Negócios da Capital têm o objetivo de aproximar a cultura do público através de iniciativas que passam pela música, artes gráficas e literatura

Empreendedores apostam no fomento da arte e da cultura em Porto Alegre


Negócios da Capital têm o objetivo de aproximar a cultura do público através de iniciativas que passam pela música, artes gráficas e literatura

Em um mundo cada vez mais acelerado e focado na produtividade, a arte pode ser um refúgio de autocuidado. É por meio dela que a humanidade expressa suas necessidades, crenças e desejos. Foi pensando nisso que empreendedores de Porto Alegre resolveram apostar no fomento de manifestações artísticas como norte de seus negócios.
Em um mundo cada vez mais acelerado e focado na produtividade, a arte pode ser um refúgio de autocuidado. É por meio dela que a humanidade expressa suas necessidades, crenças e desejos. Foi pensando nisso que empreendedores de Porto Alegre resolveram apostar no fomento de manifestações artísticas como norte de seus negócios.
O Outrahora, iniciativa criada pelos jovens empreendedores Bernardo Liz, Leonardo Marques, Marco Leal, Nicholas Mendes e Pietro Braga, é um desses projetos e tem como objetivo de diversificar a cena artística da capital gaúcha. O empreendimento se trata de um ecossistema cultural que busca dar voz a artistas locais e divulgar produções culturais mais independentes e alternativas.
O Outrahora surgiu no fim de 2016 de maneira despretensiosa. Inicialmente, era exclusivamente um portal online criado pelos amigos para debater seus álbuns, filmes e séries favoritas. Algo enfatizado pelos empreendedores é que, desde o início do projeto, o foco do Outrahora sempre foram as mídias alternativas. Assim, eles buscavam debater obras menos populares e mais focadas em um público específico.
Até 2022, o Outrora seguiu apenas como um portal focado em debater arte. Foi neste ano que Nicholas, formado em produção fonográfica, decidiu que queria ajudar músicos locais a gravarem seus discos. Ele já escrevia sobre música no portal e, em conjunto com os outros sócios, decidiu criar um novo segmento no negócio: o Outrahorarec, selo fonográfico independente focado em pequenos artistas porto-alegrenses. "Em 2022, decidimos fazer a guinada para a produção cultural. Começou com uma ideia de gravar nossos amigos e artistas que gostávamos. Tínhamos parceria com alguns estúdios de Porto Alegre e, assim, podíamos gravar", explica Nicholas.
Atualmente, o selo fonográfico conta com cinco artistas, cuidando da agenda de shows, gravação, produção e divulgação das músicas.
Outra parte relevante do empreendimento é a Outrahorastore, uma loja de vinil focada no público mais jovem. O segmento foi idealizado por Bernardo que, ao perceber que faltavam alternativas de lojas físicas que não fossem focadas nos clássicos, decidiu criar um novo braço no negócio. "Tem muita loja de discos antigos por aqui, ou lojas focadas em artistas específicos que vendem seus discos, como loja de merchandising da Beyoncé, do Harry Styles e por aí vai. Não tinha disco de música eletrônica, de rap. Vi um nicho, um lugar para que pessoas que gostam de música em geral pudessem comprar seus discos", explica Bernardo. Para tirar o projeto do papel, ele teve ajuda de sua sócia, Vitória Potrich. Segundo os empreendedores, o diferencial da Outrahorastore, além de uma curadoria focada em títulos mais alternativos, é o fato de que eles trabalham em um sistema de pronta-entrega. Ou seja, todos os produtos oferecidos estão presentes na loja, que fica no segundo andar da Fábrica do Futuro e funciona com horário marcado através do Instagram (@outrahorastore).
Um dos principais parceiros do Outrahora era bar Agulha, fechado durante a enchente. O dono do local convidou os jovens empreendedores para operarem um ponto fixo no bar. Com a parceria estabelecida, um pequeno festival, apenas com os artistas da Outraorarec, foi organizado no local. "Além de divulgar a nossa marca, o Agulha elevou o nível do que estávamos fazendo. Conseguimos nos conectar com a cidade", pondera Bernardo.
O Outrahora segue cuidando da agenda cultural de outros lugares, como Alameda Bom Fim e a Fábrica do Futuro. Com uma curadoria focada em artistas que, por vezes, passam batido no mainstream, os empreendedores passaram a organizar shows de artistas independentes. Inicialmente, o foco estava em artistas locais e brasileiros, mas, em novembro deste ano, preparam-se para receber sua primeira atração internacional no Bar Opinião. "Queremos, cada vez mais, fazer coisas maiores e melhores. Nossa força está na capacidade de entender as tendências e nos comunicarmos com o público mais jovem e descolado, mas também ter um comportamento e seriedade profissional que nos permite chegar a qualquer público", afirma Bernardo.
 

Banca de jornal com livros e artes gráficas abre no Bom Fim

A Bancaberta é um espaço pensado para fomentar a cultura em Porto Alegre e divulgar o trabalho de pequenas editoras e artistas independentes. Localizada na praça Berta Starosta, no bairro Bom Fim, a banca almeja ser um polo cultural da região, servindo como ponto de encontro entre artistas e entusiastas. Além disso, os empreendedores planejam aproveitar o espaço da praça para promover shows, lançamentos de livros e eventos culturais em geral.
O projeto foi idealizado pelos empreendedores Tito de Fraga e Samla Borges. Tito é advogado e se define como um amante das artes gráficas, e Samla trabalha em uma pequena editora da capital gaúcha. A dupla, pensando em criar um espaço de fomento à cultura focada na venda e distribuição de artes gráficas feitas por pequenas editoras e coletivos de artistas, fundou a Bancaberta. "Surgiu de uma paixão. Sou formado em direito, mas caí em um curso tradicional, porque me disseram que dava dinheiro. Amo advogar, mas a minha cabeça sempre esteve na arte. Com a banca, vi a oportunidade de fazer algo que eu amo com boa vontade e pouco dinheiro", conta Tito.
O local busca ressignificar as tradicionais bancas de revista, modelo de negócio que, segundo Tito, está defasado. Portanto, foi montada na praça uma estrutura similar às antigas bancas, porém de madeira. A criação do negócio teve como inspiração iniciativas similares em São Paulo. "Banca de jornal é um espaço público que está morrendo. Em São Paulo, está tendo um processo de revitalização das bancas. Lá, existe uma editora que comprou uma banca e fez uma revitalização, colocando à venda livros de circulação pequena. Isso me inspirou muito", lembra Tito.
Na Bancaberta, o foco está nas artes gráficas. Assim, são oferecidos produtos como livros, gravuras, zines e revistas que passam por uma curadoria feita pelos próprios empreendedores. O objetivo é ser um espaço fixo para que artistas possam expor suas artes. "Porto Alegre é a capital da arte gráfica. Tem muita feira gráfica por aqui, e tem muito artista incrível que só vende em feira. Então, queria oferecer um espaço físico para que eles pudessem vender ", explica Tito. A maioria dos itens expostos na banca é de artistas locais, além de pequenas editoras e coletivos de artistas. Quando um produto é vendido, o valor é dividido em 65% para o artista e 35% para a banca. Além do fomento à arte, Tito carrega consigo outro ideal: a ocupação de espaços públicos. Segundo os empreendedores, a praça Berta Starosta foi abandonada pela prefeitura. Assim, futuramente, Tito e Samla buscam estimular novos usos da praça, fazendo shows, lançamentos de livros, feiras, clubes de livros e muito mais. "O slogan que usamos é: ocupe uma praça. Estamos em uma praça pública e temos interesse em ocupar esse espaço, trazer arte, trazer cultura, literatura. Isso embasou muito o nosso projeto", conta Tito, que se mostra otimista com o futuro do projeto."Brinco que não temos clientes, temos admiradores. Quem entra aqui vira um fã. O pessoal fica muito feliz com a proposta e eu fico muito reconfortado por essa recepção muito bonita", orgulha-se Tito.
 

Galeria no entorno da Redenção destaca a arte autoral e independente

Criada em 2012 como um ateliê pelos empreendedores Martina Nickel e Rodrigo Marroni, a Casa Musgo busca ser um espaço democrático para o fomento da arte autoral e independente em Porto Alegre. O negócio conta com dois ateliês, um espaço para exposições artísticas e uma loja que disponibiliza produtos de artistas parceiros.  
Rodrigo e Martina são artistas que nunca mediram esforços para fomentar a cena artística local. Ele fez sua formação na Europa e ela é graduada em artes visuais pela Ufrgs. Em 2012, Rodrigo teve a oportunidade de assumir um antigo casarão situado na rua Vieira de Castro, próximo à Redenção, e lá criou um ateliê.  Com o tempo, a dupla passou a sentir necessidade de um espaço para apresentar as obras produzidas e, em 2016, criaram uma galeria dentro da Casa Musgo. O objetivo, segundo os empreendedores, sempre foi fomentar a produção artística na cidade e proporcionar um espaço de compartilhamento de produções. O espaço da galeria segue ativo, expondo trabalhos de diferentes artistas com diferentes expressões artísticas e temáticas. Novas exposições são organizadas regularmente e os projetos são selecionados através de uma curadoria feita por Martina e Rodrigo. "No início, discutíamos qual linguagem artística a galeria iria trabalhar. Acabamos optando por não trabalhar com uma linguagem específica. Então, recebemos desde o artista que é acadêmico, que tem uma linha de pensamento mais voltada para as universidades, até projetos mais focados no street art", explica Rodrigo.
Além da galeria, o espaço também conta com uma loja onde são comercializadas obras dos empreendedores, assim como as de artistas parceiros. Segundo os proprietários, esse segmento da Casa Musgo surgiu de maneira orgânica. Inicialmente, eles contavam com a parceria de um brechó e, assim, perceberam a necessidade de ter uma loja, que seria um atrativo para o empreendimento.
Assim como na galeria, a loja conta com uma grande variedade de linguagens e expressões artísticas. Outro diferencial do espaço é que, a cada venda, 70% do valor é repassado para os autores, número que, segundo os empreendedores, é maior do que o oferecido em outras lojas colaborativas. "Acabamos sendo um espaço bem variado. Apresentamos trabalhos que são mais acessíveis, mas também temos opções para a pessoa que quer buscar uma obra mais especial, que realmente quer se envolver com a arte, que está iniciando sua coleção ou que já tem uma coleção", explica Martina.
 
Por ser um ambiente amplo e iluminado, a Casa Musgo também tem espaço para receber eventos, apresentações, cursos e atividades educacionais. Essa é mais uma das ações da dupla para aproximar o público da cidade do universo das artes e transformar a Casa Musgo em um ambiente de troca de aprendizado e experiências. "Percebemos que aqui é um espaço que fura bolhas. Isso é muito legal. A gente vê uma mistura de públicos aqui: jovens, senhoras e senhores, pessoas que nitidamente frequentam espaços diferentes na cidade ficam juntos aqui. Isso é muito legal, muito positivo. Acho que assim crescemos juntos", pondera Rodrigo.

Endereço e horário de funcionamento 

A Casa Musgo está localizada na rua Vieira de Castro, n° 80, no bairro Farroupilha. O empreendimento funciona de quarta a sexta, das 14h às 18h e aos finais de semana, das 10h às 18h.