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07 de Novembro de 2024 às 00:25
NEGÓCIOS
GE
Pontos tradicionais de Porto Alegre ganham vida nova com a chegada de operações de diferentes segmentos que têm como objetivo preservar e dar continuidade à história
Negócios dão novos usos para casarões históricos
Pontos tradicionais de Porto Alegre ganham vida nova com a chegada de operações de diferentes segmentos que têm como objetivo preservar e dar continuidade à história
Escolher o ponto que abrigará um negócio é, certamente, um desafio na hora de empreender. Com objetivo de preservar a história e de escrever novos capítulos em espaços icônicos da cidade, há quem opte por casarões históricos como um diferencial. Elizabeth Costa é uma das empreendedoras que acredita no potencial de espaços que fazem parte da história da Capital. Ela comanda o Cambô Gastronomia (@cambogastronomia), bistrô que ocupa a garagem de um casarão de 1930 no bairro Santana. A proposta da operação é levar alta gastronomia de forma acessível para a região.
Escolher o ponto que abrigará um negócio é, certamente, um desafio na hora de empreender. Com objetivo de preservar a história e de escrever novos capítulos em espaços icônicos da cidade, há quem opte por casarões históricos como um diferencial. Elizabeth Costa é uma das empreendedoras que acredita no potencial de espaços que fazem parte da história da Capital. Ela comanda o Cambô Gastronomia (@cambogastronomia), bistrô que ocupa a garagem de um casarão de 1930 no bairro Santana. A proposta da operação é levar alta gastronomia de forma acessível para a região.
Natural de São Paulo, Elizabeth conta que chegou a Porto Alegre para trabalhar na sua área de formação, o Direito, e acabou guinando sua carreira para a Gastronomia. Após fazer faculdade na área e passar um tempo vivenciando o tema na Espanha, ela começou a trabalhar em restaurantes de Porto Alegre com o objetivo de dominar mais frentes desse tipo de negócio para, no futuro, empreender. "Já tive outros negócios que não sabia fazer todas as etapas, e o próximo eu queria saber do início ao final. Montei um bistrô com uma outra colega, ficamos dois anos e meio em um lugar bem legal no Bom Fim. A sociedade não deu certo, mas o bistrô deu. Saí da sociedade e fui trabalhar com alta gastronomia", lembra a empreendedora, que começou a dar consultorias para outros negócios do segmento.
Com a chegada da pandemia e o término de contratos, Elizabeth começou a produzir congelados em casa. A crescente demanda levou a empreendedora em busca de um ponto para delivery e take away. Foi assim que ela chegou ao casarão de 1930 na esquina das ruas São Luís e Monsenhor Veras, no bairro Santana. "Vi esse ponto para alugar, só que é uma garagem. Coloquei paredes, para a cozinha aluguei mais um espaço, fomos aumentando, mudando. No início, a proposta era só congelados por delivery e take away, porque a ideia não era ter público. Mas o pessoal começou a pedir para comer aqui", conta. Assim, o Cambô se adaptou para receber o público. Hoje, o negócio conta com área interna e mesas distribuídas na calçada.
Transformar a garagem de um casarão histórico em um charmoso bistrô foi desafiador. A empreendedora conta que existem desafios em virtude do tipo de estrutura dos imóveis mais antigos que vão desde instalar um ar-condicionado a conseguir ter sinal de internet em virtude das paredes grossas. No entanto, ela enxerga o ponto como um dos pilares para os bons resultados do bistrô. "A esquina e a casa têm uma visibilidade. O pessoal diz que somos um presente para o bairro. A proposta do bistrô é ser pequeno, ter um contato próximo com o cliente", explica.
O cardápio conta com lanches, como sanduíches, tapiocas e wraps, pratos, saladas e sobremesas. Entre os pratos, a empreendedora conta que os risotos são a preferência da clientela. "O nosso cardápio é diferenciado e com preço superacessível. Trabalhamos com vários risotos: o de funghi, por R$ 35,90, de camarão com alho poró, por R$ 49,90, risoto de escalope de filé com cogumelo paris, por R$ 52,90", enumera Elizabeth, que considera a proposta um diferencial para a região. "Trouxe a alta gastronomia para o bairro, porque aqui a pegada é mais galeteria. Acabei trazendo para o bistrô um pessoal que não consumia no bairro", percebe.
Endereço e horário de funcionamento
O espaço opera de segunda a terça-feira, das 9h às 17h, e de quarta-feira a sábado, das 9h às 22h. Todo o cardápio está disponível em qualquer horário, ponto que a empreendedora destaca como diferencial. "Os diferenciais são a forma como tratamos o cliente, a questão do horário, da cozinha não fechar, e a qualidade da comida. É alta gastronomia em um lugar simples. Qualquer coisa aqui desde o prato que custa R$ 25,90, que é o mais em conta do cardápio, até o mais caro, que custaR$ 52,90, segue o mesmo sabor", garante Elizabeth. O Cambô Gastronomia está localizado na rua São Luís, nº 871, no bairro Santana.
Entrevista com Elizabeth, empreendedora à frente do Cambô Bistrô
EVANDRO OLIVEIRA/JC
Conheça 10 operações gastronômicas que operam em casarões históricos
Dar vida a pontos clássicos da cidade. Essa é a proposta de diversos negócios que operam em casarões históricos de Porto Alegre. Respeitando a história, mas sempre de olho na renovação, empreendedores e empreendedoras apostam em imóveis icônicos e até centenários para abrigar seus negócios. Apesar dos desafios, a escolha é um diferencial na hora de atrair a clientela.
Confira uma lista com 10 operações de gastronomia em casarões históricos de Porto Alegre.
1. Food hall no Centro Histórico
O UP Food Art é um complexo gastronômico e cultural do Centro Histórico da Capital
ANA TERRA FIRMINO/JC
No coração do Centro Histórico de Porto Alegre, o UP Food Art reúne diversas operações de gastronomia e uma agenda de entretenimento em um casarão ao lado da Casa de Cultura Mario Quintana. O local começou a operar no segundo semestre de 2023 e conta com operações de sushi, drinks, café, hambúrguer, pizza e bistrô.
• UP Food Art: Rua dos Andradas, nº 788, Centro Histórico. A operação é de terça-feira a domingo, das 11h às 23h.
2. Cafeteria no 4º Distrito
O casarão, construído em 1914, foi revitalizado para negócio
THAYNÁ WEISSBACH/JC
Operando em um casarão centenário no bairro São Geraldo, o Imperador Café une história do Brasil e cafeteria em um mesmo espaço. O casarão, construído em 1914, foi revitalizado para negócio, que abriu as portas em março. No entanto, em maio, foi atingido pelas enchentes, mas já está com as atividades normalizadas.
• Imperador Café: avenida Félix da Cunha, nº 91, bairro São Geraldo. De segunda-feira a sábado, a operação é das 12h às 20h. Aos domingos, das 14h às 19h.
3. Gastronomia belga em Porto Alegre
Carlos Fernandes e Caco Zanchi estão à frente do Antuérpia
TÂNIA MEINERZ/JC
Operando desde agosto deste ano, o Antuérpia é um bistrô e multiespaço no bairro Moinhos de Vento. O negócio é comandado pelo o chef gaúcho Caco Zanchi e pelo empresário Carlos Fernandes. Funcionando como bistrô, empório, café e galeria de arte, a operação tem forte influência da gastronomia belga, reflexo dos 22 anos em que o chef viveu na Europa, grande parte na Bélgica.
• Antuérpia: rua Félix da Cunha, nº 1143, bairro Moinhos de Vento. De terça-feira a sábado, a operação é das 11h45min às 21h. Aos domingos, das 11h45min às 18h.
O negócio fica na rua Múcio Teixeira, nº 188, no bairro Menino Deus
TÂNIA MEINERZ/JC
O Armazém Résistance nasceu da união de cinco amigos apaixonados por vinhos. Proprietários da marca Résistance Vinhos desde 2019, Evandro Krebs Gonçalves, Paulo Luiz Schmidt, Ary Marimon, Edson Lerrer e Francisco Rossal decidiram, em junho de 2023, abrir uma loja física para ter um contato maior com o consumidor final. O espaço é inspirado nos bares de Sevilla e ocupa um casarão no bairro Menino Deus. Por se tratar de um casarão com a fachada tombada, muitos dos elementos originais da construção foram mantidos.
• Armazém Résistance: rua Múcio Teixeira, nº 188, Menino Deus. A operação é de segunda a sexta-feira, das 16h às 21h.
5. Esquina clássica do Bom Fim
O Tuyo busca democratizar o consumo de vinhos
TÂNIA MEINERZ/JC
Ocupando a esquina das ruas Felipe Camarão e Vasco da Gama no bairro Bom Fim, o Tuyo tem como carro-chefe os vinhos, com a proposta de democratizar e descomplicar o consumo da bebida. Inspirado em Buenos Aires, a operação ocupa um casarão de 1940 e preserva elementos da arquitetura do espaço em sua decoração.
• Tuyo: rua Felipe Camarão, nº 268, no bairro Bom Fim. A operação é de terça-feira a sábado, das 18h30min às 23h30min.
6. Tradição gaúcha na CB
Don Dieguito fixou sua operação em um casarão na esquina das ruas Gen. Lima e Silva e Olavo Bilac
ISADORA JACOBY/ESPECIAL/JC
A Don Dieguito fixou sua operação em um casarão na esquina das ruas Gen. Lima e Silva e Olavo Bilac, no bairro Cidade Baixa. A proposta do negócio é manter viva a tradição gaúcha através da música nativista, presente em apresentações, e shows que acontecem na pizzaria.
• Don Dieguito: rua Olavo Bilac, nº 243, Cidade Baixa. O funcionamento acontece de segunda a quinta-feira, das 18h30min às 23h. Sextas e sábados a operação é até às 23h30min.
7. Novidade no Farroupilha
Rodolfo Jardim e Tiago Both são alguns dos nomes por trás da Real Fucking Burger
STÉFANI RODRIGUES/ARQUIVO/JC
Inaugurada em março de 2020, a hamburgueria artesanal Real Fucking Burger chegou ao bairro Farroupilha. O restaurante operava no bairro São Geraldo até maio, quando foi severamente atingido pela enchente. O novo ponto, na avenida Venâncio Aires, fica em um casarão histórico dos anos 1930, que possui cerca de 380 m².
• Real Fucking Burger: avenida Venâncio Aires, nº 1025, bairro Farroupilha. A operação é de terça-feira a sábado, das 18h às 23h.
8. Luta antirracista em casarão da Cidade Baixa
Luiz Roberto Bomfim Sampaio, proprietário da Griô
JAMIL AIQUEL/ESPECIAL/JC
Fundada em 2021 por Luiz Roberto Bomfim Sampaio, a Griô Burguer busca ser um reduto de exaltação e conscientização da luta antirracista e da cultura afro-brasileira em Porto Alegre. A operação ocupa um casarão histórico localizado na Cidade Baixa.
• Griô: Travessa do Carmo, nº 76, Cidade Baixa. A hamburgueria opera de terça a quinta-feira, das 17h30min às 23h30min. Sextas e sábados o funcionamento é das 17h à 1h.
Tiago Schmitz, à frente da Charlie
TÂNIA MEINERZ/JC
A quarta loja da Charlie na Capital se prepara para abrir as portas em novembro. O novo endereço, no bairro Moinhos de Vento, fica em um casarão histórico de dois andares, que abrigará empório, cafeteria e padaria. O novo espaço conta com duas casas integradas e tombadas como patrimônio histórico do município. O casarão é uma das construções que está sendo preservada na região.
• Charlie: rua Barão de Santo Ângelo, nº 212, no Moinhos de Vento.
10. Vinhos naturais no Moinhos
A Casa Vivá opera em um casarão de 540 m², construído na década de 1940
EVANDRO OLIVEIRA/JC
Reunindo um grande acervo de vinhos naturais, a Casa Vivá opera em um casarão de 540 m², construído na década de 1940. Com objetivo de aproximar o público do consumo de vinhos, a operação conta com o bar na calçada, que serve como a porta de entrada para a Casa.
• Casa Vivá: rua Barão do Santo Angelo, nº 376. A operação é de terça-feira a sábado, das 11h às 22h. Aos domingos, das 11h às 19h.
Confira as dicas dos especialistas em edifícios históricos
Em Porto Alegre, cresce o interesse de empreendimentos em utilizar edifícios históricos para suas operações. Esses locais, além de conferirem um charme único e um vínculo especial com a cidade, permitem que os negócios façam parte da cena cultural local, promovendo a preservação da história. Contudo, essa escolha envolve responsabilidades e cuidados. Os proprietários e locatários que optam por esse tipo de espaço são responsáveis pela preservação desses prédios, ajudando a manter vivas as memórias urbanas e a atratividade do entorno, beneficiando não apenas o empreendimento em si, mas toda a comunidade.
Para Rafael Passos, Superintendente Estadual do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, é essencial, antes de qualquer decisão, que o empreendedor investigue o tipo de proteção que a edificação possui. Em Porto Alegre, muitas edificações são inventariadas como imóveis de estruturação. "A proteção interessa mais à edificação e sua relação com o entorno, ou seja, a proteção da ambiência externa, não necessariamente as questões internas", explica Rafael. Isso permite que haja maior flexibilidade em intervenções internas, desde que respeitadas as regras de conservação. Ainda assim, segundo o arquiteto, o empreendedor deve buscar os órgãos de proteção para compreender as regras específicas de cada nível de proteção.
José Daniel Simões, Coordenador da Comissão Especial de Patrimônio Cultural do Conselho, reforça a importância de se entender o nível de reconhecimento patrimonial da edificação. "Uma edificação do patrimônio cultural pode ter diferentes níveis de reconhecimento: municipal, estadual ou federal", comenta José Daniel, afirmando que o nível de proteção impacta diretamente as possibilidades de intervenção. "Por exemplo, em casos de tombamento, as restrições são maiores, especialmente em relação à preservação de materialidades e estruturas originais, ao passo que os imóveis inventariados, especialmente no nível municipal, exigem a preservação principalmente das fachadas e coberturas, permitindo intervenções internas com mais liberdade".
Rafael salienta que, independentemente do nível de intervenção, é indispensável a participação de um arquiteto ou urbanista qualificado para atuar em projetos que envolvem o patrimônio cultural. Segundo ele, "é necessário que fique claro o que é o bem histórico e o que é uma intervenção contemporânea, se não a gente pode acabar caindo aí em um falso histórico", o que pode comprometer o valor cultural do imóvel. Esse cuidado evita distorções que poderiam prejudicar a autenticidade da edificação e sua contribuição ao cenário urbano.
LEIA TAMBÉM> Estudante de Porto Alegre cria sabão ecológico com óleo usado para evitar poluição da água Outro ponto relevante abordado pelos entrevistados é o papel dos empreendimentos em contribuir para a vitalidade urbana das regiões onde estão inseridos. "A vitalidade urbana depende justamente do uso das edificações que já existem, sejam elas bens culturais ou não culturais" , destaca Rafael. Ele ainda sugere que o simples ato de ocupar um espaço histórico traz benefícios à área.
Para José Daniel Simões, os empreendimentos que utilizam imóveis históricos obtêm, além de um local de operação, um diferencial de marca. "Uma pessoa que tem empreendimento vinculado a uma edificação desta, ela tem uma referência diferente, uma possibilidade de relação com a própria imagem do seu empreendimento". De acordo com ele, essa conexão com a história agrega um valor simbólico que torna o negócio mais reconhecível e relevante para o público, além de reforçar a identidade cultural da cidade.
Apesar da responsabilidade, ambos os especialistas concordam que adaptar um prédio histórico para fins comerciais não é algo impossível. "Não tem grandes mistérios, é como qualquer projeto de edificação do patrimônio ou não, embora seja preciso lidar com uma instância adicional, como a EPAHC (Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural), para aprovações", comenta José Daniel. Ele observa ainda que a manutenção pode ser menos custosa quando feita de forma contínua.
Assim, empreender em um imóvel histórico em Porto Alegre é um compromisso com a preservação da memória, mas também uma oportunidade para fortalecer o apelo do negócio e a relação do público com o patrimônio cultural da cidade. De acordo com os arquitetos, para os empreendedores dispostos a dar este passo, o retorno vai além do comercial, incluindo a satisfação de contribuir para uma cidade mais conectada às suas origens e visualmente distinta, rica em referências e significados.