Com novas unidades e aposta em locais estratégicos da Capital, o pós-enchente é norte para negócios porto-alegrenses atingidos pelas cheias, seja pela ampliação das operações para pontos seguros ou na retomada de regiões impactadas

Negócios de Porto Alegre impactados pela enchente miram na expansão das operações

Com novas unidades e aposta em locais estratégicos da Capital, o pós-enchente é norte para negócios porto-alegrenses atingidos pelas cheias, seja pela ampliação das operações para pontos seguros ou na retomada de regiões impactadas

Os impactos e transformações da enchente de maio ainda são visíveis em Porto Alegre. Além das paredes marcadas pelo nível da água, é possível perceber, em diversos pontos da cidade, negócios fechados ou transformados pela cheia histórica. Não há, hoje, como empreender na Capital sem ter a enchente em perspectiva. Há empreendedores que migraram ou ampliaram para pontos mais seguros como medida estratégica. Já outros, justamente, apostam nas regiões atingidas em busca de oportunidades vantajosas.
Os impactos e transformações da enchente de maio ainda são visíveis em Porto Alegre. Além das paredes marcadas pelo nível da água, é possível perceber, em diversos pontos da cidade, negócios fechados ou transformados pela cheia histórica. Não há, hoje, como empreender na Capital sem ter a enchente em perspectiva. Há empreendedores que migraram ou ampliaram para pontos mais seguros como medida estratégica. Já outros, justamente, apostam nas regiões atingidas em busca de oportunidades vantajosas.
O Armazém do Mercado (@armazem_do_mercado_poa), loja de produtos para confeitaria que opera desde 2001 no Mercado Público de Porto Alegre, foi um dos diversos negócios atingidos. No entanto, a adversidade foi um gatilho de motivação: em outubro, a operação abriu as portas de sua segunda unidade, desta vez fora do tradicional ponto de varejo do Centro Histórico. O novo ponto do Armazém do Mercado fica na avenida Assis Brasil, nº 2115, no bairro Passo D'Areia, na Zona Norte da Capital. Marcelo Cavichioli, que está à frente da operação ao lado de sua esposa, Fátima Carvalhal, conta que a única alternativa no momento de dificuldade era o movimento. "Esse ponto não era planejado, mas sempre passou pela cabeça abrirmos outra unidade, mas tínhamos muito receio de abrir em outro ponto. Como temos a matriz no Mercado Público, sempre pensamos em focar no que conseguíamos fazer bem e estar bem presente para os clientes lá. Mas no momento da enchente não tinha mais volta: ou dávamos um passo para frente, tentávamos reagir, ou a gente estava contra a parede. Foi uma virada de chave", diz o empreendedor.
Além da loja, o estoque do negócio, que ficava no 4º Distrito, também foi atingido pela enchente. Foi durante a busca pelo novo espaço para abrigar o estoque do Armazém do Mercado que o segundo ponto se consolidou. Marcelo encontrou no bairro Sarandi, na Zona Norte, o espaço ideal para o estoque. Frequentando a Zona Norte, teve o insight de levar a loja para a região, atendendo a demanda da clientela. "A gente quis se aproximar mais do cliente. No pós-pandemia, o Centro nunca voltou ao normal. Temos muitos clientes da Zona Norte que compravam conosco no Centro. Muitos compravam pelo site ou pela tele-entrega e não víamos mais eles. Então, a gente quis se aproximar", explica. A receptividade, conta, foi muito positiva. "Os clientes todos, mesmo os que não são da região, vieram prestigiar a inauguração, porque temos uma clientela muito fiel e muito amiga", orgulha-se Marcelo.
O empreendedor destaca que a principal diferença entre as unidades é o espaço, já que, no Mercado Público, as lojas são menores. "No Mercado Público, e ele é gostoso por isso, é tudo apertado. Temos de tudo, mas tem que olhar nos cantinhos. Aqui, como foi uma loja que a gente escolheu, tem tudo mais exposto. É a mesma loja, prezamos muito pelo bom atendimento", afirma Marcelo, ponderando que, além da experiência de compra, o novo ponto traz segurança para o negócio frente às incertezas do futuro. "O objetivo é também ter um tipo de fuga. Não sabemos o que pode acontecer, tomara que nunca mais aconteça, mas é importante ter um ponto de fuga, até para podermos cuidar nos nossos funcionários. A gente moveu o negócio para frente por nós, mas também muito por eles. Eles pegaram junto, estiveram todo tempo do nosso lado. Reformamos a loja do centro, inauguramos aqui, e eles estiveram o tempo todo conosco. Foi fantástico", emociona-se Marcelo sobre o companheirismo dos 18 colaboradores que compõem a equipe das duas lojas.
O Armazém do Mercado começou a operar em 2001 comandado pelos sogros de Marcelo, Manuel e Zélia Carvalhal. Manuel já atuava, desde 1983, no Mercado, operando um açougue na banca que deu lugar à loja de confeitaria. Os insumos e itens para produção de doce são o carro-chefe do negócio, que também comercializa produtos naturais e suplementos alimentares. Sobre o futuro, o empreendedor não descarta novas unidades, mas com cautela. "Vamos deixar as coisas acontecerem. Isso aqui aconteceu, não era um projeto, não estava desenhado. Se se desenhar em outro lugar, vamos fortes", garante.
 

Confeitaria estreia ponto físico no Quarto Distrito

A Casa Brasileira (@acasabrasileira.poa), confeitaria especializada em doces produzidos com insumos brasileiros, é novidade no Centro Cultural Vila Flores, no 4º Distrito de Porto Alegre. O negócio é comandado por Vinícius Muller, que se aproximou da cozinha durante a pandemia de Covid-19. O engenheiro civil de 26 anos percebeu que, mais do que consumir, sua paixão era cozinhar e desbravar ingredientes tipicamente brasileiros. Assim, a Casa Brasileira surgiu como delivery de comida com insumos nacionais típicos e, agora, abriu seu ponto físico no Vila Flores.
Durante a pandemia, Vinícius descobriu o prazer de cozinhar e começou a experimentar receitas na cozinha de casa. "Gosto mais de cozinhar do que de vender", confessa. Para cuidar da parte comercial, ele chamou seu tio Eduardo, que já tinha experiência em vendas. Para a expansão para um ponto físico, a dupla convidou a mãe de Vinícius e irmã de Eduardo, Lu Muller.
Vinícius ressalta que o diferencial da Casa Brasileira é a valorização de ingredientes brasileiros, muitos deles pouco explorados no mercado local. Um dos destaques, segundo o empreendedor, é o cumaru, uma semente da Amazônia conhecida como "baunilha brasileira". Castanha de caju, jambu e butiá também são usados no cardápio. Uma das preocupações de Vinícius é evitar o uso de ingredientes ultraprocessados. No cardápio, estão brownies, cookies e tortas de massa crocante, além de empanadas e tapiocas, que atendem ao público vegano. Na linha de bebidas, a cafeteria serve cafés, chás, e refrigerantes artesanais, sem adição de conservantes ou ingredientes artificiais. Para os fãs de drinks, os coquetéis à base de cachaça, como o feito com cachaça de jambu, são a aposta.
A escolha pelo Vila Flores também foi estratégica. "Nós queríamos um espaço que fosse mais do que apenas um ponto comercial, mas que tivesse uma energia que combinasse com a essência da Casa Brasileira", explica Eduardo. Mesmo após a enchente, tio e sobrinho perceberam o potencial de revitalização da área. "Acreditamos que essa é uma oportunidade de trazer algo positivo para uma região que está se reerguendo, incentivar o retorno para o distrito criativo da cidade. Queremos fazer parte desse processo", explica Vinícius.
De acordo com os empreendedores, a escolha do Vila Flores, no entanto, não se deu somente por isso. "Estrategicamente, pensei que poderíamos procurar nos lugares que foram afetados, pois muitos estabelecimentos fecharam, então teriam muitos locais disponíveis com um aluguel barato", pontua Vinícius. Com formação na área da Engenharia Civil, o empreendedor avalia que teria condições de pensar em uma estrutura que, em caso de uma nova enchente, pudesse ser facilmente desmontada e transportada, ou mesmo que resistisse à água.
 

Banca do Mercado Público de Porto Alegre abre nova unidade no Bom Fim

Cinco meses após serem atingidos pela enchente que invadiu o Mercado Público de Porto Alegre, o Armazém do Confeiteiro (@armazemdoconfeiteiro) abriu sua primeira loja fora do Mercado. O Bom Fim abriga a segunda unidade da marca, que tem como foco principal produtos de confeitaria e produtos naturais.
Carolina Kader e seus pais, Telmo e Débora Kader, estão à frente do empreendimento. De acordo com eles, faz um mês que assumiram o novo ponto e iniciaram as reformas. Além de oferecer os mesmos itens da loja do Mercado, o novo local terá um mix de produtos mais diversificados, incluindo antepastos, sucos, chás, queijos e pães recheados. "A ideia é agregar conforme a necessidade do bairro", comenta Telmo.
A família, que está há quatro gerações no Mercado Público, pretende levar um pouco da história do local para o bairro Bom Fim. Além do sonho de expandir, a nova unidade surgiu a partir de uma necessidade e do receio de que um episódio como o de maio ocorresse novamente. O Armazém do Confeiteiro contabilizou um prejuízo de R$ 250 mil após a inundação. Segundo a família, após a tragédia, a ideia era estruturar o recomeço e pensar em novas estratégias.
Com um investimento de cerca de R$ 30 mil, a família iniciou a reforma do novo ponto. "Dessa forma, aumentamos o faturamento, ganhamos mais um canal de vendas e, no caso de outra enchente, teríamos outro estabelecimento funcionando", ressalta Carolina. Segundo a empreendedora, a partir desse movimento, a ideia é fortalecer o comércio de bairro.
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