O ano de 2024 certamente será lembrado como um período de desafios e superação para os empreendedores do Rio Grande do Sul. Quando muitos estabelecimentos começavam a se recuperar de forma consistente dos impactos da pandemia de Covid-19, o Estado enfrentou uma tragédia climática em maio, que afetou cerca de 600 mil micro e pequenas empresas. Em julho, a Pesquisa de Impacto das Enchentes no RS, realizada pelo Sebrae-RS em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), revelou que 35,71% dos negócios ainda estavam fora de operação, enquanto 25,15% estavam parcialmente paralisados.
Apesar desse cenário difícil, o atual momento é de otimismo, como aponta Luiz Carlos Bohn, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae-RS. "Estamos vendo uma surpreendente retomada. Já havíamos identificado isso pelos números da Fazenda, mas agora vemos um otimismo crescente, com expectativas positivas dos próprios empreendedores, o que é muito bom", afirma.
A Pesquisa de Monitoramento de Novembro do Sebrae-RS mostrou que 47% dos empreendedores estão confiantes em relação à economia estadual, enquanto 37% acreditam que a situação permanecerá a mesma e 16% estão pessimistas.
De acordo com Bohn, os últimos meses do ano foram positivos, com aumento do consumo em geral, especialmente no setor de serviços. No entanto, ele reconhece que ainda existem desafios e consequências das enchentes. "Haverá dificuldades à frente. Muitos empréstimos precisam ser pagos e há reposição de capital que foi gasto. Antecipamos muito mais receita do que o Estado recebeu", explica.
Bohn também comenta que, no varejo, o setor de material de construção teve um grande crescimento após a enchente. Até o início do último trimestre, o consumo estava concentrado em produtos essenciais, mas, nos últimos meses, o comportamento mudou. "Agora, as pessoas começam a reposicionar suas necessidades, querem comprar algo novo, presentes de fim de ano. Isso tem impulsionado o varejo e ajudado pequenos e médios empreendedores", observa. Outro setor que tem mostrado crescimento é o de serviços e lazer (bares, restaurantes e hotéis), que costuma ser o último a se recuperar após crises, devido à necessidade de uma reserva de recursos.
O fim de ano e a temporada de verão representam oportunidades para os empreendedores que querem dar o pontapé inicial, afirma Bohn. "O empresário é criativo e busca sempre alternativas com foco no custo-benefício. Do interior ao litoral, vemos a intensificação das ações desses pequenos negócios, pois é hora de faturar", destaca. Em relação ao turismo, ele salienta que a Serra Gaúcha está experimentando uma boa retomada, especialmente nas cidades de Gramado, Canela e na região do Vale dos Vinhedos.
O levantamento de novembro do Sebrae-RS também identificou os fatores que mais impactam os negócios no último bimestre. A pesquisa mostra que 44% dos empreendedores citaram a falta de recursos financeiros como principal dificuldade, enquanto 43% apontaram a falta de clientes. Além disso, 26% dos empresários mencionaram a alta dos custos e 18% destacaram o endividamento como desafios.
Bohn salienta que, devido às enchentes, especialmente na Capital e Região Metropolitana, com destaque para Canoas e São Leopoldo, muitos negócios ainda não conseguiram se recuperar. "Na área de Mathias Velho, por exemplo, há pequenos açougues, barbearias, farmácias de bairro e padarias que não voltaram totalmente", relata, atribuindo isso à falta de crédito para esses microempreendimentos.
De acordo com ele, o Sebrae-RS mantém um programa solidário para apoiar esses negócios, mas a falta de regulamentação sobre a exigência da Certidão Negativa de Débitos (CND) tem impedido que esses empreendimentos obtenham recursos. "É uma pena, porque são negócios com grande potencial, mas esbarram na burocracia. Eles estão cumprindo suas obrigações e poderiam ser ajudados", afirma.
A situação é ainda mais difícil devido à exigência da CND. A não prorrogação do Simples Nacional, por dois meses em junho, de acordo com Bohn, fez com que muitas empresas ficassem inadimplentes e agora enfrentem dificuldades para acessar recursos. Bohn reforça que o Sebrae-RS segue pressionando por soluções, como a criação de um refis para o Simples Nacional, pois as empresas enfrentaram esse atraso devido à impossibilidade de pagamento. "Estamos também insistindo na liberação de mais recursos do Pronampe, com um aporte de mais de R$ 1 bilhão disponíveis, mas muitos desses negócios não têm a CND e não conseguiram acessar esses fundos", diz.
Ainda em relação ao clima econômico, Bohn destaca que, apesar das incertezas no grande mercado, os pequenos empreendimentos estão mais otimistas e indo bem. "Os pequenos negócios estão entusiasmados e seguem crescendo, o que é um sinal positivo para 2025", afirma.
Sobre as tendências para o próximo ano, Bohn destaca a consolidação do varejo presencial. "O varejo físico vai continuar a ter seu espaço, enquanto as vendas digitais ocupam uma fatia de 10% a 15%, dependendo da região. Isso significa que há 85% do mercado para ser disputado pelos empreendedores físicos, com muita criatividade", observa. Ele enfatiza que, mesmo para os varejos presenciais, é fundamental adotar a estratégia de home channel, integrando o uso de mídias sociais e outras plataformas digitais para atrair clientes.
Bohn também fala sobre o impacto da tecnologia, em especial a Inteligência Artificial, nos pequenos e médios negócios. "A Inteligência Artificial mais objetiva, que usa algoritmos e plataformas que já vêm com isso embutido, está sendo gradualmente incorporada pelos pequenos empreendedores", explica. De acordo com ele, o Sebrae-RS tem incentivado essas mudanças, oferecendo capacitação para que os negócios possam se adaptar e prosperar nesse novo cenário tecnológico. Entre as ações voltadas para a tecnologia, está a missão para a NRF 2025, que ocorrerá em janeiro em Nova York. A missão levará 55 empresários, incluindo pequenos empreendedores, para conhecer as tendências globais do varejo. "Essa missão tem sido um sucesso ano após ano, e em 2025 não será diferente", destaca.