Com foco em tornar processos mais ágeis, empresas gaúchas criam soluções usando Inteligência Artificial

Negócios gaúchos que otimizam processos através de IA ganham espaço no mercado


Com foco em tornar processos mais ágeis, empresas gaúchas criam soluções usando Inteligência Artificial

O avanço da Inteligência Artificial (IA) nos últimos anos ampliou, também, o mercado de soluções criadas a partir desse tipo de tecnologia. No Estado, diversos negócios estão focados em desenvolver soluções com IA que agilizem processos em outras empresas. A Aprix, fundada em 2018, surgiu com o propósito de otimizar o processo de precificação, inicialmente focada no setor de combustíveis. Ao longo dos anos, a empresa evoluiu e expandiu sua atuação para diversas indústrias, aplicando IA junto ao pricing. Hoje, a Aprix atende não só o setor de combustíveis, mas também segmentos de bens de consumo, como alimentos, bebidas, fertilizantes e outros produtos essenciais.
O avanço da Inteligência Artificial (IA) nos últimos anos ampliou, também, o mercado de soluções criadas a partir desse tipo de tecnologia. No Estado, diversos negócios estão focados em desenvolver soluções com IA que agilizem processos em outras empresas. A Aprix, fundada em 2018, surgiu com o propósito de otimizar o processo de precificação, inicialmente focada no setor de combustíveis. Ao longo dos anos, a empresa evoluiu e expandiu sua atuação para diversas indústrias, aplicando IA junto ao pricing. Hoje, a Aprix atende não só o setor de combustíveis, mas também segmentos de bens de consumo, como alimentos, bebidas, fertilizantes e outros produtos essenciais.
Segundo o CEO da Aprix, Guilherme Zuanazzi, a empresa tomou a decisão estratégica de expandir para além do setor de combustíveis quando percebeu que, apesar de ser um mercado robusto, com 40 mil postos no Brasil, era também bastante conservador. "Em contrapartida, outros setores, como alimentos e bebidas, mostraram-se mais abertos a novas tecnologias e com maior capacidade de investimento", afirma. Essa percepção levou a Aprix a explorar novos mercados com clientes mais dispostos a adotar inovações, especialmente em setores que lidam com commodities, onde a precificação dinâmica é crucial.
A grande transformação veio com o avanço da IA. Quando a Aprix começou suas operações, a IA ainda era um conceito remoto para muitas organizações. "Em 2018, falar de Inteligência Artificial ainda era algo distante para muitas empresas. Hoje, com a democratização dessa tecnologia, especialmente após o lançamento de soluções como o ChatGPT, ficou muito mais fácil explicar nosso produto e como ele pode ser aplicado", comenta Guilherme. A Inteligência Artificial aplicada ao pricing permite que a Aprix forneça análises detalhadas e precisas, ajustando os preços em tempo real com base em uma vasta quantidade de dados.
Contudo, a implementação de tecnologias avançadas é sempre desafiadora. Para Guilherme, a maior barreira não é a tecnologia em si, mas a adoção por parte dos usuários. "Nosso grande esforço é garantir que a interface da nossa solução seja amigável, que tenha uma boa usabilidade. No fim do dia, são seres humanos que estão interagindo com essa tecnologia, e se ela não for adaptada às suas necessidades, não será usada da forma ideal", explica. Esse foco na experiência do usuário tornou-se uma das principais estratégias da Aprix para garantir o sucesso de suas soluções.
Para facilitar essa transição, a Aprix investe em treinamentos. Desde o início do relacionamento com os clientes, a empresa se compromete em entender suas dores e ajustar o sistema de acordo com as necessidades específicas de cada negócio. "Fazemos treinamentos junto com os times dos clientes, ouvimos seus desafios e buscamos entender onde eles estão gastando tempo com tarefas operacionais que a IA pode otimizar", explica. O objetivo é claro: liberar tempo para que os profissionais possam focar em atividades estratégicas, aumentando a produtividade e o valor gerado para as empresas.
Essa abordagem tornou a Aprix popular no setor de alimentos e bebidas. "Essas indústrias são extremamente fortes no Brasil, devido à grande produção de commodities. Elas precisam de um sistema de precificação robusto e ágil, capaz de ajustar preços rapidamente conforme as variações de mercado", diz o CEO.
Além de sua capacidade técnica, a Aprix se destaca por sua cultura de inovação contínua. A cada seis meses, os sócios se reúnem para uma imersão estratégica, na qual revisam as tendências de mercado e decidem sobre novas direções. Entretanto, a inovação na Aprix não é apenas planejada, ela acontece organicamente no dia a dia. "Acreditamos que a inovação precisa fazer parte da cultura da empresa. Isso implica em permitir que as pessoas testem novas ideias, mesmo que haja o risco de falhas. A falha faz parte do processo de aprendizado, não só das pessoas, mas também do negócio", destaca Guilherme.
Esse compromisso com a inovação também é reforçado por experiências internacionais, como a recente participação do CEO em uma missão de inovação na Suécia e na Espanha, promovida pelo Centro de Inovação Brasil-Suécia. "Foi uma oportunidade incrível de trocar experiências com indústrias europeias e ver o que eles estão fazendo que ainda não exploramos no Brasil", comenta Guilherme. De acordo com ele, essas conexões globais permitem que a Aprix se mantenha à frente das inovações e das tendências tecnológicas, trazendo novas soluções e insights para o Brasil.
Com uma equipe de aproximadamente 50 colaboradores, a Aprix utiliza ferramentas tecnológicas e de IA não apenas para seus clientes, mas para gerenciar suas próprias operações internas. "Nós também somos grandes usuários de IA e outras ferramentas tecnológicas, o que nos permite ser mais produtivos internamente", ressalta o CEO.
Segundo Guilherme, outro aspecto relevante na trajetória da Aprix é o equilíbrio entre a precisão técnica de suas soluções e a usabilidade. Quando começaram, havia uma forte ênfase em melhorar a precisão dos algoritmos de IA, mas, com o tempo, a empresa entendeu que a facilidade de uso era tão importante quanto a assertividade. "Percebemos que, muitas vezes, ganhar mais 0,1% de assertividade no algoritmo não é tão relevante quanto ter uma solução que seja fácil de usar e que mais pessoas possam compreender", afirma Guilherme. Esse insight reflete uma preocupação constante em garantir que a tecnologia esteja a serviço das pessoas, facilitando o trabalho e aumentando a confiança dos usuários nas decisões tomadas pela IA. Com um portfólio de clientes composto por grandes indústrias líderes de mercado, a Aprix segue em busca de expandir os negócios. "Nosso objetivo é sempre garantir que o cliente veja valor na tecnologia que oferecemos. Se conseguirmos isso, todo o resto é consequência", conclui Guilherme.
 

A partir de IA, startup se destaca no mercado de moda e calçadista

A Aidron, fundada em 2022, é uma startup que aplica IA na gestão de estoques e em outras operações cruciais para grandes empresas, especialmente no setor varejista. O objetivo é otimizar processos, prevendo demandas, a fim de evitar problemas como ruptura de estoques ou excesso de mercadorias. A startup, que faz parte do ecossistema do Tecnopuc, em Porto Alegre, nasceu da visão do sócio-fundador, Júnior Alves, que percebeu uma lacuna entre as tecnologias disponíveis e as reais necessidades do mercado varejista. Ele decidiu, juntamente com seu sócio, Rinaldo Montalvao, criar uma solução que unisse o poder da IA com um profundo conhecimento do setor.
A trajetória que levou à criação da Aidron começa com a experiência do fundador no varejo e, posteriormente, na área de tecnologia. "Fui do varejo durante muito tempo, e decidi sair para trabalhar em empresas de tecnologia", relata Júnior, destacando sua transição de desenvolvedor e sysadmin para o trabalho em produtos digitais. Em 2018, ele foi convidado por uma grande varejista brasileira para liderar um projeto de transformação digital. Nesse papel, foi responsável por usar IA para otimizar processos internos, melhorar a eficiência de estoque e maximizar as vendas. Foi nesse período que ele percebeu um problema recorrente: muitas das soluções tecnológicas disponíveis no mercado eram desenvolvidas por empresas que não entendiam profundamente o setor varejista.
Após três anos no projeto, decidiu sair de sua posição de liderança em uma grande empresa e fundar sua própria startup. O incentivo final veio de um ex-colega, que compartilhou a visão de unir tecnologia, IA e conhecimento do varejo para criar uma solução de alto impacto.
De acordo com Júnior, a Aidron utiliza IA para detectar oportunidades que podem passar despercebidas pelos gestores. A plataforma pode identificar que um determinado produto não está vendendo bem em uma loja física, porque os consumidores estão preferindo adquirir itens similares em e-commerces internacionais. "Seu concorrente não é mais a Magazine Luiza, sua concorrente é a Shopee", exemplifica.
O fundador destaca que a adoção da IA deve ser feita de maneira consciente e alinhada ao estágio de desenvolvimento de cada empresa. Ele relaciona a popularização da IA e a era da computação nas décadas de 1980 e 1990. "Essa mesma pergunta era feita sobre computadores: 'toda empresa vai precisar ter computadores?', compara Júnior, destacando que a IA também precisa ser introduzida no momento certo em cada segmento.
Ele ressalta a importância de não adotar a IA apenas por seguir uma tendência, mas de entender como pode realmente ajudar a resolver problemas. "O grande ponto não é como devo aplicar IA no meu trabalho, mas como a IA pode tornar o meu trabalho mais produtivo", diz o fundador.
Júnior destaca que a empresa atende principalmente o setor de vestuário e calçadista, que, segundo ele, é bastante desafiador devido à complexidade no ciclo de coleções, onde as empresas precisam renovar entre 30% e 50% de seu sortimento a cada trimestre. Essa rotatividade cria uma necessidade urgente de ferramentas tecnológicas que ajudem a prever demanda e ajustar a oferta de maneira eficiente, algo que a IA pode fornecer.
Em relação a resistência a mudanças e novas tecnologias, Júnior destaca que muitas empresas não têm a tecnologia como parte central de seus negócios, o que torna mais difícil justificar investimentos em IA. "Não é que eles sejam tradicionais, é que a tecnologia está muito distante da realidade delas", comenta, usando o exemplo de um cliente do setor de postos de gasolina, onde o core business não está diretamente relacionado à tecnologia. A estratégia da empresa é criar mecanismos que tornem a adoção da IA mais acessível e menos arriscada, como oferecer o produto sem custo por três meses. Essa abordagem tem sido eficaz, de acordo com Júnior. 
 

Por dentro da IA com Fábio Beckenkamp, doutor em IA e conselheiro de startups

Fábio Ghignatti Beckenkamp é doutor em IA e conselheiro de startups. Além disso, está à frente da Smark CRM, uma plataforma de CRM na nuvem e personalizável que gerencia todo o relacionamento, da pré-venda até ao pós.
GeraçãoE - De que forma a IA pode melhorar a eficiência das operações dentro das empresas?
Fábio - Uma das coisas novas da tecnologia de Inteligência Artificial é o lançamento do GPT. Um modelo pré-treinado. Esse é o Large Language Models. Uma das coisas que ela permite fazer é reproduzir processos, fluxos de trabalho. Então, em qualquer lugar onde tu tiveres um fluxo de trabalho, esse tipo de modelo de IA é capaz de reproduzir. Tu passaS as instruções corretas para a Inteligência Artificial, para que ela saiba o que fazer naquele fluxo de trabalho específico. Então, esse é o grande pulo do gato, a grande novidade. É uma inteligência que consegue entender contexto e ter compreensão daquilo que ela foi treinada. Ela consegue, então, a partir dessa compreensão, gerar. Por isso que ela é generativa. Gerar informações em cima daquilo que ela já conhece.
 
GeraçãoE - Em relação à segurança, como é que podemos garantir que as empresas que oferecem serviço que utilizam a IA estão protegendo os dados?
Fábio - É complicado garantir. Temos muitos serviços de Inteligência Artificial na nuvem. Os principais concorrentes, hoje, são serviços na nuvem. Tu pegas uma Open AI, uma Microsoft, a Meta, várias empresas estão oferecendo serviços na nuvem para que tu possas subir teus dados e fazer teus treinamentos. Então, no momento que tu sobes os dados, tem que ser muito cuidadoso com a questão de privacidade. Existem mecanismos para fazer com que aquela IA não passe as informação para frente, para outros usuários daquela mesma estrutura. Isso pode acontecer porque tu tens uma linguagem pré-treinada com dados que estão na nuvem. Se tu entregares dados para ela, ela vai usar, de repente, no próximo treinamento. Existem modelos que tu podes baixar para fazer o treinamento em cima, dentro do teu ambiente controlado, do servidor da tua empresa. Assim, é possível garantir mais segurança, garantir que esse dados não irão sair do contexto dos servidores da tua empresa. Essa é uma forma que as grandes empresas estão fazendo.
 
GeraçãoE - Quais são os outros desafios e impeditivos relevantes na inserção dessa tecnologia?
Fábio - O primeiro impeditivo é compreensão sobre como usar essas tecnologias. Precisa de gente especializada, de gente de tecnologia, programadores, analistas, testadores, gente que consegue entender essa tecnologia e trabalhar em cima dela. Não é simplesmente sair usando um prompt do Chat. E o segundo é o projeto envolvendo Inteligência Artificial. Ele envolve trabalhar em cima dessa massa de dados, com controle, com segurança, tu precisas investir nessa fase, que é complexa. A gente vem falando antes de ciência de dados em Business Intelligence. As empresas que já vêm trabalhando com Business Intelligence, com ciência de dados, já vêm fazendo esse trabalho de organização, limpeza, tratamento dos dados tem mais chance de ter dados bem estruturados para utilização.
 
GeraçãoE - Estamos vendo que isso é uma tendência. Tu acreditas que todos negócios tenham necessidade em implementar uma IA? É algo inevitável para as empresas?
Fábio - Tudo que industrializado ou operacional está dado que a IA vai controlar. Isso já vem acontecendo com a revolução da computação há muito tempo, a robotização das coisas. O passo que a gente está dando agora é automatizar processos intelectuais, fluxos de trabalho, como eu falei. Acredito que isso é inevitável.
 
GeraçãoE - Existem startups que estão surgindo com soluções que são baseadas em IA. Tu achas que essa tendência continuará crescendo?
Fábio - Acho que sim. Não sabemos o que que vem por aí, mas a tendência é surgir coisas que a gente não tem ideia. Não sabíamos que precisávamos de um celular com tela touch, mas não sabíamos porque ainda não existia. Sabíamos que precisávamos de algo melhor, mas não sabíamos o quê. Não sabíamos o que era o melhor que viria até o momento que a tecnologia fica preparada e vem.
 
GeraçãoE - Falamos mais pela perspectiva dos empreendedores e das startups. Mas como é que essa implementação da IA pode ajudar os clientes e as pessoas que consomem esses produtos?
Fábio - Acho que vai ajudar muito o usuário. As pessoas vão se acostumar a usar, pedir tudo por voz, a falar e ter os resultados que precisam. A minha empresa, Smark CRM, é um CRM de vendas, um sistema para cadastrar clientes, cadastrar oportunidades e trabalhar essas oportunidades com seus clientes. Estamos fazendo uma IA que faz tudo por texto. Tem certas coisas de rotina que são muito trabalhosas para fazer em uma tela. Pensa em um formulário para cadastrar um cliente, com 15 campos para digitar. Tu tens que abrir o Google, fazer uma pesquisa, procurar os dados e achar esses dados para depois copiar e colar de um lugar para o outro. Esse é um trabalho que podemos fazer com IA. Então, acho que as pessoas vão usar, passando a querer só interfaces desse tipo em algum momento.