de decisões estratégicas. Ao valorizar a diversidade como ferramenta e motor da inovação, conseguimos atrair talentos diversos e fortalecer nossa posição no mercado.
GE - Quais são as principais ações da Gerdau Graphene?
A Gerdau Graphene foi fundada pela Gerdau em 2021, como parte da vertical de tecnologia industrial e materiais avançados da Gerdau Next, o braço de novos negócios adjacentes ao aço da maior empresa brasileira produtora de aço. Somos uma startup de Deep Tech e, desde nossa criação, atuamos de forma pioneira na transformação do grafeno em soluções tecnológicas em escala industrial - um material que, até recentemente, era estudado apenas em laboratório. Por meio de parcerias em modelo de inovação aberta com centros de pesquisa, universidades e empresas, seguimos comprometidos em desenvolver soluções tecnológicas que auxiliem nossos clientes a otimizar seus processos produtivos e criar produtos, combinando ganhos expressivos de performance com uma produção mais sustentável. Como parte da Gerdau Next, compartilhamos os mesmos objetivos e metas da Gerdau, de fazer a diferença impactando positivamente nossos clientes e a sociedade.
GE - Acredita que figuras de liderança femininas estão na ponta quando falamos de intraempreendedorismo nas grandes corporações?
Valdirene - Na minha experiência, o intraempreendedorismo exige resiliência, visão estratégica e sistêmica, e a capacidade de conectar diferentes áreas para transformar boas ideias em projetos concretos. Habilidades que as mulheres desenvolvem com facilidade ao longo de sua jornada, o que corrobora com o crescente número de mulheres ocupando papel de destaque no intraempreendedorismo. Liderar a Gerdau Graphene desde seus primeiros passos tem sido um grande exemplo disso, onde uso e aprimoro todas as habilidades desenvolvidas ao longo da minha jornada. Estamos em um ambiente de inovação constante, e fomentar essa mentalidade empreendedora dentro da organização é essencial para o nosso crescimento e impacto no mercado.
GE - Quais são os principais ativos de uma liderança feminina que as corporações ainda não estão levando em consideração?
Valdirene - As lideranças femininas trazem uma série de atributos que ainda não são plenamente valorizados pelas corporações. Na Gerdau como um todo, percebo que o aumento da participação feminina em cargos de liderança é extremamente positivo e gera impactos significativos para a empresa. Na minha visão, mulheres líderes costumam ter, além da competência técnica, uma visão sistêmica do todo, uma abordagem mais empática, inclusiva e acolhedora, o que contribui diretamente para o engajamento das equipes e para a retenção de talentos. À medida que mais mulheres assumem posições estratégicas, as empresas começam a perceber que a diversidade não é apenas uma questão de representatividade, mas uma vantagem real para o negócio.
GE - Que conselho compartilharia com meninas que pensam em entrar na ciência ou com mulheres recém-chegadas a este mercado?
Valdirene - Meu principal conselho é: confiem no seu potencial, sonhem grande e sigam em frente, mesmo que os desafios pareçam enormes. Busquem oportunidades de aprendizado contínuo, construam uma boa rede de contatos e não tenham medo de ocupar espaços e não se deixem desmotivar por ambientes desafiadores. A ciência e a inovação precisam de diferentes perspectivas, e a contribuição feminina é fundamental para avançarmos ainda mais.